PAIS DA IGREJA (27)

PAIS DA IGREJA (27)

Gregório de Nazianzo combinava conhecimento, oração e beleza

Como dissemos na última crónica, São Basílio tinha um amigo que também se tornou um grande Pai (Padre) da Igreja do Oriente: Gregório de Nazianzo. Gregório mostrou como o saber, a piedade e a beleza são postos ao serviço de Deus.

Nascido numa família nobre da Capadócia, por volta de 329 d.C., Gregório recebeu uma boa educação em casa. Dizia que sua mãe o havia consagrado a Deus, enquanto jovem. Mais tarde, foi educado em Cesareia, na Capadócia, depois em Cesareia, na Palestina, e em Alexandria, no Egipto. Foi em Cesareia da Capadócia que Gregório conheceu Basílio, mas tornaram-se grandes amigos quando ambos foram estudar para Atenas.

Gregório, porém, tinha um carácter muito diferente do de Basílio. Este último era bastante extrovertido, mas Gregório preferia o sossego e a solidão: “preferia a contemplação tranquila e a união da piedade ascética e da cultura literária ao esplendor de uma vida activa e de uma posição eclesiástica” (Quasten, III, pág. 236). No entanto, ele “é, sem dúvida, um dos maiores oradores da antiguidade cristã e ultrapassa o seu amigo Basílio no domínio dos recursos da retórica helénica” (Idem).

Sobre a sua preferência pelo silêncio, o próprio Gregório escreveu: “Nada me parece maior do que isto: silenciar os sentidos, sair da carne do mundo, retirar-se para dentro de si mesmo, não se ocupar das coisas humanas para além do estritamente necessário; conversar consigo mesmo e com Deus, levar uma vida que transcende o visível; trazer na alma imagens divinas, sempre puras, não misturadas com formas terrenas ou erróneas; ser verdadeiramente um espelho perfeito de Deus e das coisas divinas, e tornar-se cada vez mais, tirando luz da luz (…); gozar, na esperança presente, do bem futuro, e conversar com os anjos; ter já deixado a terra, embora continuando a habitar nela, levado pelo espírito” (Oratio 2, 7; SC 247, 96).

O seu amor pela solidão levou-o a hesitar em aceitar a vocação sacerdotal. O Papa Bento XVI explica: “Como ele confessa na sua autobiografia (cf. Carmina [historica] 2,1.11, De Vita Sua 340-349; PG 37,1053), recebeu a ordenação sacerdotal com uma certa relutância, porque sabia que mais tarde teria de ser Bispo, ocupar-se dos outros e dos seus assuntos e, portanto, já não poderia estar absorvido na pura meditação” (Audiência Geral de 8 de Agosto de 2007). Apesar disso, obedece.

Por volta de 379, liderou uma pequena mas fiel comunidade católica em Constantinopla. Os arianos superavam-nos em número. Foi aqui que proferiu “cinco Orações Teológicas (Orationes 27-31; SC 250: 70-343) na pequena Igreja dos Anastasis, precisamente para defender a fé trinitária e torná-la inteligível”.

“Estes discursos tornaram-se célebres pela solidez da sua doutrina e pela sua capacidade de raciocínio, que tornava verdadeiramente claro que esta era a lógica divina. E o esplendor da sua forma torna-os também hoje fascinantes. Foi por causa destas orações que Gregório adquiriu a alcunha de ‘O Teólogo’” (Audiência Geral de 8 de Agosto de 2007). Nestas orações, Gregório não se inspira apenas na reflexão humana, mas também na oração e numa vida santa, mergulhando-o na beleza e na glória de Deus. Aqui vemos como se pode pôr a ciência, a piedade e a beleza ao serviço de Deus.

Para além de lutar contra a heresia ariana, abordou também a heresia de Apolinário, que afirmava que Jesus Cristo não tinha uma mente humana, mas apenas uma mente divina. São Gregório argumentou que, sem uma mente humana, Cristo não teria sido verdadeiramente humano. Ao tornar-se homem, Jesus Cristo abriu-nos a possibilidade de participar na natureza divina. “Procuremos ser como Cristo, porque Cristo também se tornou como nós: tornarmo-nos deuses através dele, uma vez que ele próprio, através de nós, se tornou homem. Ele tomou sobre si o pior para nos fazer dom do melhor” (Oratio 1, 5: SC 247, 78 – Audiência Geral de 22 de Agosto de 2007).

Gregório também ensinou que Maria é verdadeiramente “Theotokos”, mãe de Deus, e teve o privilégio especial de ser “purificada antecipadamente” (Oratio 38, 13: SC 358, 132 – Audiência Geral de 22 de Agosto de 2007). O seu ensinamento surgiu muitos séculos antes de o Dogma da Imaculada Conceição ter sido definido em 1854 pelo Papa Pio IX na Bula Papal Ineffabilis Deus.

Gregório de Nazianzo falou também da necessidade de solidariedade e de caridade em acção. “Se tens saúde e és rico, alivia as necessidades de quem está doente e é pobre; se não caíste, vai em auxílio de quem caiu e vive em sofrimento; se estás contente, consola quem está triste; se és afortunado, ajuda quem está atingido pela desgraça. Dá a Deus provas da tua gratidão, pois tu és aquele que pode beneficiar e não aquele que precisa de ser beneficiado…. Sê rico não apenas em bens, mas também em piedade; não apenas em ouro, mas em virtude, ou melhor, apenas em virtude. Supera a reputação do teu próximo, mostrando-te mais bondoso do que todos; torna-te Deus para os infelizes, imitando a misericórdia de Deus” (Oratio 14, 26 De Pauperum Amore: PG 35, 892bc – Audiência Geral de 22 de Agosto de 2007).

O Papa Bento XVI prossegue: “Enquanto Gregório participava no Segundo Concílio Ecuménico, em 381, foi eleito Bispo de Constantinopla e presidiu ao Concílio; mas foi imediatamente desafiado por uma forte oposição, a tal ponto que a situação se tornou insustentável. Estas hostilidades devem ter sido insuportáveis para uma alma tão sensível” (Audiência Geral de 8 de Agosto de 2007). Isto levou-o a demitir-se alguns dias mais tarde.

Regressado a Nazianzo, assumiu a direcção da comunidade cristã. Depois retirou-se na solidão para Arianzum, onde nasceu, e passou o resto da sua vida no estudo, na oração e na mortificação. Foi em Arianzum que morreu, em 389 d.C.

Pe. José Mario Mandía

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