Alguns livros inspiradores para a jornada
A espiritualidade contemporânea é plural e variada, sendo continuamente enriquecida por santos, místicos, especialistas, escritores e pessoas comuns e honestas, mais os irmãos e as irmãs não-cristãos.
Entre os autores cristãos que continuam a ter um impacto significativo, destacamos por diferentes razões os seguintes: Simone Weil (1909-1943), autora de “Gravity and Grace” (publicado postumamente em 1952); Thomas Merton (1915-1968), autor de “Novas Sementes de Contemplação”; Santa Teresa de Calcutá (1910-1997), “Vem, Sê a Minha Luz. Os escritos privados da ‘Santa de Calcutá’”; Anthony de Mello (1921-1987), “Sadhana: Um Caminho para Deus”; Henri Nouwen (1932-1996), “O Regresso do Filho Pródigo”; Hans Urs von Balthasar (1905-1988), “A Oração”; CS Lewis (1898-1963), “Os Clássicos Exclusivos”; Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), “O custo do Discipulado”; Santa Teresa Benedita da Cruz, TOC, anteriormente Edith Stein (1891-1942), “Essential Writings”; Santa Isabel da Trindade (1880-1906), “Céu na Terra (Notas do Retiro)”; John G. Aintero (1860-1928), “Evolução Mística”; Pierre Theilhard de Chardin (1881-1955), “O Fenómeno Humano”; Dorothy Day (1897-1980), “A Longa Solidão”; Gustavo Gutiérrez (n. 1928), “Beber do próprio poço: itinerário espiritual de um povo”; e Rick Warren (nascido em 1954), “Uma vida com propósitos”.
Adoramos também ler obras inspiradoras de outros cristãos, bem como de autores não-cristãos. Num mundo muitas vezes permeado por livros, romances cheios de violência, luxúria e poder despótico, é revigorante ler livros inspiradores e espirituais que destacam a interioridade, a espiritualidade, a harmonia e a paz.
Neste contexto, lembramos ainda o pequeno e substancial livro “Rumor de anjos: A sociedade moderna e a redescoberta do sobrenatural”, do sociólogo Peter Berger (1929-2017).
Muitos dos livros actuais que mencionamos no último texto desta série, dedicada à espiritualidade, são livros importantes – geralmente, “best-sellers” – para muitas pessoas que vivem neste mundo secularizado. São obras que ajudam a entrar no mundo surpreendente do transcendente, do místico e do misterioso; são como rumores de anjos – vozes suaves e inspiradoras do sobrenatural nas nossas sociedades geralmente seculares, indiferentes, materialistas e consumistas.
“Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti”. Santo Agostinho
Podemos encontrar alegria e esperança nos seguintes livros: “O Profeta”, de Kahlil Gibran (1883-1931); “Gitanjali: Oferenda Lírica”, de Rabindranath Tagore (1861-1941); “O Homem em Busca de um Sentido”, de Viktor Frankl (1905-1997); “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944); “O Homem Eterno”, de G. K. Chesterton (1874-1936); “Jonathan Livingston Seagull” (“Fernão Capelo Gaivota”, na versão portuguesa), de Richard Bach (nascido em 1936); “O Alquimista”, de Paolo Coelho (n. 1947), “Terças-feiras com Morrie”, de Mitch Albom (n. 1958), etc.
As pessoas anseiam por Deus, com um anseio natural que pode ser coberto ou enterrado, mas não destruído. Todas as fontes apontam de diversas maneiras e linguagens para a busca do sentido da vida, da felicidade, da esperança, do amor, da compaixão, do perdão. Consciente ou inconscientemente, individualmente ou em comunidade, todas as pessoas buscam a paz interior e exterior para Deus. Santo Agostinho disse-o bem no início das suas “Confissões”: “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti”.
A teologia espiritual fala das experiências de Deus e dos Seus testemunhos escritos. O objectivo da espiritualidade cristã ou da teologia espiritual na perspectiva cristã (ambas significam substancialmente o mesmo) não é saber-se sobre santidade, mas alcançar uma vida santa. O seu objectivo último é – como para a teologia moral – a visão beatífica de Deus, que é “O Santo” e que continua a convidar mulheres e homens a participar na sua santidade divina, para também nós nos tornarmos santos. São Boaventura escreveu: “A teologia existe para servir à contemplação e para nos tornar santos”. O teólogo Torrell comentou: “A prática da teologia deve fazer com que o teólogo cresça em santidade. Não apenas os teólogos são chamados a isto como discípulos do Santo, mas a sua profissão acrescenta a este chamamento uma exigência singular: eles devem ser santos porque são teólogos”.
Assim, podemos concluir que o maior desafio da espiritualidade no terceiro milénio é, sem dúvida, a prática correcta, a ortopráxis. O estudo da teologia espiritual não consiste apenas em saber, mas em praticar: “Saber e não fazer, ainda não é saber” (Lao-Tsé). Estuda-se a espiritualidade para procurar Deus – o espaço interior –, para ser-se transfigurado, para pregar a Boa Nova de Jesus: justiça caritativa, amor misericordioso, fé e esperança alegre e corajosa. Miguel de Unamuno lembra a todos, em particular aos teólogos, que Cristo não escreveu qualquer livro ou artigo, mas deixou-nos o melhor dos livros: palavras vivas.
A teologia, em geral, e a teologia espiritual e moral, em particular, devem esforçar-se mais para dar ao nosso mundo não apenas artigos e livros teológicos académicos e bem pesquisados, mas também palavras vivas, isto é, o testemunho dos Seus ensinamentos.
Falamos de espiritualidade para o presente. Os cristãos, como muitos outros seres humanos, aprendem com o passado – com os clássicos – e caminham para o futuro com esperança, recorrendo à fidelidade amorosa no presente – um presente permeado pela presença e pela experiência de Deus.
A espiritualidade cristã, diz Yves Congar, é espiritualidade do momento presente: o momento, o nosso momento, é um tesouro, a única coisa que está nas mãos de cada pessoa. Na verdade, como ensinam os zen-budistas: “A vida consiste numa série de momentos vividos ou perdidos”. Os escritores e professores de espiritualidade cristã tentam convencer os discípulos de Jesus e outros da necessidade de transformar a vida diária numa “adoração espiritual que agrada a Deus”.
Pe. Fausto Gomez, OP