«Queremos reforçar as relações com a comunidade lusa de Macau».
O Club Lusitano vive tempos de mudança. A direcção liderada por Patrick Rozario tem vindo a adaptar-se à nova realidade das comunidades lusófonas de Macau e Hong Kong, estando as portas da agremiação abertas a futuros sócios. No rol de prioridades está o reforço das relações oficiais e pessoais com Macau, e uma presença constante em iniciativas que tenham como objectivo perpetuar a herança portuguesa no mundo.
O CLARIM – Há quanto tempo está à frente dos destinos do Club Lusitano e o que tem mudado desde então?
Patrick Rozario – Há quase dois anos que sou presidente do Club Lusitano. Estou a cumprir o segundo mandato. Este é um clube muito antigo, com muitas tradições. Decidimos manter a sua característica étnica, enquanto clube português. A comunidade portuguesa e macaense tem decrescido em Hong Kong. Para continuarmos a sobreviver temos que caminhar em vários sentidos. Há a antiga comunidade macaense de Hong Kong e a nova geração que é culturalmente muito diversificada – muitos nem sequer têm um nome dos seus antepassados – e que assimila outras culturas. São australianos, canadianos, ingleses e chineses, mas têm raízes dos seus antepassados. Queremos trazê-los para o Clube. Há também a nova comunidade de portugueses expatriados que trabalha e vive em Hong Kong, e a comunidade de portugueses expatriados que trabalha e vive em Macau, mas que vem com frequência a Hong Kong. Sei de muitos advogados portugueses que vêm duas a três vezes por semana; deviam tornar-se sócios e frequentar e utilizar as instalações do Club Lusitano. Há ainda uma comunidade mais diversificada que engloba brasileiros, que têm antepassados portugueses, assim como outras pessoas de Angola, Moçambique e da Austrália que formam uma grande família lusófona. Queremos que todos venham e troquem experiências. Para já estamos a melhorar a comida e vamos ter uma nova biblioteca.
CL – O que é necessário para ser sócio do Club Lusitano?
P.R. – É muito fácil. Curiosamente, Hong Kong permite a existência de clubes étnicos e nós queremos manter essa característica. Apenas é preciso ter descendência portuguesa. Temos alguns membros chineses, mas que por terem passaporte português também os consideramos portugueses. Por sermos um clube étnico estamos protegidos pela Lei da Etnia. Desde que seja português, ou tenha descendência portuguesa, qualquer um pode tornar-se sócio.
CL – É obrigatório ser residente de Hong Kong?
P.R. – Estamos a procurar uma solução definitiva para quem não é residente de Hong Kong, particularmente para os residentes de Macau. Originalmente estavam apenas contemplados os residentes de Hong Kong. Mais importante do que a residência é a descendência portuguesa.
CL – O que oferece o Club Lusitano aos seus sócios?
P.R. – O Clube foi fundado nos anos 1800 com o objectivo principal de reunir as pessoas da comunidade – primeiro, para as pessoas firmarem negócios e poderem trabalhar em conjunto; e segundo, para participarem em actividades recreativas. Em tempos idos éramos conhecidos por termos um dos melhores teatros. Entre finais do século XIX e início do século XX os portugueses e outros grupos étnicos vinham assistir ao nosso teatro. Para além da parte recreativa, temos o restaurante de comida portuguesa. Em criança vinha ao Clube para participar em aniversários, baptizados e casamentos, o que acontece menos hoje em dia. Connosco continuará a ser um espaço para este tipo de acontecimentos.
CL – Que presença tem o Club Lusitano na sociedade de Hong Kong? Patrocinam algumas actividades?
P.R. – Não patrocinamos muitos eventos. O maior que patrocinamos é o “Lusitano Challenge Cup Trophy”, que decorre uma vez por ano no Hong Kong Jockey Club. É uma das provas mais antigas do cartaz de corridas, havendo hoje muitas outras que são patrocinadas por grandes marcas como é o caso da BMW. Somos um dos patrocinadores mais antigos das corridas de cavalos em Hong Kong. Apoiamos também acções de solidariedade.
CL – Como tencionam reforçar a relação com a comunidade portuguesa e macaense de Macau?
P.R. – Penso que temos uma relação muito próxima com Macau. A maioria de nós considera-se macaense. Temos antepassados que são de Macau – como eu, por exemplo. Os meus pais nasceram em Macau. Eu sou da primeira geração que nasceu em Hong Kong. Macau é a casa dos nossos antepassados. Claro que Hong Kong e Macau mudaram muito nos anos mais recentes, mas fomos mantendo boas relações a nível oficial com o Governo e com outras entidades, como a Associação dos Macaenses. Temos também muitas ligações pessoais e é claro que queremos reforçar as relações com a comunidade lusa de Macau.
CL – O Encontro das Comunidades Macaenses tem lugar em Macau há vários anos e recentemente foi anunciada a realização em Malaca da Primeira Conferência da Comunidade Asiática Portuguesa. Que papel pode ter o Club Lusitano neste tipo de iniciativas?
P.R. – Estamos sempre presentes no Encontro das Comunidades Macaenses. Pessoalmente estive nos últimos encontros. No próximo os meus pais, que vivem em Toronto, irão também estar presentes. Estamos ansiosos para estar com a ampla comunidade asiática portuguesa. Em Macau temos uma grande relação com as comunidades de Goa (na Índia), de Malaca (na Malásia), de Singapura (onde há uma grande comunidade portuguesa) e de Timor. Na Índia há também comunidades portuguesas em outros lugares como Cochim. E no Sri Lanka, no Japão… Não somos apenas culturalmente e etnicamente próximos. Muitos de nós temos algum grau de parentesco, ainda que afastado. Antes da Segunda Guerra Mundial havia o hábito de membros de diferentes comunidades casarem entre si. Se for ao passado eu próprio encontro familiares de Goa e de Malaca. Somos todos uma grande família.
José Miguel Encarnação
em Hong Kong