Antes de mais, um ano do Macaco cheio de macaquices, mas com poucas macacadas para todos os nossos leitores e amigos. Macaquices que tornem o ano divertido e sem grandes macacadas que tragam dores de cabeça. Por aqui vivemos sem notar a passagem de ano na Grande China – nem sequer na televisão houve qualquer menção ao acontecimento. Ainda assim, Kung Hei Fat Choi para todos!
Os últimos dias foram passados a fazer algo de novo, que nunca por nós foi pensado anteriormente, mas a que fomos “obrigados” para ajudar a suportar os custos da viagem. De forma a complementar a nossa fonte de rendimento, decidimos aceitar passageiros a bordo mediante pagamento. Os primeiros clientes são um casal de jovens da Nova Zelândia que andam a visitar o mundo de mochila às costas. Estão connosco durante 14 dias para assim terem a oportunidade de fazer um pouco de vela e também ficarem a conhecer a ilha de Guadalupe e as suas praias.
Estávamos ancorados no arquipélago de Les Saintes quando nos contactaram através da nossa página do Facebook, perguntando se estaríamos disponíveis para os alojar, algo que nos surpreendeu e nos deixou apreensivos, pois não é fácil receber a bordo pessoas que não conhecemos. Estavam na Flórida e queriam aproveitar para conhecer um pouco das Caraíbas, embora o seu orçamento fosse muito apertado. Volvidos alguns dias e troca de mensagens, resolvemos recebê-los a bordo, tendo ficado combinado que os iríamos esperar em Pointe à Pitre, na ilha de Guadalupe, para que fosse mais conveniente para eles, uma vez que é mais próximo do aeroporto. Para tal, tivemos de deixar o ancoradouro em Les Saintes e cumprir um dia de vela com vento muito forte, rumo a Este. Entrámos no porto comercial de Pointe à Pitre e ancorámos nas águas barrentas por alguns dias. Quando chegámos, aproveitando o facto de termos entrado ainda com a luz do dia, fomos à bomba de gasolina da marina para comprar gasóleo, gasolina e água. Uma ida ao posto de abastecimento para barcos o que já não acontecia desde que saímos das Ilhas Virgens Americanas, há mais de um ano. Desde então temos carregado o combustível em jerricans, assim como a água.
Não é fácil manobrar o nosso veleiro em espaços apertados, dado ter instalado o leme de vento na popa. É praticamente impossível manobrá-lo de marcha-atrás, o que para acostar a este tipo de bombas de gasolina é quase sempre necessário. Desta vez tivemos sorte e foi possível entrar de frente e sair da mesma forma. Após termos ultrapassado o obstáculo de atracar e a tensão inerente à manobra, ficámos surpreendidos com o preço do gasóleo – foi o mais barato que encontrámos até ao momento. A cerca de nove patacas o litro deu para atestar o tanque e ainda encher um dos jerricans de reserva. Cerca de mil e trezentas patacas para oitenta litros de gasóleo, trinta de gasolina e trezentos de água potável… Quando levarmos de volta os nossos clientes para Pointe à Pitre iremos comprar mais combustível, pois certamente não iremos encontrar muito mais barato e com qualidade igual à da Europa (aqui o combustível segue os parâmetros de qualidade da União Europeia, sendo Guadalupe território francês).
O jovem casal tem-se integrado no nosso dia-a-dia, embora tenhamos procedido a algumas alterações na nossa dinâmica diária. Com mais duas pessoas adultas a bordo muita coisa muda e as rotinas ficam, obrigatoriamente, diferentes. Desde logo pelo facto de termos de realizar duas viagens sempre que vamos a terra. O pequeno bote não consegue transportar quatro adultos e uma criança em segurança. Outra diferença é a quantidade de comida consumida, uma vez que a estadia inclui todas as refeições. Apesar de apenas pagarem 800 patacas, por dia, para além do quarto têm direito a pequeno-almoço, almoço e jantar, pelo que a logística em termos de quantidade e armazenamento teve de ser repensada. Sempre que vamos a terra – tem sido quase diariamente – compramos víveres, especialmente pão, carne e vegetais.
A primeira semana com clientes a bordo foi passada entre Pointe à Pitre e a vila de Gosier, ancorados junto da ilhota com o mesmo nome. Planeamos levá-los ao arquipélago de Les Saintes, para que tenham a oportunidade de desfrutar do mesmo estilo de vida que nós. Apesar de pagarem uma diária muito baixa (o preço normal para este tipo de serviço nunca fica abaixo das mil e 500 patacas diárias, por pessoa), queremos que conheçam lugares diferentes e fiquem com memórias inesquecíveis da sua passagem pelas Caraíbas, durante a sua viagem à volta do mundo. Até porque, também eles, tencionam percorrer o globo a bordo de um veleiro.
Fica o desafio aos nossos leitores em Macau e de outros locais onde O Clarim é lido para que venham passar uns dias connosco, desfrutando de um estilo de vida diferente. Podem relaxar na praia ou no convés do veleiro, sob o Sol das Caraíbas, contribuindo para a continuação da nossa aventura. Visitem-nos na nossa página do Facebook (www.facebook.com/sailingdee) e marquem uma data até ao próximo mês de Junho, antes de deixarmos estas águas.
JOÃO SANTOS GOMES