Papa Francisco fala sobre o drama da cegueira interior

Quem não quer ver a Luz

O Papa Francisco alertou os cristãos contra o risco de afundar na cegueira interior que fecha o coração à graça e à luz de Deus. Fê-lo na praça de São Pedro, falando a propósito do trecho evangélico da cura milagrosa do cego de nascença.

“Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho apresenta-nos o episódio do homem cego de nascença, a quem Jesus confere a vista. Esta longa narração tem início com um cego que começa a ver e termina – isto é curioso – com alguns presumíveis videntes que continuam a ser cegos na alma. O milagre é narrado por João em apenas dois versículos, porque o evangelista quer chamar a atenção não apenas para o prodígio em si mesmo, mas para aquilo que acontece em seguida, para os debates que isto suscita; e também para o falatório, pois muitas vezes uma obra, um gesto de caridade provoca murmurações e debates, porque alguns não querem ver a verdade. O evangelista João quer chamar a atenção para aquilo que acontece até nos dias de hoje, quando se realiza uma obra boa. O cego curado é primeiro interrogado pela multidão admirada – viram o milagre e interrogam-no – e depois pelos doutores da lei, que interrogam também os seus pais. No final, o cego curado chega à fé, a maior graça que lhe é concedida por Jesus: não apenas de ver, mas de O conhecer, de O ver como «a luz do mundo» (Jo 9, 5).

Enquanto o cego se aproxima gradualmente da luz, os doutores da lei, ao contrário, afundam cada vez mais na sua cegueira interior. Fechados na sua presunção, já julgam possuir a luz; por isso, não se abrem à verdade de Jesus. E fazem de tudo para negar a evidência. Põem em dúvida a identidade do homem curado; em seguida, negam a obra de Deus na cura, alegando como desculpa que Deus não age aos sábados; chegam até a duvidar que aquele homem fosse cego de nascença. O seu fechamento à luz toma-se agressivo e acaba na expulsão do homem curado para fora do templo.

Ao contrário, o caminho do cego é um percurso por etapas, que começa com o conhecimento do nome de Jesus Nada mais sabe dele; com efeito, diz: «Aquele homem que se chama Jesus fez lodo e ungiu-me os olhos» (V. II). A seguir às perguntas insistentes dos doutores da lei, considera-o primeiro um profeta (V. 17) e em seguida um homem que está próximo de Deus (V. 31). Depois de ter sido afastado do templo, excluído da sociedade, Jesus encontra-se novamente com ele e ‘abre os seus olhos’ pela segunda vez, revelando-lhe a sua própria identidade «Eu sou o Messias», assim lhe diz! Nesta altura, aquele que era cego exclama: «Creio, Senhor!» (V. 38), e prostra-se diante de Jesus. Trata-se de um trecho do Evangelho que mostra o drama da cegueira interior de muitas pessoas, inclusive da nossa, porque as vezes também nós vivemos momentos de cegueira interior.

Às vezes a nossa vida é semelhante à existência do cego que se abriu à luz, que se abriu a Deus, que se abriu à sua graça. Por vezes, infelizmente, é um pouco como a vida dos doutores da lei: do alto do nosso orgulho julgamos os outros, e até o próprio Senhor! Hoje, somos convidados a abrir-nos à luz de Cristo para dar fruto na nossa vida, para eliminar os comportamentos que não são cristãos; todos nós somos cristãos, mas todos nós – todos! – às vezes temos comportamentos não cristãos, atitudes que são pecados. Devemos arrepender-nos disto, eliminar estes comportamentos para caminhar decididamente pela vereda da santidade. Ela tem a sua origem no Baptismo. Com efeito, também nós fomos iluminados por Cristo no Baptismo, como no-lo recorda São Paulo, a fim de nos podermos comportar como «filhos da luz» (Ef 5, 8), com humildade, paciência e misericórdia. Aqueles doutores da lei não tinham humildade, nem paciência e nem sequer misericórdia!

Hoje, quando voltardes para casa, sugiro-vos que pegueis no Evangelho de João para ler este trecho do capítulo 9. Isto far-vos-á bem, porque assim vereis este caminho da cegueira para a luz, e a outra senda errada, rumo a uma cegueira ainda mais profunda. Interroguemo-nos: como é o nosso coração? Tenho um coração aberto ou fechado? Aberto ou fechado para Deus? Aberto ou fechado para o próximo? Temos sempre em nós mesmos algum fechamento que nasce do pecado, dos equívocos, dos euros. Não devemos ter medo! Abramo-nos à luz do Senhor! Ele espera-nos sempre para nos levar a ver melhor, para nos dar mais luz, para nos perdoar. Não podemos esquecer isto! Confiemos à Virgem Maria o caminho quaresmal para que também nós, como o cego curado, com a graça de Cristo, possamos vir à luz, progredir rumo à luz e renascer para uma vida nova.

Saúdo de coração as famílias, os grupos paroquiais, as associações e os fiéis individualmente, provenientes da Itália e de muitos países, e os imigrantes portugueses de Londres.

E hoje não esqueçais: em casa, pegai no Evangelho de João, capítulo 9, para ler a história do cego que adquiriu a vista e dos presumíveis videntes que afundaram ainda mais na sua cegueira.

Desejo feliz Domingo e bom almoço a todos. Até à vista!”

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