Papa Francisco decreta Jubileu do Papa Celestino V

Por que o interesse por um aparentemente obscuro Papa medieval?

 

O Papa Francisco inaugurou um Ano Jubileu em honra do Papa S. Celestino V. O que se passa?

 

Um Ano Jubileu é um ano de celebração. Os católicos são encorajados a tomar parte, participando em orações, devoções e peregrinações especiais. O Jubileu serve também para chamar a atenção para um santo ou tema especial.

O Papa Celestino V nasceu como Pietro Angelerio e também era conhecido como Pietro da Montanha, devido a uma montanha para onde se retirara. Celestino era famoso pela sua santidade e foi eleito Papa, depois de uma eleição escandalosamente longa devido a lutas pelo poder mundano no Vaticano. O Papa Celestino foi eleito quando já tinha 80 anos, e o velho senhor foi Papa apenas durante 5 meses de Junho a Dezembro de 1294. Determinou o direito de um Papa resignar, e então resignou. O seu sucessor, o Papa Bonifácio VIII, com medo que os apoiantes de Celestino o considerassem um anti-Papa, confinou os movimentos de Celestino a um castelo, onde eventualmente veio a falecer.

O Papa Celestino V ficou na história como um santo homem que “era demasiado bom para ser Papa!”. Numa época em que a hierarquia da Igreja estava corrompida pela riqueza mundana e o poderio militar, Celestino foi um sinal profético de contradição. Viveu para a oração, pobreza e penitência. Os Papas de então viviam frequentemente para a pompa, o prestígio e o poder.

O humilde eremita, que foi o primeiro Papa a abdicar formalmente, voltou a ser famoso em 1966, quando o Papa Paulo VI visitou o túmulo de Celestino e elogiou o seu exemplo. O Papa Bento XVI visitou o seu túmulo duas vezes e celebrou o aniversário declarando 2009-2010 como o ano de Celestino. Três anos depois o próprio Papa Bento XVI fez história ao abdicar do Papado, e agora o Papa Francisco declara o Ano de Jubileu do Papa Celestino. Porquê todo esse interesse por um aparentemente obscuro Papa medieval?

O Papa Francisco deixou claro no seu discurso ao povo de Isernia, a cidade natal de Celestino: «Tal como Francisco de Assis, Pietro da Montanha conhecia bem a sociedade do seu tempo, com as suas grandes pobrezas. Ambos estavam muito perto do povo. Ambos tinham a mesma compaixão que Jesus tinha pelas muitas pessoas exaustas e oprimidas… (este é) o verdadeiro sentido temporal do Ano Jubileu Celestino, que eu declaro aberto neste momento, e durante o qual as portas da Misericórdia Divina se abrirão a todos. Não é uma fuga, não é uma evasão à realidade e aos seus problemas; é a resposta que vem do Evangelho: O amor como força… que coloca a pessoa, o trabalho e a família no centro da vida, em vez do dinheiro e do lucro… estamos cientes que esta atitude não é a atitude actual do Mundo».

O amor do Papa Francisco por S. Francisco e o seu desejo de honrar o Papa Celestino é um lembrete profético a lembrar-nos do choque entre “a postura do Mundo” e os “caminhos de Cristo”. O Evangelho de Jesus Cristo é o padrão dos valores do Mundo na sua mente. Ao afastar-se do poder e do prestígio papal o Papa Celestino desligou-se do mundo. E quando o repúdio do Papado, por Celestino, é colocado no seu contexto histórico, ainda se torna mais evidente ter sido um sinal profético.

O Papa Celestino foi eleito porque diversas famílias italianas lutavam entre si para alcançar o Papado. A eleição estava há muito bloqueada e Celestino foi nomeado quase como uma brincadeira. Durante o seu curto pontificado, foi manipulado pelos cardeais, especialmente Benetto Gaetani, que encorajou Celestino a resignar, e depois subornou os eleitores para que o nomeassem Papa. Gaetani adoptou o nome de Bonifácio VIII, e enquanto que Celestino ficou na história como um dos Papas mais humildes e santos, Bonifácio ficou na historia com um dos mais imorais de sempre.

Dante colocou Bonifácio no inferno pelos seus crimes, Bonifácio VIII foi quem levou o poder mundano do Papado a níveis extremos. Homem corrupto e ambicioso, Bonifácio exigiu que todas as pessoas se submetessem ao Sumo Pontífice e insistiu que os Reis e Príncipes se submetessem ao seu poder. Bonifácio foi preso depois de uma luta pelo poder com o Rei Filipe IV de França, e alegadamente suicidou-se – mordendo os seus próprios braços e batendo com a cabeça nas paredes. Bonifácio foi acusado de muitos crimes hediondos, pelos seus inimigos, e mesmo que inocente de muitas das piores acusações ainda assim era realmente um dos mais mundanos dos homens, em deslumbrante contraste com a simplicidade e piedade de Celestino.

Proclamando um Ano Jubileu em honra do Papa Celestino, o Papa Francisco está, claramente, a chamar todos os católicos a afastarem-se dos valores mundanos do poder, orgulho e corrupção, e a voltarem a seguir os caminhos de Cristo. Tal como S. Francisco e Celestino, temos que ver em Cristo o autor e o fim da nossa fé. O Papa Bento VI disse que «os santos são a Teologia vivida».

Os santos Francisco e Celestino encarnaram os caminhos da Santidade, mostrando que a simplicidade, misericórdia, paz e justiça, no fim, superarão a ostentação, a avareza, a injustiça, a violência e a vingança.

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