POR QUE RAZÃO O 3º DOMINGO DO ADVENTO É DESIGNADO “DOMINGO GAUDETE”

POR QUE RAZÃO O 3º DOMINGO DO ADVENTO É DESIGNADO “DOMINGO GAUDETE”

Ode à Alegria

Segundo a liturgia do Rito Romano da Igreja Católica, o Terceiro Domingo do Advento tem lugar, normalmente, entre os dias 11 e 17 de Dezembro. A liturgia deste Domingo não pode ser substituída por outra, como acontece com todos os Domingos do Advento, da Quaresma e da Páscoa. As solenidades do dia deverão assim ser antecipadas para sábado.

Mas o que tem de especial o Terceiro Domingo do Advento? Em toda a História da Igreja, este Domingo teve sempre a designação de “Domingo Gaudete”. As tradições em torno deste Domingo remontam aos Séculos IV e V, tal como o próprio Advento. Este, como período de preparação para o Natal, era originalmente um período penitencial de quarenta dias, como a Quaresma. Como tinha o seu começo no dia 12 de Novembro (logo após a Memória de São Martinho de Tours), chamava-se “Quaresma de São Martinho”. O Domingo Gaudete tornou-se a contrapartida do Advento ao “Domingo Laetare”, que marca o tempo intermédio da Quaresma. Em ambos os Domingos (Gaudete e Laetere) há uma pausa de aligeiramento do rigor de preparação. O espírito do Ofício e da Liturgia durante todo o Advento é de expectativa e preparação para a Festa de Natal, bem como para a segunda vinda de Cristo. Os exercícios penitenciais adequados a esse espírito são, portanto, suspensos, ou mitigados, no Domingo Gaudete.

De facto, no Domingo Gaudete, o Tempo do Advento muda. Nas primeiras duas semanas do Advento tudo se poderia resumir à frase: “O Senhor está a chegar”. Mas com o Domingo Gaudete passa-se para “O Senhor está próximo”. Essa mudança é marcada por um ambiente mais leve e uma sensação de antecipação mais alegre. Do ponto de vista da liturgia, as cores nas vestes litúrgicas ficam também mais claras. O celebrante usa neste Domingo paramentos cor-de-rosa (ou roxo-claro), tonalidade vista apenas nos Domingos Gaudete e Laetare. O rosa, ou um tom mais claro do roxo, substitui o roxo-escuro, ou o preto, como antigamente. Neste dia acende-se a terceira vela da Coroa do Advento, que também é rosa. No Gaudete, tal como no Domingo Laetare, permite-se o uso do órgão e das flores, proibidos durante o resto da respectiva época litúrgica; o diácono e o subdiácono reassumirão também a dalmática e a túnica na missa principal.

Neste Domingo Gaudete, quando os instrumentos voltam a tocar, os cânticos são também mais alegres, as próprias leituras já falam com mais esperança e bondade, pois o Senhor está próximo, está quase. Ainda não se canta o Glória, pois este só será entoado pelos próprios anjos na noite de Natal, em que a Luz venceu as Trevas. O Domingo Gaudete é já uma espécie de antecipação dessa alegria, desse sentimento de exultação.

A palavra “Gaudete” significa “Alegrai-vos” em Latim. A designação deriva da primeira palavra do Introito na Missa, “Gaudete in Domino sempre”. Esta celebração é um lembrete de que Deus ama a todos, a tudo rege, aguardando-se a Sua vinda não com medo, mas com grande alegria.

Para contextualizarmos o Domingo Gaudete, há que recordar o Advento. Assim, a introdução do jejum do Advento terá começado no Século V, pois não há evidências de que o Natal tenha sido celebrado a 25 de Dezembro antes do final do Século IV: a preparação para a Festa não poderia, por isso, ter sido anterior à própria Festa. No Século IX, a duração do Advento foi reduzida para quatro semanas, sendo a primeira alusão ao período abreviado numa carta de São Nicolau I (858-867) aos búlgaros. No Século XII, o jejum foi substituído pela simples abstinência. São Gregório Magno foi o primeiro a elaborar um Ofício para o Tempo do Advento, e o Sacramentário Gregoriano é o primeiro a oferecer missas para os Domingos do Advento. Tanto no Ofício como na Missa, a provisão é feita para cinco Domingos, mas no Século X era mais usual a celebração em quatro Domingos, embora algumas igrejas de França observassem cinco até ao Século XIII.

Apesar de todas essas modificações, o Advento ainda preservou a maioria das características de um período penitencial, o que o tornou uma espécie de contrapartida da Quaresma. Por isso, o Domingo “do meio” (ou terceiro), de abrandamento do rigor, corresponde ao Domingo Laetare, ou Domingo do meio, da Quaresma.

Vítor Teixeira

Universidade Fernando Pessoa

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