Para os Países e para a Igreja

Sem crianças não há futuro

Há cerca de um ano conversei com um estudante no último ano do seu curso, que tinha sido admitido para um curso de pós-graduação numa das melhores universidades dos Estados Unidos. Ele estava preocupado: «– A minha namorada e eu estivemos a falar», disse. «– E estamos bastante apreensivos quanto ao futuro». Perguntei-lhe o porquê dessa preocupação.

«– Sou filho único, assim como a minha namorada», respondeu. «– Por isso, quando os nossos pais se reformarem, teremos de suportar a nós próprios, aos nossos filhos e ainda a mais quatro pessoas. Vai ser muito difícil».

Em todo o mundo a promoção de programas de controlo da população tiveram como resultado a existência de sociedades onde o número de pessoas reformadas ultrapassa o das pessoas que trabalham. Para substituir a população actual de um país desenvolvido, cada casal necessita ter 2,1 filhos em média. Estes dados são chamados de reposição ao nível da fertilidade. Nos países menos desenvolvidos os números estimados são mais elevados, entre os 2,5 a 3,3 filhos por casal, devido às taxas de mortalidade infantil mais elevadas. Muitos dos países desenvolvidos (incluindo a China) e as economias mais desenvolvidas (Macau, Hong Kong, Coreia, Japão, Singapura, Rússia e toda a Europa Ocidental) encontram-se de momento apenas no nível de reposição.

Devido à “Política de Uma Criança (por casal)”, que tende em favorecer os bebés masculinos em detrimento dos do sexo feminino, a China tem, de momento, 78 milhões de homens que nunca poderão ter a possibilidade de se casar, porque não há mulheres suficientes. É uma horrível quantidade de solteiros! Muito países entraram no chamado “Inverno Demográfico” e encontram-se numa corrida desesperada contra o “Suicídio Demográfico”.

Assim como a manipulação da natureza teve como resultado desastres ecológicos, a manipulação da taxa natural de crescimento da população está a levar-nos à eventual extinção de nações inteiras.

A 11 de Fevereiro, durante as séries de catequização da Família, o Papa Francisco lembrou os ensinamentos da Igreja, em que cada criança é uma recompensa. Disse na ocasião: «Se uma família com muitos filhos for olhada como um fardo, algo está errado. O não ter filhos é uma escolha egoísta. A vida rejuvenesce e adquire energia com a sua multiplicação; e isso é enriquecimento, não empobrecimento».

Crianças são recompensas e bênçãos. O salmo 128 reza assim: «Abençoado é quem teme ao SENHOR, e que caminha nos seus caminhos. Vós deveis comer o fruto do trabalho das vossas mãos; devem ser felizes, e tudo deverá estar bem convosco. A vossa esposa será como uma videira frutífera na vossa casa; os vosso filhos serão como rebentos de oliveira à volta da vossa mesa. Assim, será abençoado o homem que teme ao SENHOR. O SENHOR abençoar-vos-á desde o Sião. Que possam ver todos os dias da vossa vida a prosperidade de Jerusalém. Que possam ver os filhos dos vossos filhos».

Além disso, o Santo Padre afirmou que quando existe mais do que uma criança eles podem aprender o que é a fraternidade. No dia 18 de Fevereiro o Sumo Pontífice observou que «é a família que leva a fraternidade ao mundo».

Disse ainda: «A história já mostrou suficientemente que, além disso, a liberdade e igualdade, sem fraternidade, acabam recheadas de individualismos e conformidades e também de interesses pessoais…. Hoje, mais do que nunca, é necessário trazer a fraternidade de volta ao coração da nossa sociedade tecnocrata e burocratizada. Só então a liberdade e a igualdade retomarão a sua entoação correcta. Sendo assim, não devemos privar-nos e às nossas famílias com uma forma de pensar ligeira, sem objectividade ou medos, da beleza de um espectro alargado de experiências fraternais dos filhos e filhas».

O Santo Padre já clarificou, em diferentes ocasiões, que não está a dizer que os casais devam continuar a reproduzir-se indefinidamente. Mas vale a pena lembrar o que Santa Teresa de Calcutá disse, quando lhe perguntaram sobre as responsabilidades do património. Respondeu que acreditava no património, embora deva ser responsável, e que temos de ser pais antes de tudo. A palavra inglesa “parent” (em Português pode ser “pai” ou “mãe”) vem do verbo Latim que significa “produzir” ou “dar à luz”.

Em Manila o Papa Francisco disse aos casais, em Janeiro deste ano, que eles devem continuar a sonhar sobre os seus filhos, porque no momento em que os sonhos morrerem a esperança morre com eles.

O que foi dito a esses pais pode ser aplicado como analogia à Igreja, que vive em celibato. Os padres e as irmãs vivem em celibato, não porque queiram ter mais tempo livre para eles próprios ou para descansar. O seu celibato deve significar: torná-los mais disponíveis, como pais e mães espirituais das outras pessoas. S. Paulo dizia: «Tornei-me vosso pai em Jesus Cristo através do Evangelho (Coríntios 4:15)».

Sobre a castidade das irmãs religiosas, a 8 de Maio de 2013, o Papa Francisco disse-lhes: «Mas, por favor, (vivam) uma castidade “fértil”, que gere filhos espirituais para a Igreja. São consagradas como madres. Devem ser mães e não apenas “solteironas”. Desculpem-me se falo desta maneira, mas isto é a maternidade da vida consagrada e essa produtividade é importante».

Possa a alegria dessa produtividade espiritual animar a vossa existência. Sejam mães, como nas imagens de Maria Mãe, Mãe da Igreja. Não poderão entender Maria sem a Sua maternidade; não podem entender a Igreja sem a Sua maternidade, e vós sois os ícones de Maria e da Igreja.

Assim como os pais têm que se preocupar com o comportamento e a educação dos filhos, os padres e outros religiosos também têm que se preocupar com os seus filhos espirituais. Os filhos são os portadores da esperança.

E tal como os filhos são gerados num acto de união entre os esposos, as crianças espirituais são geradas através de uma união com o Criador Divino; os filhos são o fruto do amor.

 Pe. José Mario Mandía

(Tradução: António R. Martins)

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