Leão I: um Papa verdadeiramente grande
Não sabemos o lugar e a data do seu nascimento, mas “o pontificado de Leão I, a seguir ao de São Gregório I, é o mais significativo e importante da antiguidade cristã. Numa época em que a Igreja experimentava os maiores obstáculos ao seu progresso, em consequência da rápida desintegração do Império Ocidental, enquanto o Oriente estava profundamente agitado por controvérsias dogmáticas, este grande Papa, com sagacidade clarividente e mão poderosa, guiou o destino da Igreja Romana e Universal” (“Papa São Leão I, o Grande [Magno] – Enciclopédia Católica”, https://www.newadvent.org/cathen/09154b.htm).
Tornou-se diácono em 430 d.C. e dez anos mais tarde, a 29 de Setembro de 440, foi consagrado Papa, tendo sido o primeiro a tomar o nome de Leão. Devido aos seus feitos, viria a ser chamado Leão Magno, tal como Gregório I viria a ser conhecido como Gregório Magno.
Morreu a 10 de Novembro de 461 e as suas relíquias encontram-se num dos altares da Basílica de São Pedro.
Como já foi referido, Leão teve de lidar com problemas tanto no Império Romano do Ocidente como no do Oriente. À medida que o Ocidente se ia desintegrando, as tribos germânicas iam emigrando para o Império e instalando-se nele. Foi o período das invasões bárbaras (375-700 d.C.). O Papa Bento XVI observa que “o progressivo enfraquecimento no Ocidente da autoridade imperial e uma longa crise social tinham imposto que o Bispo de Roma, como teria acontecido com evidência ainda maior um século e meio mais tarde, durante o pontificado de Gregório Magno, assumisse um papel de relevo também nas vicissitudes civis e políticas. Isto não deixou, obviamente, de aumentar a importância e o prestígio da Sé romana” (Audiência Geral de 5 de Março de 2008).
Um acontecimento particular que atesta este facto ocorreu em 452, “quando o Papa em Mântua, juntamente com uma delegação romana, encontrou Átila, chefe dos Unos, e o dissuadiu de prosseguir a guerra de invasão com a qual já tinha devastado as regiões norte-orientais da Itália. E assim salvou o resto da Península” (idem).
O Papa Leão não foi tão bem-sucedido com os vândalos, que invadiram e saquearam Roma em 455. Mas o Papa foi ao encontro de Genserico, líder dos vândalos, a quem convenceu a não incendiar Roma e a respeitar as Basílicas de São Pedro, São Paulo e São João, onde muitas pessoas se tinham refugiado.
Leão I teve também de enfrentar as controvérsias dogmáticas, nomeadamente o Pelagianismo, o Maniqueísmo e o Monofisismo. O Papa refutou vigorosamente estas doutrinas.
A heresia pelagiana (do seu autor Pelágio) negava o pecado original e insistia que o Homem, por si só, podia alcançar o céu pelos seus próprios esforços – não precisava da ajuda da graça de Deus. Em teoria, muitos cristãos rejeitam o Pelagianismo, mas, na prática, aceitam-no porque não utilizam com frequência os meios pelos quais alcançamos a graça: a Oração e os Sacramentos.
O Maniqueísmo ensinava que havia dois princípios no mundo: a luz ou bondade, por um lado, e as trevas ou o mal, por outro. Toda a criação material é má porque provém das trevas, segundo eles. Isto ignora obviamente o que a Sagrada Escritura ensina: o mundo vem de Deus e “Deus viu que era bom” (cf. Génesis 1, 10.12.18.21.25) – “muito bom” (Génesis 1, 31). Foi por isso que «o Senhor tomou o homem e o colocou no jardim do Éden para zelar por ele e nele fazer suas plantações» (Génesis 2, 15). Se o mundo fosse mau, Deus não quereria que o Homem o cultivasse.
O Monofisismo era uma heresia que negava a natureza humana de Cristo. Os monofisitas negavam, ou pelo menos diluíam, a natureza humana de Cristo. Mas se Cristo não fosse um verdadeiro homem, não poderia ter-nos redimido: sem a sua natureza humana, não sofreria nem morreria. Numa carta conhecida como “Tomo de Leão”, o Santo Padre reafirmou a união hipostática – a união de duas naturezas numa só Pessoa. O Concílio de Calcedónia (451 d.C.) adoptou os ensinamentos do Papa como seus, dando assim continuidade aos ensinamentos dos concílios anteriores: Nicéia (325), Constantinopla (381) e Éfeso (431). No Século VI estes quatro concílios já estavam a ser comparados aos quatro Evangelhos (cf. Gregório Magno, Carta I, 24).
O Papa Leão não era apenas um teólogo, mas também um pastor. A sua pregação foi conservada e transmitida até nós. Os seus sermões, inspirados nas Sagradas Escrituras, eram um apelo à santidade e, ao mesmo tempo, mostravam a consciência das preocupações quotidianas do seu rebanho.
“Incentivou a caridade numa Roma provada pelas carestias, pela afluência dos prófugos, pelas injustiças e pela pobreza. Contrastou as superstições pagãs e a acção dos grupos maniqueus. Relacionou a liturgia com a vida quotidiana dos cristãos: por exemplo, unindo a prática do jejum com a caridade e com a esmola sobretudo por ocasião das Quatro têmporas, que marcam no decorrer do ano a mudança das estações. Em particular Leão Magno ensinou aos seus fiéis e ainda hoje as suas palavras são válidas para nós que a liturgia cristã não é a recordação de acontecimentos do passado, mas a actualização de realidades invisíveis que agem na vida de cada um. É quanto ele ressalta num sermão (64, 1-2) a propósito da Páscoa, que deve ser celebrada em todos os tempos do ano ‘não tanto como algo do passado, mas como um acontecimento do presente’” (Audiência Geral de 5 de Março de 2008).
Pe. José Mario Mandía