Boécio e Cassiodoro: dois escritores eclesiásticos de destaque

PAIS DA IGREJA (46)

Boécio e Cassiodoro: dois escritores eclesiásticos de destaque

Anicius Manlius Severinus Boethius, nascido por volta de 480, foi um erudito e estadista romano, filósofo cristão e polímata. “Desempenhou um papel importante na transmissão da ciência e da filosofia gregas para o mundo latino medieval. A sua obra mais influente é ‘A Consolação da Filosofia’. Boécio deixou uma marca profunda na teologia cristã e forneceu a base para o desenvolvimento da matemática, música, lógica e dialética nas escolas latinas medievais” (Manuel Correia, “Boethius”, Internet Encyclopedia of Philosophy. https://iep.utm.edu/boethius/).

O Papa Bento XVI acrescenta: “escreveu também manuais de aritmética, de geometria, de música e de astronomia: tudo com a intenção de transmitir às novas gerações, aos novos tempos, a grande cultura greco-romana. Neste âmbito, ou seja, no empenho de promoção do encontro das culturas, utilizou as categorias da filosofia grega para propor a fé cristã, também aqui em busca de uma síntese entre o património greco-romano e a mensagem evangélica. Precisamente por isto, Boécio foi qualificado como o último representante da cultura romana antiga e um dos primeiros intelectuais medievais” (Audiência Geral de 12 de Março de 2008).

Boécio nasceu no seio de uma família importante, mas ficou órfão em criança. Criado pelo aristocrata romano Quintus Aurelius Memmius Symmachus, Boécio dominava o Latim e o Grego. Alcançou uma posição de destaque no Reino Ostrogótico, em Itália, tornando-se conselheiro pessoal do governante Teodorico, o Grande.

Tornou-se, no entanto, impopular devido às suas críticas à corrupção entre os membros da corte ostrogótica. Este facto levou Teodorico a aprisioná-lo em 523.

Aproveitou o tempo de prisão para escrever “De consolatione Philosophiae” (“Sobre a consolação da filosofia”), onde defende que a verdadeira fonte da felicidade humana é a busca da sabedoria e o amor de Deus. Assim, mesmo na prisão, é possível ter alegria e esperança, porque se pode falar com Deus. “Nesta obra, no cárcere busca a consolação, a luz, a sabedoria. E diz que soube distinguir, precisamente em tal situação, entre os bens aparentes na prisão eles desaparecem e os bens verdadeiros, como a amizade autêntica que mesmo na prisão não desaparecem. O bem mais excelso é Deus: Boécio aprendeu e ensina-nos a não cair no fatalismo, que apaga a esperança” (Audiência Geral de 12 de Março de 2008). O livro foi amplamente reproduzido e exerceu grande influência.

Boécio acabou por ser torturado e executado em 524, e é venerado como mártir na diocese de Pavia, que o homenageia a 23 de Outubro de 524.

Para além de Boécio, há outro importante académico cristão do Século VI – Magnus Aurelius Cassiodorus Senator (n. 485 – m. 585). Cassiodoro era também um estadista romano cristão, tal como Boécio. Mais tarde, tornou-se também “magister officiorum” (“chefe do serviço civil”) sob Teodorico.

Bento XVI observa que Cassiodoro, tal como Boécio, “foi modelo de encontro cultural, de diálogo de reconciliação. As vicissitudes históricas não lhe permitiram realizar os seus sonhos políticos e culturais, que visavam criar uma síntese entre a tradição romano-cristã da Itália e a nova cultura gótica. Porém, aquelas mesmas vicissitudes convenceram-no da providencialidade do movimento monástico, que se ia confirmando nas terras cristãs. Decidiu apoiá-lo, dedicando-lhe todas as suas riquezas materiais e forças espirituais” (Audiência Geral de 12 de Março de 2008).

Quando se retirou da Função Pública, fundou um mosteiro, Vivarium (ou “Castellum”), onde passou os últimos trinta anos da sua vida. Ao contrário de Boécio, não se destacou como escritor ou académico, “mas a sua importância na história da cultura ocidental não pode ser sobrestimada. Recolheu manuscritos e ordenou aos seus monges que copiassem as obras de autores pagãos e cristãos; a isso se deve a preservação de muitos escritos de autores antigos, pois o seu mosteiro deu um exemplo que foi seguido noutros lugares nos séculos posteriores” (https://www.britannica.com/biography/Cassiodorus).

Pe. José Mario Mandía

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