Ambrósio de Milão: falar e viver a verdade com amor
Até agora, falámos de dois bispos latinos: Hilário de Poitiers e Eusébio de Vercelli. Hoje abordamos um terceiro: Santo Ambrósio de Milão. Nasceu por volta de 340 d.C. numa família cristã que incluía alguns mártires cristãos e altos funcionários do Governo. O pai era prefeito da Gália e a sua autoridade abrangia áreas da actual França, Grã-Bretanha, Espanha e Marrocos. Após a sua morte, em 354, a família mudou-se para Roma.
A mãe dedicou atenção tanto à carreira civil como à formação religiosa de Ambrósio e do seu irmão. No que respeita à carreira civil, estudou Retórica e Jurisprudência. Quanto à formação religiosa, a mãe contou com a ajuda da filha Marcelina, que ensinou Ambrósio com palavras e acções. Marcelina era dez anos mais velha do que Ambrósio.
“Os seus progressos no conhecimento secular acompanharam o seu crescimento na piedade. Foi extremamente vantajoso para si próprio e para a Igreja o facto de ter adquirido um domínio profundo da língua e da literatura gregas, cuja falta é tão dolorosamente evidente no equipamento intelectual de Santo Agostinho e, na época seguinte, do grande São Leão. Com toda a probabilidade, o Cisma Grego não teria ocorrido se o Oriente e o Ocidente tivessem continuado a conversar tão intimamente como fizeram Santo Ambrósio e São Basílio” (James Loughlin em “Santo Ambrósio – The Catholic Encyclopedia” – http://www.newadvent.org/cathen/01383c.htm).
Tornou-se um advogado tão notável que em 370 foi nomeado governador das Províncias da Emília e da Ligúria, com sede em Milão. Nessa época, a luta entre católicos e arianos estava ao rubro. Auxêncio, o bispo de Milão, estava do lado dos arianos. Mas como morreu em 374, o povo teve de escolher o seu sucessor.
“Ambrósio, preocupado com a paz da cidade, ofereceu-se pessoalmente para supervisionar a eleição de um novo bispo. A eloquência com que lidou com a situação teve um efeito inesperado. Ambos os lados respeitavam-no: os católicos pela sua fé e os arianos pela sua honra. Como resultado, a multidão começou a gritar: ‘Ambrósio para bispo!’. Assustado, Ambrósio fugiu. Argumentou que não tinha formação teológica e que nem sequer tinha sido baptizado. No entanto, quando o Imperador Graciano aprovou a sua nomeação, Ambrósio concordou com relutância. Foi baptizado, ordenado sacerdote e depois consagrado bispo” (https://mycatholic.life/saints/saints-of-the-liturgical-year/7-december-saint-ambrose-bishop-and-doctor-memorial/).
A primeira coisa que fez como bispo foi desfazer-se dos seus bens terrenos. Entregou os bens pessoais aos pobres e as propriedades à Igreja, sem se esquecer de cuidar da sua amada irmã. O seu irmão Sátiro ajudou-o a cuidar dos seus deveres temporais, para que se pudesse concentrar nas funções de Bispo.
No que respeita à sua formação doutrinal, o domínio do Grego, do Latim e dos Clássicos facilitou-lhe o domínio das ciências sagradas.
“Para suprir a falta de uma formação teológica precoce, dedicou-se assiduamente ao estudo das Escrituras e dos Padres, com uma marcada preferência por Orígenes e São Basílio, cuja influência se encontra repetidamente nas suas obras. Com um génio verdadeiramente romano, contentou-se, tal como Cícero, Virgílio e outros autores clássicos, em digerir e moldar em latim os melhores frutos do pensamento grego. Os seus estudos eram de natureza eminentemente prática; ele aprendia para poder ensinar. «Ele era um daqueles», diz Santo Agostinho, «que dizem a verdade, e dizem-na bem, judiciosamente, pontualmente, e com beleza e poder de expressão» (‘Doutrina Cristã IV.21’)” (James Loughlin em “Santo Ambrósio – The Catholic Encyclopedia” – http://www.newadvent.org/cathen/01383c.htm).
A influência de Orígenes era evidente na sua maneira de ler as Escrituras (cf. PAIS DA IGREJA, 16). “A sua abordagem das Escrituras era única, pois lia-as frequentemente em silêncio, reflectindo sobre o seu significado no seu coração. Naquela época, a Escritura era normalmente lida em voz alta. Esta prática de leitura interior da Escritura é hoje conhecida como lectio divina e tornou-se o método padrão de oração com as Escrituras. Esta leitura interior das Escrituras, juntamente com a sua formação em Retórica, revelou-se inestimável quando se tornou pregador, atraindo grandes multidões a igrejas repletas. Ambrósio empenhou-se totalmente na sua nova missão eclesiástica. Rapidamente se apercebeu de que não só precisava de aprender e proclamar a fé ortodoxa, mas também de a viver” (https://mycatholic.life/saints/saints-of-the-liturgical-year/7-december-saint-ambrose-bishop-and-doctor-memorial/).
Referiu o Papa Bento XVI, na Audiência Geral de 24 de Outubro de 2007: “Deste modo, Ambrósio transferiu para o ambiente latino a meditação das Escrituras iniciada por Orígenes, começando no Ocidente a prática da lectio divina. O método da lectio chegou a guiar toda a pregação e os escritos de Ambrósio, que surgiram precisamente da escuta orante da Palavra de Deus”.
Ambrósio não era apenas culto, mas era um verdadeiro Pastor que amava o seu rebanho. Por isso, Santo Agostinho comentava que quando ia ter com o Bispo “havia sempre uma longa fila que esperava para falar com Ambrósio para dele obter conforto e esperança. Quando Ambrósio não estava com elas, com o povo (e isto acontecia no espaço de pouquíssimo tempo), restabelecia o corpo com o alimento necessário, ou alimentava o espírito com as leituras” (Papa Bento XVI, Audiência Geral de 24 de Outubro de 2007).
Santo Ambrósio morreu num Sábado Santo, a 4 de Abril de 397, depois de ter recebido o Senhor na Eucaristia.
Pe. José Mario Mandía