Para os portugueses, habituados a amenas temperaturas, Portugal tem estado sob uma temperatura glaciar e, nestas circunstâncias, nada melhor que umas castanhas assadas, que aquecem simultaneamente as mãos e o estômago. Quem não gosta de castanhas também pode aquecer com umas “castanhadas”.
Zeinal Bava, o ilustre ex-director executivo da Portugal Telecom e da empresa brasileira de comunicações Oi, saído da empresa com uma indemnização de 5,4 milhões de euros e condecorado recentemente pelo Presidente da República, pela “excelência da sua direcção” à frente dos destinos da nossa telefónica nacional, foi agora acusado de ter sido o responsável pelo empréstimo ruinoso de 900 milhões de euros da PT à empresa Rio Forte (do Grupo BES), agora em falência e sem capacidade para pagar as suas dívidas, quando antes, este mesmo senhor, havia afirmado nada ter a ver com o assunto.
O comportamento deste “artista” empresarial, que veio “engordar” o lote dos nossos gestores financeiros de “ponta”, entretanto caídos em desgraça, resultou em duas valentes “castanhadas”: uma, na própria empresa PT, empresa do mais alto valor tecnológico nacional e empregadora de largas centenas de trabalhadores, que agora se encontra numa situação extremamente difícil; a outra, na perda de mais de 100 milhões de euros por parte da nossa já precária Segurança Social, em virtude da queda abrupta do valor das acções da PT detidas pelo Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social.
Isto tem que dar “castanhada”!
Outra caricata situação aconteceu no fim da semana anterior, na TAP. O Governo, ansioso por privatizar tudo o que lhe for possível, antes das próximas eleições deste Outono (vamos lá a saber porquê…), chegou a um acordo com nove sindicatos da TAP para aceitarem a privatização da companhia. Um dos aspectos acordados era a impossibilidade de despedimentos colectivos na empresa, durante dois anos e meio, após a sua privatização.
O ministro da Economia e o secretário de Estado dos Transportes vieram para as televisões exorbitar o sucesso do acordo alcançado, mas afirmando que ele se aplicava apenas aos associados dos sindicatos que estiveram de acordo com o Governo.
Foi então que a “castanha lhes estalou na boca”. Então o que é isso? Mais de metade dos trabalhadores da TAP (os dos outros sindicatos e os que não estão sindicalizados) podem ir “para a rua”? A Lei Geral do Trabalho já não existe? Somos obrigados a estar sindicalizados neste país? Só quem está de acordo com o Governo é que será protegido?
Depois de tanta controvérsia e acusações de ilegalidade, o Primeiro-Ministro foi interrogado e veio a público declarar (inocentemente e como se nada tivesse a ver com o assunto) que, claro, todos os trabalhadores ficariam abrangidos pelo referido acordo.
No final, parece que só o ministro da Economia e o secretário de Estado é que engoliram a “castanha crua” porque o chefe do Governo diz não querer intervir nas privatizações.
Além de castanhas assadas também há quem goste de cozidas e outros de “piladas” que, embora duras, têm alguma piada.
Faz dois meses que José Sócrates está detido para averiguações sem acusação formada por parte do Ministério Público.
Eis finalmente que sofre a primeira acusação com provas provadas. O director da prisão onde está encarcerado o célebre recluso 44 acusou-o de ter em seu poder objectos proibidos pelas normas prisionais. Trata-se de umas botas que levou para a prisão, assim como um cachecol e um edredão do Benfica que lhe foi oferecido por um conhecido benfiquista que o visitou, o Barbas.
Ficámos no entanto sem saber se esta falta “grave” do preso não lhe dará direito a umas valentes “castanhadas”.
Quem já não pode mais com o “cheiro a castanhas” são os deputados e assessores do PSD que fazem parte da Comissão de Inquérito Parlamentar ao caso do BES. O deputado Carlos Abreu Amorim fez queixa ao presidente da Comissão que os seus colegas de partido estavam com fortes alergias e comichões fortes e ou ele mandava limpar a sala ou eles recusavam-se a trabalhar naquele lugar.
Como só foram noticiadas queixas por parte deste deputado ficamos na dúvida se tal se deve a alguma paródia carnavalesca por parte de algum dos proeminentes interrogados nesta Comissão contra os deputados da maioria, ou a algumas castanhas estragadas, ingeridas no restaurante de luxo do parlamento nacional.
Em qualquer dos casos e se não for grave aqui fica um conselho: “Vão-se coçar”!
Luis Barreira