A Minha Responsabilidade Pessoal

PESSOA HUMANA: SER INDIVIDUAL, SOCIAL E RELIGIOSO – 1

A Minha Responsabilidade Pessoal

Hoje, e nas próximas duas edições, desejo reflectir convosco sobre a minha identidade enquanto criatura, ser humano, cristão e filho adoptivo de Deus. Reduzirei a minha indagação a três perguntas fundamentais e simples: Quem sou eu? Quem és tu para mim? Quem é Deus? Comecemos a nossa reflexão com a primeira pergunta: Quem sou eu?

Eu sou uma criatura no universo. Sou um ser ecológico, parte do universo. Deus é o meu Criador e, por isso, devo ser uma criatura responsável que respeita e cuida da maravilhosa criação de Deus, a nossa casa comum, uma marca espectacular de Deus. Como imagem de Deus, o Ser Humano tem um domínio relativo sobre a Natureza. Este domínio, para ser verdadeiro, tem de ser um domínio cuidadoso e grato, um domínio humilde e penitente: “E o homem, que não passa de um grão da tua criação, quer louvar-Te” (Santo Agostinho).

Posso ser parcialmente culpado da deterioração do Ambiente, consequência talvez da minha deterioração interior: “A devastação do ambiente natural manifesta inexoravelmente a devastação do mundo interior do homem contemporâneo” (A. Auer). Não esqueço as palavras do teólogo L. Boff: “A espécie mais ameaçada do mundo são os pobres”.

Eu sou um ser humano. Sou diferente dos outros seres vivos e dos animais irracionais. Pertenço à espécie humana. Sou um indivíduo, corpo-alma, diferente dos outros indivíduos. Sou uma pessoa, isto é, um ser racional: com corpo para sentir, inteligência para compreender e vontade para querer e amar livremente. Como pessoa, estou aberto a outras pessoas humanas e à Criação. Sou um ser religioso intimamente ligado a Deus como meu Ser Supremo, meu Criador e meu Pai através do seu Filho Jesus no Espírito.

Como ser humano, tenho uma consciência pessoal que me diz que a minha felicidade se encontra radicalmente no bem e a minha responsabilidade fundamental é formar bem e obedecer à minha consciência, que me diz o que fazer, isto é, fazer o bem; e o que não fazer, isto é, evitar e combater o mal.

Sou cristão, crente em Jesus Cristo, o Filho de Deus e de Maria, Deus/Homem, minha vida e meu tudo. Ele está sempre a dizer-me: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida» (Jo., 14, 6). Ser cristão significa estar em Cristo, ou seja, ser uma nova criatura (cf. 2 Cor., 5, 17). Jesus Cristo veio ao mundo para que todos tenhamos vida – e vida em abundância (cf. Jo., 10, 10) – e continua a dar-nos vida pelo Espírito (cf. Jo., 3, 5). A vida que Cristo trouxe e continua a trazer para mim – para nós – é a vida da graça, que é uma participação limitada, mas real na própria natureza de Deus, e que inicia a vida eterna na terra: Jesus desceu para que todos “tenham a vida eterna” (cf. Jo., 3, 16; 1 e Jo., 5, 11-12). A minha vida está enraizada na graça, praticada nas virtudes e testemunhada no amor: amor a Deus, amor a mim próprio, amor ao próximo e amor à criação de Deus.

Qual é o objectivo da minha vida? O objectivo é procurar a felicidade, ser feliz, que é a forma de dar glória a Deus. O que dá sentido à minha vida? Preciso de dinheiro: é útil, mas a felicidade está noutro lugar. Posso gostar do poder, mas geralmente o poder corrompe, a não ser que seja usado virtuosamente para servir os outros. Posso gostar do prazer, mas se o prazer for prejudicial para mim ou para os outros, não pode ser a fonte da minha felicidade. Procuro o conhecimento e percebo a ajuda da ciência e da tecnologia, mas estas podem ser bem ou mal utilizadas: só se forem eticamente utilizadas podem ajudar-nos a ser e a melhorar a nossa felicidade. Na Filosofia e na Teologia clássicas, só a verdadeira sabedoria, as virtudes, sobretudo o amor, podem tornar-nos verdadeiramente felizes nesta vida.

Para um crente, Jesus é o ícone da vida e a pessoa mais feliz que passou pela terra. Blaise Pascal diz: “Ninguém é tão feliz como o cristão autêntico”. Assim, a minha vida humana, a vida frágil e ferida de uma pessoa humana, pode ser verdadeiramente uma vida feliz: uma peregrinação para o céu pelo caminho do Senhor Jesus Crucificado e Ressuscitado, que nos ama incondicionalmente.

O que é realmente a felicidade? A felicidade é um outro nome para o amor. No nosso mundo imperfeito, a felicidade é esperança: esperança de que o amanhã será melhor. E será, se eu percorrer hoje – e todos os dias – o caminho da verdade, da liberdade, da justiça e do amor. Nesta vida, o amor autêntico dá sentido à minha vida, em particular o amor de Jesus na minha alma.

A minha humanidade e a minha fé pedem-me que cuide da vida no universo, em particular da minha própria vida. Como ser humano, tenho direito à vida e a responsabilidade de a cuidar. Sou, portanto, contra o suicídio. Sou uma pessoa humana, um ser humano com grande dignidade. Sou também um ser humano ferido – e um pecador. Afinal, o que é que eu tenho que não tenha recebido (cf. 1 Cor., 4, 7) – de Deus, da família e dos amigos? Perceber a minha constante necessidade de Deus e dos outros torna-me – deve tornar-me – humilde!

Uma última pergunta: Quem é o homem para Jesus Cristo? Para Jesus Cristo, “o homem é um ser cuja grandeza consiste na sua abertura e oferta a Deus e aos irmãos, e cuja destruição provém do facto de se fechar no seu próprio egoísmo. Para Ele, ser homem é amar” (J. L. Martin Descalzo). Em cada pessoa humana, o cristão vê um filho ou uma filha d’Aquele que quer ser chamado “Pai nosso” (cf. Catecismo da Igreja Católica nº 2212). Todos os seres humanos são, portanto, minhas irmãs e meus irmãos.

A segunda pergunta: Quem sois vós para mim?

Pe. Fausto Gomez, OP

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