A Minha Responsabilidade Social
Enquanto humano, sou um ser social, membro de uma família, de uma etnia, cidadão de uma nação e do mundo. O Outro pode ser para mim uma “coisa”, um “ninguém”, um “ele/ela”, ou um “tu” – um “vós”.
Se considero o outro como um “isso”, ou um objecto, então desumanizo-o, desrespeito-o, a ele ou ela, trato-os como “meios”. Devo considerar o outro como aquilo que ele é: uma pessoa humana, que por isso nunca deve ser transformada num objecto, num “meio”, porque ele/ela é um fim e nunca um meio (Kant).
“Nenhum homem é uma ilha”! De resto, na qualidade de cristão, não estou sozinho. Como diziam os primeiros cristãos: “Solus Christianus, nullus Christianus” – um cristão solitário não é um cristão. O cristão é também um membro da Igreja – a comunidade dos discípulos de Cristo. A Igreja é o Povo de Deus composto pelo Papa, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, e os fiéis leigos. Todos eles são iguais em dignidade, porque há um só Deus, Uno e Trino, e um só Baptismo para todos.
Se considero o Outro como um “ninguém”, então sou-lhe indiferente, e isso é desumano. Se considero o Outro como “ele ou ela”, então respeito-o na justiça, com igual dignidade e direitos, mas não o amo necessariamente. Se considero o Outro como “tu”, amo-o como membro da família humana. Como pessoa humana, ser individual e social, crente, o objectivo da minha vida é viver com os outros na justiça e no amor: viver com e para os outros. Só a verdadeira justiça e o amor compassivo me conduzem à harmonia e à paz pessoal, social e ecológica integrais – e à felicidade.
Na perspectiva religiosa, na perspectiva cristã, o Outro não é apenas um igual, mas um irmão ou uma irmã em Cristo. Cristo, Deus/Homem, é o nosso Salvador e irmão; a nossa relação com Ele é uma relação de fraternidade: somos filhos de Deus Pai, irmãos e irmãs em Jesus (Rm., 8, 12; 1 Jo., 3, 11.14; cf. Catecismo da Igreja Católica nº 1931). Cada próximo é “como um outro eu” (Vaticano II, GS, 27).
Qual é a minha responsabilidade ao viver com os outros? A minha responsabilidade fundamental é respeitar e defender os Direitos Humanos, a começar pelo fundamental: o direito à vida de cada ser humano desde o momento da concepção até à morte natural. Por isso, e com o devido respeito por todos (pelas pessoas, não pelo mal, pelo vício e pelo pecado), defendo pacificamente a vida humana contra o aborto provocado, a eutanásia, o homicídio e a pena de morte. A minha responsabilidade pela vida do Outro é defendê-la e promovê-la. Não apenas a sua vida física, mas também uma vida digna para todos no mundo.
Os Direitos Humanos, os direitos que pertencem a cada pessoa humana pelo facto de pertencer à espécie humana, incluem o direito à Educação, à Saúde Básica, à Liberdade, incluindo a liberdade de consciência e a liberdade religiosa: fazer do aborto um direito é uma espécie de ditadura, que viola o direito humano fundamental à vida e à objecção de consciência de milhões de pessoas. Tenho de ser justo e promover a justiça, de ser solidário com todos, em particular com os pobres e necessitados. Na solidariedade, tenho de trabalhar pela liberdade e pela verdade: liberdade na verdade, mas não liberdade da verdade (João Paulo II).
Todos nós queremos ser felizes. A busca da felicidade é um direito humano básico. O que me faz verdadeiramente feliz? É isto que me faz feliz e dá sentido à minha vida: tornar-me mais aquilo que sou, ou seja, tornar-me um ser humano florescente que vive com os outros e para os outros. Dizem os bispos asiáticos: “Nós, asiáticos, não procuramos apenas o sentido da vida, mas a própria vida… Falamos da vida como um devir – um crescer para dentro, uma viagem para a vida e a fonte da vida” (FABC). A vida é uma tentativa constante – e muitas vezes falhada – de nos tornarmos aquilo que somos como seres humanos e como cristãos, o que implica sermos éticos na nossa vida pessoal e social. Estou plenamente convencido, na minha mente e no meu coração, de que só fazer o bem me dá alguma felicidade e me conduz a mais felicidade. Pelo contrário, fazer o mal faz-me infeliz e leva-me a mais infelicidade.
A 5 de Outubro de 2011, Steve Jobs, fundador da Apple, faleceu. Jay Elliot, ex-vice-presidente da Apple, afirmou: «Steve era a pessoa mais ética e moral que conheci. Isso, somado à sua paixão pelos seus projectos, era uma combinação que eu nunca tinha visto antes (…). Ele nunca fez nada que não fosse próprio do mais nobre dos seres humanos». Que maravilha!
Em Outubro de 2011, a revista Forbes publicou os resultados de um inquérito realizado pela Universidade de Chicago. A principal pergunta que os pesquisadores fizeram foi: “Quem é a pessoa mais feliz?”. As respostas mais comuns foram: O mais feliz é o padre ou pastor; em segundo lugar, o bombeiro; em terceiro, o fisioterapeuta; depois, o professor de educação especial, o professor, o artista (escultor, pintor), o psicólogo, etc.
A conclusão de que, em geral, os padres/pastores são os mais felizes entre as outras profissões, confirma os resultados de muitos outros estudos sobre o mesmo tema. Os padres e pastores (a maioria?) parecem ser os mais felizes, sobretudo, talvez, devido à sua relação com Deus e com os outros, e à sua habitual paz interior. Para mim, os santos são – depois de Jesus – os seres humanos mais felizes do mundo. Como alguém disse, o maior dos seus dons [dos santos] é o sorriso, símbolo da sua alegre paz interior e exterior.
Qual é então o objectivo, o sentido da vida? É o amor, a mais alta virtude e valor, pois o amor dá sentido à nossa vida e aumenta a nossa felicidade. De facto, como escreve o grande R. Tagore, “a vida é-nos dada, e merecemo-la retribuindo-a” – aos outros, sobretudo à nossa família e amigos, e aos necessitados.
Depois de tentar responder à segunda pergunta, ou seja, quem és tu para mim, estou pronto para enfrentar a terceira e última pergunta na próxima edição: Quem é Deus para mim?