«Macau poderia organizar um campeonato do mundo».
Começou tarde na modalidade, tomou-lhe o gosto e sagrou-se campeão mundial de tiro com besta medieval. É este o percurso desportivo do português Pedro Runa, que insta Macau e a República Popular da China a investirem na modalidade, até porque se trata de uma arma de invenção chinesa. Pela primeira vez no território, o também especialista em soluções tecnológicas viajou com o propósito de abrir a janela de oportunidades para a empresa Ping WLT.
O CLARIM – É campeão mundial de tiro com besta medieval 3D, na categoria open. Conquistou os títulos individual e por equipas, no ano passado, em Idanha-a-Nova…
PEDRO RUNA – O campeonato foi co-organizado em Junho pela WCSA [World Crossbow Shooting Association], federação com sede na Austrália, e pela Federação de Arqueiros e Besteiros de Portugal. O próximo será daqui a dois anos.
CL – Como surgiu esta paixão?
P.R. – Surgiu há quatro anos por intermédio de um amigo que me desafiou a fazer tiro com arco. Experimentei e adorei. Faço agora tiro com arco clássico, ou seja “long bow”, e com besta moderna, desportiva e medieval. Comecei a praticar as duas modalidades, e como entretanto surgiu esta hipótese de treinar mais assiduamente para o mundial de 2016, inscrevi-me e fui campeão.
CL – Competiu em 3D. Que diferenças há entre esta e as restantes classes?
P.R. – O campeonato do mundo foi disputado nas classes de tiro com besta moderna com mira e de besta medieval sem mira. Esta última à imagem do que se fazia, por exemplo, no século XII. Ou seja, pura e dura como antigamente. No mundial as distâncias não eram conhecidas, tornando-se num factor de dificuldade acrescida.
CL – Quais são as especificidades da sua classe?
P.R. – As distâncias podem variar entre os 35 e os 50 metros, em campo aberto, com 28 alvos dispersos no meio da floresta, feitos em modelos 3D de tamanho real, por exemplo com a forma de um veado ou de um javali. Temos direito a um tiro por alvo. Já nos modelos 2D podemos disparar para um alvo com a imagem de um animal ou para um círculo, como estamos habituados a ver [na televisão, no tiro com arco].
CL – Que sensações tem ao competir?
P.R. – É fantástico fazer o que se fazia antigamente, mas sem matar animais. Os animais são 3D, bonecos de borracha, pintados, perfeitos na forma. Ao longe parecem animais reais. Temos um determinado período de tempo para dar um, dois ou três tiros, dependendo da especialidade, e vamos ser avaliados mediante o número de tiros certeiros no coração ou no centro do alvo. Se fosse numa situação real de caça eu mataria o animal. Mas como é um desporto moderno, adaptado, no qual não é permitido lesar qualquer tipo de animais, temos bonecos 3D em tamanho real com o formato de aves, panteras, ursos, veados, javalis…
CL – Quanta vezes treina por semana?
P.R. – Pratico a modalidade três vezes por semana no Futebol Clube de Alverca. O clube tem atiradores de várias categorias – arcos modernos, olímpicos, e atiradores com arcos clássicos de madeira. No meu clube sou o único atirador de besta medieval. Em Portugal há poucos e no mundo são algumas dezenas de atiradores. É uma especialidade englobada na família do tiro com arco.
CL – Que tipo de apoios consegue numa modalidade com pouca visibilidade em Portugal?
P.R. – Em Portugal há duas federações: a Federação de Tiro com Arco e a Federação de Arqueiros e Besteiros de Portugal [FABP], que se baseia nas regras da WCSA e tem como presidente o doutor Francisco Camacho. Quanto a apoios do Estado à FABP, não são os ideais, mas esta nova direcção da Federação está a fazer um esforço notável para suportar todas as provas com a qualidade desejada. O Estado reconhece a Federação como entidade pública, a melhoria é evidente, mas há muito caminho a trilhar. Julgo que vamos chegar lá.
CL – E a autarquia de Vila Franca de Xira?
P.R. – Reconhece o Futebol Clube de Alverca e apoia os clubes [do seu raio de acção]. Se tudo correr bem, o clube irá num futuro próximo organizar mais provas da Federação na vertente “indoor” e “outdoor”, contando com o apoio da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira.
CL – Qual é a próxima grande competição que pretende disputar?
P.R. – Em princípio será o campeonato europeu no próximo ano, possivelmente na Hungria. Ainda não tenho apoios…
CL – Qual é o seu orçamento anual?
P.R. – Gasto uma média de três mil e 500 euros [31 mil 470 patacas], com deslocações, estadias em hotéis, combustível e material desportivo. Quando há competições internacionais, são mais dois mil ou três mil euros.
CL – O tiro com besta medieval poderá ter adesão em Macau?
P.R. – Acredito que sim. Macau, ou a República Popular da China, poderia organizar um campeonato do mundo. Na China [continental] existe o tiro olímpico, dado que [o País] é uma grande referência nas competições mundiais. Mas quanto ao tiro com besta, desconheço. No último mundial não houve atletas chineses. E é pena, até porque a besta é uma invenção chinesa.
OPORTUNIDADES EMPRESARIAIS EM MACAU (CAIXA)
Pela primeira vez em Macau, Pedro Runa termina na próxima segunda-feira a viagem de uma semana ao território, onde veio «ministrar workshops» da empresa Ping WLT, liderada pelo engenheiro Pedro Cabral, com o objectivo principal de «apresentar várias soluções de software e serviços inovadores de cariz empresarial». Além disso, veio conhecer melhor os hábitos empresariais locais e saber de que forma a empresa poderá desenvolver as suas soluções tecnológicas na RAEM. «Estamos neste momento em Portugal, estabelecemo-nos há pouco tempo em Macau e marcamos também presença em Espanha», disse Pedro Runa, engenheiro e consultor de pré-vendas da Ping WLT, acrescentando que «o sonho é expandir a actividade para outros países», nomeadamente na Ásia, servindo Macau como «janela de oportunidades».
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com