Papa abraça Ortodoxos, Anglicanos e Protestantes

Aliança contra a crise de valores e o terrorismo islâmico.

Se é verdade que a união faz a força, Francisco ficará para a história como o Papa que uniu os diferentes ramos do Cristianismo, com o objectivo de salvaguardar os valores do Ocidente, combater o terrorismo islâmico e humanizar a política e a economia mundiais. O abraço do Santo Padre ao Patriarca Kirill de Moscovo encerrou o ciclo de encontros com os líderes das cinco Igrejas Ortodoxas mais importantes da actualidade – iniciado por Bento XVI em 2009 – o que aliado à recente aproximação à Igreja Anglicana e ao movimento protestante deixa antever a formação de uma coligação sem precedentes, liderada pelo Vaticano e pela Rússia.

O encontro do Papa Francisco com o Patriarca de Moscovo e de Todas as Rússias, Kirill, no passado dia 12 de Fevereiro, em Havana (Cuba), foi mais um passo do Santo Padre com vista à comunhão de todas as Igrejas cristãs espalhadas pelo mundo.

Para além de aproximar os diferentes ramos do Cristianismo, o Papa tem conquistado o apoio dos líderes das mais importantes Igrejas cristãs, sensibilizando-os para questões prementes, como o combate ao fundamentalismo islâmico, à corrupção política e económica, e ao crescente ataque aos valores da Humanidade.

Este movimento ecuménico não começou com Francisco, pois já outros Papas, como João Paulo II e Bento XVI, chamaram ou foram ao encontro dos seus pares, independentemente de serem ortodoxos, anglicanos ou protestantes.

Na qualidade de chefe de Estado do Vaticano, o Papa tem abraçado alguns líderes religiosos, quebrando barreiras há muito impostas pela história e tradição dos povos. Eis alguns exemplos: a 15 de Maio de 2009, o Papa Bento XVI encontrou-se na Terra Santa com o Patriarca de Jerusalém, Teófilo III, líder da Igreja Grega Ortodoxa de Jerusalém; a 10 de Maio de 2013, o Papa Francisco recebeu no Vaticano o Patriarca de Alexandria, Papa Tawadros II, líder da Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria; a 27 de Julho de 2013, o Papa Francisco voltou a receber um Patriarca no Vaticano, desta feita João X, líder da Igreja Ortodoxa Grega de Antioquia; e a 25 de Maio de 2014, o Papa Francisco encontrou-se em Jerusalém com Bartolomeu I, líder da Igreja Ortodoxa de Constantinopla. De permeio, o Sumo Pontífice abriu por duas vezes as portas do Vaticano ao Arcebispo da Cantuária, Justin Welby, líder espiritual da Igreja Anglicana, em Junho de 2013 e Junho de 2014.

Mais recentemente o Papa Francisco tem dado igualmente sinais de aproximação ao movimento protestante. Durante uma cerimónia na Basílica de São Pedro, o Santo Padre pediu «perdão pelo comportamento não evangélico de católicos perante os cristãos de outras Igrejas», gesto interpretado como um sinal de fraternidade, quando está prevista a deslocação do Papa à Suécia em Outubro deste ano, por ocasião do aniversário dos 500 anos da Reforma Protestante. O Papa deverá visitar a cidade de Lund, onde em 1947 foi fundada a Federação Luterana Mundial.

Se a nível religioso a Santa Sé tem estado muito activa na construção de pontes entre as Igrejas cristãs, a nível político tem-se verificado igual dinâmica, sendo de destacar a aproximação do Vaticano à Rússia. A indefinição dos Estados Unidos em relação ao Médio Oriente – leia-se Islão – e o neo-liberalismo da Administração Obama não agradam a Roma, que tem encontrado na Rússia a resposta ao flagelo do Estado Islâmico e aos sucessivos ataques aos valores morais defendidos pelo Cristianismo – temas abordados pelo Papa Francisco e pelo Presidente da Rússia, Vladimir Putin, nos encontros mantidos em Novembro de 2013 e Junho de 2015.

Desde Setembro do ano passado que a Rússia tem bombardeado posições do Estado Islâmico e da oposição síria ao regime de Bashar al-Assad, defendendo ser essa a melhor opção com vista à defesa da integridade territorial da Síria, à diminuição do número de refugiados para a Europa e à manutenção de uma sociedade multi-étnica e multicultural, onde muçulmanos e cristãos vivam em harmonia.

Por outro lado, a Rússia tem-se oposto fortemente ao movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero), às campanhas pelo aborto, à adopção de crianças por casais do mesmo sexo e a outras medidas populistas, com graves consequências para o papel do Estado enquanto garante da segurança e da harmonia social.

O “politicamente correcto”, tão em voga no Ocidente, tem criado tensões no seio das Nações, por força de uma migração desregulada de povos com hábitos culturais e religiosos diferentes dos países de acolhimento, onde a integração tende a falhar, proliferando os guetos.

Em última instância, as economias e o sistema financeiro têm vindo a colapsar, dado a pressão dos imigrantes sobre os sistemas de segurança social dos países de acolhimento e o consequente endividamento dos Estados junto da Banca nacional e estrangeira, na maioria das vezes dependente de instituições norte-americanas, o que coloca em risco a soberania dos países.

Na visita que efectuou aos Estados Unidos, em Setembro de 2015, o Papa Francisco chamou a atenção para a realidade em que vive o Ocidente, tendo procurado sensibilizar a Administração Obama e o Congresso para a necessidade de alterar o paradigma económico-social que há muito Washington vem fomentando no resto do mundo.

Nos antípodas encontra-se a Rússia, muito mais tradicionalista e conservadora, fruto de uma ortodoxia religiosa defensora do Estado, do Trabalho e da Família, sendo disso exemplo o facto do Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa e o Presidente da Rússia viverem paredes-meias no Kremlin, constituindo este o centro do poder político e religioso do País.

Perante o descalabro político, económico e social que afecta o mundo, com mais ênfase no Ocidente, o Vaticano tende a aliar-se a quem comunga dos mesmos valores, por forma a preservar a matriz cristã e a combater os seus inimigos. Daí que a Santa Sé e Moscovo nunca tenham estado tão próximos.

José Miguel Encarnação

jme888@gmail.com

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