PADRE GIOVANNI MERLINI FOI BEATIFICADO A 12 DE JANEIRO

PADRE GIOVANNI MERLINI FOI BEATIFICADO A 12 DE JANEIRO

“Há alguém que te ama antes mesmo de o mereceres”

“Há alguém que te ama antes mesmo de o mereceres”. Esta frase serviu sempre de mote ao padre Giovanni Merlini, sacerdote dos Missionários do Preciosíssimo Sangue nascido em 1795 e beatificado, após um processo que demorou mais de um século, há menos de duas semanas na Basílica de São João de Latrão, em Roma.

Extremamente dedicado às missões do seu povo, o padre Giovanni foi sempre prudente conselheiro e mensageiro da paz. Desobedecendo frequentemente às ordens do legado papal, jamais condenou ou atacou alguém no decorrer das suas homilias. Nem mesmo aqueles que, através das suas actividades criminosas, perturbavam a ordem e a paz interna do Estado Pontifício.

Segundo Merlini, a repressão violenta nunca era o caminho certo para resolver os enormes problemas com que se confrontava toda a Itália central no rescaldo da invasão das tropas napoleónicas. Chegariam a todos as pacificadoras palavras do sacerdote transalpino, inclusivamente aos criminosos mais empedernidos que semeavam o terror nos campos e nas cidades da Península itálica. Mais: alguns desses bandidos chegariam até – por intermédio do padre – a escrever uma carta ao Papa pedindo perdão. Exactamente dois séculos após essa histórica missiva – datada de 1825 – Giovanni foi finalmente proclamado beato.

Presidida pelo cardeal D. Marcello Semeraro, prefeito do Dicastério para a Causa dos Santos, a liturgia da beatificação aconteceu não em Spoleto, cidade natal do beato; nem em Albano, cidade dos Castelli Romani onde viveu diversos anos, mas sim na catedral da Roma eterna, a Lateranense, onde Merlini honra agora um dos seus altares.

Missionário nas terras dos Estados Pontifícios, foi acusado várias vezes de conluio com os fora da lei e de desobediência à Igreja que servia. Mas a sua santidade – latente em si desde muito cedo – estava justamente nesse seu modo de viver com “uma desconcertante liberdade interior”. Confiava em absoluto na suprema “vontade de Deus”. E essa sua “liberdade de acção” levou-o a empreender grandes projectos, às vezes um pouco loucos. O desafio que lançou ao Papa, quando este abandonou Roma devido à insurreição de 1848, é disso exemplo. Disse ele: «Sua Santidade, se quiser regressar a Roma, promulgue a Festa do Preciosíssimo Sangue por toda a Igreja universal. Se o fizer, terá a possibilidade de voltar à Cidade Eterna antes da celebração dessa Festa». Pio IX não garantiu, mas disse-lhe que pensaria no assunto. E, de facto, a 30 de Junho, véspera da Festa do Preciosíssimo Sangue, ocorreu a batalha que, de facto, ditaria o fim da Segunda República Romana. A 10 de Agosto de 1849, fiel à promessa feita em Gaeta, Pio IX emite a Bula Redempti sumus, através da qual a Festa do Preciosíssimo Sangue era inserida no Calendário Litúrgico, no primeiro Domingo de Julho. Hoje, como se sabe, essa festividade funde-se com a Solenidade do Corpus Christi.

Todas as iniciativas do padre Giovanni surgiam no contexto da sua missão de “retransmitir o amor de Deus nas terras dos Estados Pontifícios”, onde era numerosa a população. Todos ali sabiam quem era Jesus Cristo e o que ele tinha feito, mas isso não era o mais importante. Faltava-lhes saber o quanto esse Jesus os amava, e a tal ponto que dera a vida por cada um deles, mesmo os criminosos.

Com São Gaspar del Bufalo, fundador dos Missionários do Preciosíssimo Sangue, o padre Giovanni empreendeu a construção de várias casas de missão nos territórios dos Estados Pontifícios. São Gaspar escolhera-o para essa missão não só pelo seu sentido prático, mas porque era arquitecto de profissão. Muitas dessas casas foram construídas fora das áreas habitadas para facilitar o encontro e o diálogo com os fora da lei. Com os ditos falava amiúde; e eles ouviam-no. Muitas vezes, à noite, quando todos regressavam a casa, o sacerdote oferecia-lhes água, indiscriminadamente; e nunca usava escolta armada.

Foi justamente esta sua maneira de fazer as coisas que levou Pio IX a querê-lo como conselheiro. E para lhe fazer a proposta, o Santo Padre não o convocou a Roma. Foi ele próprio a Albano, onde o encontrou num galinheiro a alimentar as aves. Tarefas que, na congregação, certamente não eram obrigação de um membro de escalão elevado. Merlini, de facto, viria a ser eleito terceiro Moderador Geral da Congregação do Preciosíssimo Sangue em 1847, cargo que ocuparia até sua morte, em 12 de Janeiro de 1873. Sob a sua liderança, a Congregação assumiu o aspecto estrutural que conhecemos hoje.

Missionário nas terras do Papa, o padre Giovanni é também o primeiro beato do Jubileu 2025, dedicado ao tema da esperança. Esta é também uma mensagem forte. Como lembrava em vida, nada devemos tomar como garantido e não há situação que vivamos em que Deus não nos possa ensinar algo.

«Invoquemos também a sua intercessão enquanto rezamos pela paz na Ucrânia, no Médio Oriente e em todo o mundo», afirmou o Papa Francisco, na evocação que fez a propósito da sua beatificação.

Joaquim Magalhães de Castro

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