Património português no Golfo Pérsico

O apelo do académico

Mohamed Said Nasser Al-Wahaibi, o mais alto responsável pelo Departamento de História do Ministério da Cultura e Património do Omã, apela a que se estreitem os laços entre portugueses e omanitas, através do estudo das suas relações sociais e consanguíneas, e desafia os investigadores nacionais a estudarem o legado deixado no Golfo Pérsico pelos nossos antepassados há cinco séculos. Este catedrático de Mascate esteve em Portugal por duas ocasiões, e conhece bem alguns eruditos portugueses, caso do professor Dias Farinha, seu amigo pessoal.

Al-Wahaibi diz-se impressionado com a abundância de documentação da Torre do Tombo e lembra que no Golfo Pérsico não só existem vestígios de arquitectura militar, como também imensas palavras de origem portuguesa e comunidades de luso-descendentes, disseminadas um pouco por toda a região, com maior incidência na zona montanhosa, já em território dos Emirados Árabes Unidos, vizinha à península de Mussandão, no Estreito de Ormuz.

Os fortes São João e Capitão são verdadeiros ex-líbris da capital do Omã. Os nomes actuais – Jalali e Mirani – correspondem aos apelidos dos chefes militares persas que a conquistaram aos portugueses. No sopé do forte Mirani ergue-se um edifício branco, a “betel-greja”, que serve hoje propósitos administrativos. Situava-se aí uma das duas igrejas de Mascate, como se pode confirmar na carta desenhada em Seiscentos. A designação “greja” ficou, apesar de o templo ter desaparecido há muito. O mapa antigo retrata ainda vários pelourinhos e os torreões que os estrategas portugueses semearam pelas montanhas escarpadas, na altura ainda com algumas árvores, e que os cartógrafos da época tiveram o cuidado de incluir nos seus trabalhos.

Muitas dessas fortalezas eram pré-fabricadas – em areia, adobe e pedra – na costa de África, em Mombaça, Zanzibar, Pemba, e depois transportadas para o Golfo Pérsico. A região está cheia delas: o forte de Barca, de Doba, de Mada, de Lebedia, de Quelba. O de Fujeira, no Emirado com o mesmo nome. Os fortes de Kansab e Kuzmar, já na península de Mussadão.

Se porventura algumas destas estruturas não são de construção portuguesa, há sempre um ou outro episódio ligado ao nosso passado. É o caso do forte de Al-Hazm, que possui cinco canhões capturados aos portugueses, com o símbolo da coroa “reunificada” do tempo dos Filipes gravada no ferro. Também o forte da antiga capital Nizwa, que levou treze anos a ser erguido, tem no seu interior muitos dos despojos obtidos numa batalha contra os portugueses, ocorrida na praça-forte de Diu.

Joaquim Magalhães de Castro

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