Afrates, “o sábio persa”: a oração leva à caridade

PAIS DA IGREJA (37)

Afrates, “o sábio persa”: a oração leva à caridade

Jesus Cristo havia enviado os seus apóstolos a pregar o Evangelho a todo o mundo. Por isso, a Fé não se difundiu apenas entre os povos de língua grega e latina. Chegou a lugares que ainda não tinham sido influenciados pela cultura grega, lugares onde se falavam as línguas semíticas. O termo “Semita” vem de “Sem”, o nome de um dos três filhos de Noé (cf. Génesis 5-11), e foi cunhado, no Século XVIII, para designar as línguas estreitamente relacionadas com o Árabe, o Aramaico e o Hebraico.

“Estas Igrejas, ao longo do século IV, desenvolvem-se no Próximo Oriente, da Terra Santa ao Líbano e à Mesopotâmia. Naquele século, que é um período de formação a nível eclesial e literário, estas comunidades conhecem o afirmar-se do fenómeno ascético-monástico com características autóctones, que não sofrem a influência do monaquismo egípcio. Portanto, as comunidades sírias do século IV representam o mundo semítico do qual saiu a própria Bíblia, e são expressão de um cristianismo cuja formulação teológica ainda não entrou em contacto com correntes culturais diversas, mas vive em formas próprias de pensamento. São Igrejas nas quais o ascetismo sob várias formas eremíticas (eremitas no deserto, nas cavernas, isolados, estilitas), e o monaquismo sob formas de vida comunitária, exercem um papel de vital importância no desenvolvimento do pensamento teológico espiritual” (Papa Bento XVI, Audiência Geral de 21 de Novembro de 2007).

Tal como encontramos escritores entre os gregos e os latinos, também os encontramos entre os sírios. O mais importante destes escritores é Afrates, que era de origem iraniana e foi chamado o “Sábio Persa”. Ele próprio escreveu que os seus pais eram pagãos, mas que mais tarde se converteu ao Cristianismo, após o que “abraçou a vida religiosa e foi mais tarde elevado ao episcopado, ocasião em que assumiu o nome cristão de Jacob” (https://newadvent.org/cathen/01593c.htm).

Afrates “escreveu 23 discursos com o nome de Exposições ou Demonstrações, nos quais trata diversos temas de vida cristã, como a fé, o amor, o jejum, a humildade, a oração, a própria vida ascética e também a relação entre judaísmo e cristianismo, entre Antigo e Novo Testamento. Escreveu num estilo simples, com frases breves e paralelismos por vezes contrastantes; conseguiu, contudo, estabelecer um discurso coerente com um desenvolvimento bem articulado dos vários temas que tratou” (Audiência Geral de 21 de Novembro de 2007).

As primeiras quatro demonstrações são sobre a Fé, a Caridade, o Jejum e a Oração. Isto revela-nos o que estava em primeiro lugar na mente de Afrates: “A fé torna possível uma caridade sincera, que se exprime no amor a Deus e ao próximo. Outro aspecto importante em Afrates é o jejum, que por ele é entendido em sentido amplo. Ele fala do jejum dos alimentos como de uma prática necessária para ser caritativo e casto, do jejum constituído pela continência em vista da santidade, do jejum das palavras vãs ou detestáveis, do jejum da cólera, do jejum da propriedade de bens em vista do ministério, do jejum do sono para se dedicar à oração” (Audiência Geral de 21 de Novembro de 2007).

Afrates reafirmou também os Ensinamentos da Igreja, como a virgindade perpétua de Nossa Senhora e o seu papel de Mãe de Deus, o papel de São Pedro como fundamento da Igreja e a Doutrina dos Sacramentos.

“No que diz respeito à Sagrada Eucaristia, Afrates afirma que ela é o verdadeiro Corpo e Sangue de Cristo. Na sétima ‘Demonstração’ trata da penitência e dos penitentes, e representa o sacerdote como um médico encarregado de curar as feridas de um homem. O pecador deve dar a conhecer ao médico as suas enfermidades para ser curado, ou seja, deve confessar os seus pecados ao sacerdote, que está obrigado a guardar segredo. Devido às numerosas citações da Sagrada Escritura utilizadas por Afrates, os seus escritos são também muito valiosos para a história do cânone da Sagrada Escritura e da exegese na Igreja primitiva da Mesopotâmia” (https://www.newadvent.org/cathen/01593c.htm).

Relativamente à oração, Afrates diz que o seu objectivo é fazer habitar Cristo no coração, e que esta presença de Cristo leva a praticar a caridade.

“Aliviar os aflitos, visitar os doentes,

ajudar os pobres: isto é a oração.

A oração é boa e as suas obras são belas.

A oração é aceite quando dá alívio ao próximo.

A oração é ouvida quando inclui o perdão das afrontas.

A oração é forte quando está cheia da força de Deus” (Exposições 4, 14-16)

Pe. José Mario Mandía

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