PADRE PEDRO CHUNG

«Partilhamos um tesouro comum com o Judaísmo, a Palavra de Deus»

PADRE PEDRO CHUNG, VIGÁRIO-GERAL DA DIOCESE DE MACAU COMENTA INSTITUIÇÃO DO DOMINGO DA PALAVRA DE DEUS PELO PAPA FRANCISCO

Os católicos que habitualmente dão voz à leitura das Sagradas Escrituras nas paróquias de Macau vão reunir-se na igreja da Sé Catedral a 2 de Fevereiro, a convite do bispo D. Stephen Lee, numa iniciativa que tem por objectivo recordar aos fiéis a importância do papel que os leitores desempenham, não só na celebração da Liturgia, mas também – e sobretudo – na divulgação da Palavra de Deus.

A informação foi avançada a’O CLARIM pelo padre Pedro Chung, vigário-geral da diocese de Macau. Durante a cerimónia, D. Stephen Lee deverá repetir o pedido que Jesus Cristo fez aos Apóstolos, o de partir ao encontro do mundo para anunciar a Boa-Nova.

Ainda que a iniciativa se concretize uma semana depois, a conclamação dos leitores do Evangelho celebra a instituição, por parte do Papa Francisco, do Domingo da Palavra de Deus, solenidade que é este ano assinalada pela primeira vez a 26 de Janeiro.

Com a publicação, por sua própria iniciativa, da Carta Apostólica Aperuit Illis, o Sumo Pontífice anunciou, no final de Setembro último, a criação da nova celebração litúrgica. A iniciativa responde às petições dos fiéis e aos desejos do próprio Papa Francisco, que no final do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2016, defendeu que a criação de tal solenidade «permite, sobretudo, fazer com que a Igreja reviva o gesto de Jesus Cristo Ressuscitado que nos abre as portas ao tesouro que é a Sua Palavra, de modo que possamos anunciar por todo o mundo esta riqueza inesgotável».

Para o padre Pedro Chung, o Domingo da Palavra de Deus reveste-se de uma natureza marcadamente ecuménica, que se traduz por um reconhecimento profundo da herança espiritual partilhada entre católicos e judeus. O sacerdote considera a Carta ApostólicaAperuit Illiscomo um importante gesto de aproximação à fé judaica. «Nesta carta apostólica, o Papa destaca a importância da Palavra de Deus, das Sagradas Escrituras para a nossa fé cristã. De facto, na introdução que faz à Carta Apostólica, o Sumo Pontífice deixa claro que é importante manter o diálogo tanto com a fé judaica, como com outras denominações cristãs», recordou, tendo acrescentado: «É óbvio que partilhamos um tesouro divino comum com o Judaísmo e esse tesouro é a Palavra de Deus».

Na carta apostólica sob a forma de “motu proprio”, Jorge Mario Bergoglio definiu que o III Domingo do Tempo Comum vai passar, a partir deste ano, a ser dedicado de forma especial “à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus”. De acordo com o Santo Padre, a solenidade deve ser vista como “um momento oportuno” em que os católicos “são convidados a fortalecer os laços com os judeus e a rezar pela unidade dos cristãos”.

A dimensão dialogante da Igreja que está inerente à Aperuit Illisé, no entender do padre Pedro Chung, um aspecto central do convite aos fiéis endereçado pelo Papa Francisco na sua mais recente carta apostólica. «A promoção de um conhecimento mais enraizado das Sagradas Escrituras junto dos leigos é essencial, de modo a que possamos aprofundar a nossa fé e encetar o diálogo com as outras religiões», sublinhou, acentuando de seguida que «o anúncio do Papa constitui um convite para todos. E é um convite claro, que não dissimula a importância do diálogo. É uma mensagem para todo o mundo. O Santo Papa insta a Igreja a celebrar esta solenidade a diferentes níveis».

Na apresentação da Carta Apostólica, em Setembro último, o Papa exortou as comunidades católicas de todo o mundo a encontrar uma forma de viver o Domingo da Palavra de Deus como uma data solene, de modo a tornar evidente o valor normativo que possui a Palavra de Deus. Aos bispos, Francisco concedeu a possibilidade de celebrarem o Rito do Leitorado ou a celebração de um mistério semelhante, com o propósito de chamar a atenção para a importância da proclamação da Palavra de Deus na Liturgia. É, de resto, esta a direcção que D. Stephen Lee quer incutir à celebração, explicou o padre Pedro Chung em declarações a’O CLARIM.

A expressão Aperuit Illis(que se traduz por “Abriu-lhes”) faz referência ao trecho bíblico do Evangelho de São Lucas – «Abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras (Lc., 24, 45)» – em que Jesus Cristo procura enraizar no coração dos Apóstolos a verdadeira dimensão da Bíblia enquanto mensagem de Deus. «Trata-se de um dos últimos gestos realizados pelo Senhor Ressuscitado, antes da Sua ascensão. Encontrando-se os discípulos reunidos, Jesus aparece-lhes, parte o pão com eles e abre-lhes o entendimento à compreensão das Sagradas Escrituras», lembrou o Papa durante a apresentação da Carta Apostólica.

Marco Carvalho

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *