«A Igreja Católica na Ásia está hoje numa importante encruzilhada»
Durante um Simpósio Internacional realizado na cidade indiana de Bangalore, entre 13 e 14 deste mês, e por ocasião do 25.º aniversário da publicação da Exortação pós-sinodal Ecclesia in Asia, o Secretário-geral da União Missionária Pontifícia, padre Dinh Anh Nhue Nguyen, lembrou que basta uma rápida olhadela ao conteúdo deste documento para nos darmos conta que os temas-chave nele expressos são ainda hoje, um quarto de século após a sua publicação, bastante relevantes. Sobretudo «neste período de sinodalidade preparatório do Ano Santo de 2025».
Emitido pelo Papa João Paulo II, em Novembro de 1999, em jeito de conclusão do Sínodo Especial sobre a Ásia efectuado nesse ano, o Ecclesia in Asia funciona, de facto, como «chamada profética à Igreja» para que esta se envolva na complexa teia das sociedades asiáticas, testemunhando o Evangelho num «espírito de humildade, respeito e cooperação». O importante documento convida todos os católicos asiáticos a participarem no trabalho missionário da Igreja, mantendo sempre «mentalidade aberta e vontade de aprender», no que concerne à multiplicidade de culturas presentes no continente asiático.
Em resumo: Ecclesia in Asia representa um passo importante nos esforços da Igreja para entender e abordar os desafios e oportunidades no seio da gigante Ásia.
O padre Dinh Nguyen lembra ainda que a Exortação surge no enquadramento de «uma estrutura cristológica e missionária», abrangendo os seguintes temas, divididos em sete capítulos: o contexto asiático, que analisa as diferentes realidades da Ásia e reconhece a sua rica herança cultural e religiosa; a figura de Jesus, o Redentor, apresentada como uma «dádiva para a Ásia»; o Espírito Santo, como Senhor e doador da vida para a missão de Cristo e a sua Igreja na Ásia; comunhão e diálogo na missão da Igreja Asiática, especialmente a importância do diálogo ecuménico e inter-religioso; ministério do desenvolvimento humano, que aborda as questões sociais na Ásia, sejam elas a pobreza, os Direitos Humanos ou justiça social; e finalmente, a Igreja como testemunho do Evangelho através do aprofundamento da Fé, da Catequese e da Vida Sacramental. Em todos estes aspectos, São João Paulo II enfatizou a dimensão missionária da Igreja e o papel crucial dos leigos, especialmente da família e dos jovens.
«O mais recente processo sinodal», diz a propósito o religioso vietnamita, «que culminou no documento final “Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão”, reflecte muitos dos temas já formulados no Ecclesia in Asia».
Tanto o Sínodo da Sinodalidade quanto a Exortação Apostólica, enfatizam a importância de ouvir o Senhor, recorrendo à oração e à leitura das Sagradas Escrituras, mas também às experiências vividas pelos fiéis.
«A Igreja Católica na Ásia», continua o Secretário-geral da União Missionária Pontifícia, «está hoje numa importante encruzilhada e urge reflectir sobre a sua missão e identidade dentro do contexto cultural diversificado e dinâmico do continente».
A Ecclesia in Asia não é só um documento fundamental que descreve a missão da Igreja na Ásia, como também surge como um apelo à revitalização «dos seus esforços pastorais e missionários». Este objectivo tornou-se ainda mais premente após o recente Sínodo, sobretudo tendo em vista a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium do Papa Francisco, na qual «a acção missionária é o paradigma para toda a actividade eclesial».
À medida que se aproxima o Ano Jubilar de 2025, os temas da sinodalidade e da renovação missionária formulados em Ecclesia in Asia tornam-se duplamente relevantes para a Igreja asiática, como um todo, e para cada uma das Igrejas individuais presentes no Continente.
Preocupação central da Exortação é que a Igreja se torne «mais missionária na sua perspectiva». Isso significa que não basta apenas proclamar o Evangelho, mas sobretudo vivê-lo na sua essência, de forma a que estabeleça a sintonia com o contexto local. O desafio é incorporar uma fé que fale à esperança e às aspirações do povo asiático e desse modo «promova uma Igreja que seja tanto um rosto universal quanto local».
«Ecclesia in Asia», continua o padre Dinh Nguyen, «apela a uma Igreja sinodal que ouça as vozes de seus membros, abrace a diversidade e promova o diálogo inclusivo».
Nesta jornada, a Exortação coloca ênfase particular nas comunidades marginalizadas, mulheres, jovens e povos indígenas. As suas perspectivas são fundamentais para entender as realidades da Igreja local. Em conclusão, o padre Nguyen observa que «o aspecto missionário da Ecclesia in Asia enfatiza a necessidade de a Igreja ser uma Igreja de esperança e compaixão, num mundo cheio de divisões e sofrimento».
Enquanto a Ásia enfrenta problemas sociais generalizados, como a pobreza, a degradação ambiental e a agitação política, «a missão da Igreja deve ir além da mera proclamação da fé pelas palavras», não poupando esforços, acima de tudo, «na implementação da justiça social e a reconciliação, e permanecendo ao lado dos marginalizados».
Joaquim Magalhães de Castro