Olhando em Redor

Má imagem

Na manhã da passada segunda-feira tive a desagradável surpresa de suportar um cheiro nauseabundo assim que entrei num autocarro da Transmac, na Avenida do Ouvidor Arriaga.

Não sei se era urina, ou se algum passageiro viajava com um durião escondido, mas a verdade é que o cheiro intenso causou-me imediata repulsa. O interior da viatura também não estava apresentável, sendo disso exemplo o acumular de sujidade nas esquinas das portas e na segunda metade do veículo.

Já não é a primeira vez que me deparo com situações lamentáveis nas carreiras da Transmac e da TCM, por sinal a operarem no sector há várias décadas. Pelo contrário, por ironia do destino, nunca tive razões de queixa quanto à higiene dos autocarros da ex-Reolian, actual Nova Era.

As duas operadoras mais antigas de transportes públicos de autocarros estão a prestar um mau serviço à RAEM, porque as respectivas frotas carecem de renovação urgente e o asseio no interior das viaturas deixa, por vezes, muito a desejar.

A Transmac, a TCM e a Nova Era transportam diariamente, não só milhares de residentes locais, como também um número considerável de turistas, facto que por si só implica que qualquer situação relacionada com falta de higiene esteja a pôr em causa a imagem do território, que pretende ser uma cidade internacional e um centro mundial de turismo e de lazer.

Macau está longe de atingir a excelência neste seu propósito, em muito devido aos saloios que directa, ou indirectamente, estão a transformar um território com pouco mais de trinta quilómetros quadrados num lugar cada vez menos acessível e aprazível à classe média aqui residente (no fundo, o grosso da população).

Por outro lado, é pena que o anterior Governo tivesse tido pouco tacto ao lidar com o processo de renovação dos contratos com as operadoras do sector, a ponte do Comissariado contra a Corrupção ter considerado ilegais os contratos de prestação de serviços, até 2018, da Transmac e da TCM.

No mês passado, o novo Governo, por intermédio do secretário Raimundo do Rosário, emendou a mão, ao anunciar que deverá ser assinado até ao final do ano um novo contrato com a TCM que respeite a lei, enquanto no caso da Transmac ainda não havia acordo.

Num “Estado de Direito”, no qual se baseia o sistema jurídico da RAEM, não pode imperar a ilegalidade e muito menos devem os responsáveis por actos que lesam o interesse público passar incólumes entre os pingos da chuva.

Também não tenho nada contra a Transmac, nem contra a TCM. Sou apenas refém do mau serviço que prestam, tal como são milhares de cidadãos e turistas.

 

Bom exemplo

Nos últimos cinco anos houve taxistas, por mim apelidados “garimpeiros do volante”, com comportamentos a todos os níveis reprováveis, tais como a recusa de transporte, a escolha de clientes, a cobrança abusiva de tarifas, o optar por trajectos mais longos, a negociação de preço, a condução perigosa, a má conduta e o facto de os passageiros não conseguirem chegar ao destino pretendido.

O anterior Governo mostrou-se durante muito tempo incapaz de resolver o problema, ao seguir o caminho da inércia, em vez de tomar medidas para combater tamanha pouca vergonha.

E quando as denúncias nos Órgãos de Comunicação Social e nas plataformas sociais (com o “Facebook” à cabeça) começaram a ganhar contornos preocupantes, foi então que o Governo decidiu ter pulso firme em relação aos infractores, ao avançar com a revisão da legislação em vigor e ao reforçar a fiscalização. De nada serviu o facto de alguns “chico-espertos” tentarem fazer “lobby” de modo a pressionarem o Governo a não ser tão duro com o sector.

E o que observo agora? O comportamento dos taxistas melhorou, na sua generalidade, porque sou menos confrontado com estratagemas para me “sacarem” mais algumas patacas (recuso-me sempre a pactuar com tais situações), aumentou a boa educação (dialogo mais com os taxistas por iniciativa deles) e o serviço, de certa forma, tem sido satisfatório. Contudo, tal não significa que tenham desaparecido as desprezíveis “ovelhas negras”.

A ilação que retiro é simples: quando o Governo põe de lado aquela irritante atitude permissiva é a população em geral quem fica a ganhar e não apenas determinados sectores da sociedade. É por isso que o Governo nunca deve ceder a pressões, nem deixar de ter personalidade própria. Caso contrário, no mínimo, ficará na História pelos piores motivos.

 

Dúvidas

Em menos de um mês aconteceram duas mortes suspeitas no Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ). A 19 de Fevereiro foi um bebé com cinco meses de idade, após ter recebido tratamento no Centro de Urgências Pediátrico devido a vómitos. Há dias foi uma mulher de 78 anos, na sequência de um suposto ligeiro acidente vascular cerebral. Os casos estão a ser alvo de investigação policial.

Quando Alexis Tam assumiu a pasta dos Assuntos Sociais e Cultura prometeu melhorias consideráveis nos Serviços de Saúde. Não são ainda conhecidas as conclusões das mortes suspeitas, mas há duas coisas que Tam precisa saber: 1 – A população não pode ter desconfiança do CHCSJ. 2 – A qualidade dos serviços prestados no referido hospital, especialmente nas consultas externas, é por vezes deprimente. Convém fazer algo, e depressa!

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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