O que significa “Pai da Igreja”?
A Sagrada Tradição é a “transmissão viva da Palavra de Deus” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica nº 13). Na Audiência Geral de 26 de Abril de 2006, o Papa Bento XVI ensinou que a Sagrada Tradição garante a ligação entre a Igreja de agora e a Igreja dos primórdios. A Sagrada Tradição assegura, nas palavras do Papa, o contínuo crescimento de um organismo vivo.
Disse então Bento XVI: “A Tradição é a comunhão dos fiéis à volta dos legítimos Pastores no decorrer da história, uma comunhão que o Espírito Santo alimenta garantindo a ligação entre a experiência da fé apostólica, vivida na originária comunidade dos discípulos, e a experiência actual de Cristo na sua Igreja (…)
Graças à Tradição, garantida pelo ministério dos Apóstolos e dos seus sucessores, a água da vida que saiu do lado de Cristo e o seu sangue saudável alcançam as mulheres e os homens de todos os tempos. Assim, a Tradição é a presença permanente do Salvador que vem encontrar-se connosco, redimir-nos e santificar-nos no Espírito mediante o ministério da sua Igreja, para glória do Pai (…)
Concluindo e resumindo, podemos afirmar, portanto, que a Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade. E sendo assim, neste rio vivo realiza-se sempre de novo a palavra do Senhor, que no início ouvimos dos lábios do leitor: «E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt., 29, 20)”.
O Catecismo da Igreja Católica (nº 78) acrescenta, no ponto 78: “Pela Tradição, ‘a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo em que acredita’ (Dei Verbum 8 § 1). ‘Afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição, cujas riquezas entram na prática e na vida da Igreja crente e orante’ (Dei Verbum 8 § 3)”.
Dado que a Tradição abrange “a pregação, o testemunho, as instituições, o culto, os escritos inspirados” (CCIC nº 12), limitar-nos-emos aqui aos ensinamentos dos “santos Padres” (Dei Verbum 8 § 3).
Usaremos como guia a obra em quatro volumes de Johannes Quasten (Patrology, Maryland: Christian Classics. 1983) e a série das audiências públicas das quartas-feiras, proferidas pelo Papa Bento XVI entre 2006 e 2007.
Nos tempos de São Paulo, o pai era professor ou guia: «Pois, ainda que venhais a ter dez mil tutores em Cristo, não teríeis, entretanto, muitos pais. Porquanto em Cristo Jesus eu mesmo os gerei por intermédio do Evangelho» (1 Coríntios 4, 15).
À medida que a Igreja crescia, visto que o ofício docente era principalmente da responsabilidade do bispo, o título de “Pai” foi-lhe aplicado.
Durante o Século IV, o aparecimento de controvérsias doutrinárias exigiu que outros escritores eclesiásticos defendessem a fé. O título “Pai” também lhes foi aplicado.
Actualmente é feita uma distinção entre “Padre da Igreja” e “escritor eclesiástico”. Quatro características são necessárias para uma pessoa se qualificar como Padre da Igreja: (1) ortodoxia da doutrina; (2) santidade de vida; (3) reconhecimento pela Igreja; (4) antiguidade (primeiros sete séculos do Cristianismo).
Futuramente iremos falar tanto dos Padres da Igreja como dos escritores eclesiásticos mais importantes.
Vale a pena notar também que quando os Padres da Igreja são unânimes num ponto da doutrina, a Igreja considera-la doutrina infalível.
Os Padres escreveram em Grego “koiné” (um compromisso entre o Grego clássico e o Grego popular) ou em Latim. Desde a época de Bonifácio VIII (1298), a Igreja também destacou “os grandes Padres”: quatro do Ocidente (Latim) e quatro do Oriente (Grego).
Os quatro grandes Padres Ocidentais são Jerónimo (342-420), Ambrósio (339-397), Agostinho (354-430) e Gregório, o Grande (540-604).
Os quatro grandes Padres Orientais são Atanásio (296-373), Basílio, o Grande (330-379), João Crisóstomo (347-407) e Gregório de Nazianzo (329-390).
Pe. José Mario Mandía