Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida (cf. Jo., 14, 6). Seguir Cristo “é o fundamento essencial e primordial da moral”. Para além de escutar os seus ensinamentos e aceitar os seus mandamentos, seguir Cristo implica, radicalmente, “aderir à própria pessoa de Jesus, participar na sua vida e no seu destino, partilhar a sua obediência livre e amorosa à vontade do Pai” (cf. João Paulo II, VS 19).
Quando dizemos “O Evangelho de Jesus Cristo”, queremos dizer que Ele é o Evangelho, que Ele é a Boa Nova de Deus. Do mesmo modo, quando dizemos as bem-aventuranças de Cristo, queremos dizer que Cristo é a bem-aventurança de Deus. As bem-aventuranças são “o bilhete de identidade” dos cristãos e retratam o Mestre para todos. Jesus viveu as bem-aventuranças com amor incondicional pelos homens (cf. Papa Francisco, EG 63, 18). Assim, a própria presença de Cristo é a bem-aventurança: Bem-aventurados os olhos que vêem o que tu vês (cf. Lc., 10, 23), e bem-aventurados os que escutam a palavra de Deus e lhe obedecem (cf. Lc., 11, 28).
As bem-aventuranças são de Cristo, não só porque Ele as pregou, mas porque as viveu na perfeição. De facto, Cristo, durante toda a sua vida e especialmente na sua paixão, é o único que viveu integralmente cada uma das bem-aventuranças. Todas se cumprem na cruz (Jacques Philippe, “Mediações sobre as Bem-Aventuranças”). As bem-aventuranças são o rosto de Jesus e do Pai: Quem me viu, viu o Pai (cf. Jo., 14, 9) com o Espírito Santo, que nos ajuda a compreender as bem-aventuranças e a praticá-las na nossa vida. É interessante notar que Santo Agostinho e Santo Tomás relacionam as bem-aventuranças com os sete dons do Espírito Santo.
De Belém ao Calvário, da pobreza do Presépio à morte na Cruz, as bem-aventuranças compõem a biografia de Jesus (Cabodevilla). As bem-aventuranças são “uma espécie de auto-retrato de Cristo e, por isso mesmo, são convites ao discipulado e à comunhão de vida com Cristo” (cf. João Paulo II, Veritatis Splendor 16).
A nossa tarefa: “Seguir os passos de Cristo” (cf. 1 Pd., 2, 21) e ter os mesmos sentimentos que ele (cf. Fl., 2, 5). As bem-aventuranças resumem-se num só mandamento: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (cf. Jo., 15, 12). Portanto, bem-aventurados os que imitam Jesus. Na verdade, “Jesus prometeu aos seus discípulos três coisas: que eles seriam completamente destemidos, absurdamente felizes e em constante angústia” (cf. F. R. Maltby; in W. Barclay, Lucas 6, 20-26).
Bem-aventurados os pobres de espírito. Jesus era pobre. Ontologicamente pobre: fez-se homem (cf. 2 Cor., 8, 9; Fil., 2, 6-7). Nasceu num berço (cf. Lc., 2, 7), foi sepultado num túmulo emprestado (cf. Mt., 27, 60), não teve durante toda a vida onde reclinar a cabeça (cf. Mt., 8, 20). Levou a Boa Nova aos pobres, confiou absolutamente em Deus Pai.
Bem-aventurados os mansos. Cristo é manso: é perfeitamente paciente com os seus discípulos, com os seus inimigos. “Insultado, não retribuía a injúria” (cf. 1 Pd., 2, 23). A nós, Ele disse: “Aprendei de mim que sou manso” (cf. Mt., 11, 29).
Bem-aventurados os tristes. Jesus chorou – a sua lamentação profética por Jerusalém, pelo pecador (cf. Lc., 19, 4); o seu pranto ao saber que o seu amigo Lázaro tinha morrido (cf. Jo., 11, 35).
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. Jesus tinha fome de justiça e de pão. Ele é a justiça de Deus (cf. Rm., 3, 21). Alimentou milagrosamente os outros (cf. Mt., 14, 14-21), mas não fez um milagre para saciar a sua própria fome (cf. Mt., 4, 2-4).
Bem-aventurados os misericordiosos. Jesus era misericordioso e compassivo. Perdoou todos os pecados (cf. Lc., 23, 34); teve compaixão da multidão (cf. Mt., 9, 36; 14, 14).
Bem-aventurados os puros de coração. Do seu lado, quando crucificado na cruz, jorrou sangue e água (cf. Jo., 19, 34). Os místicos dizem-nos coisas belas e sublimes, ao comentarem o lado ferido do Senhor: esta ferida é o limiar do templo, o refúgio da pomba, a janela da eternidade (JMC).
Bem-aventurados os pacificadores. Jesus era pacífico e pacificador. A paz foi o seu dom, logo após o seu nascimento (cf. Lc., 2, 14), antes da sua morte (cf. Jo., 14, 27) e o primeiro dom após a sua ressurreição (cf. Jo., 20, 19). Pregador da paz, Ele é a nossa paz (cf. Ef., 2, 14), “a paz esteja convosco” é o mesmo que dizer “o Senhor esteja convosco” (Cabodevilla).
Bem-aventurados os que são perseguidos… Cristo anunciou a perseguição e foi perseguido. Se achardes que o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes de vós (cf. João 15, 18). Os discípulos serão como cordeiros para os lobos do mundo (cf. Lc., 10, 3).
As bem-aventuranças continuam a ser essenciais e actuais: são o eco dos problemas humanos de todos os tempos. “São como que a síntese da vida humana, com todas as suas dificuldades, colocada sob a luz da Palavra de Cristo, que veio para nos iluminar” (Ramón García de Haro).
Palavras para reflectir. De José Maria Cabodevilla, no seu excelente livro “As formas da felicidade são oito”: “O que Cristo faz não é bom porque está de acordo com uma moral elevada, mas simplesmente porque Ele o faz: Ele que é o bem absoluto e a fonte de toda a moralidade”. Jesus é a bem-aventurança de Deus, e a vida com Ele é a bem-aventurança em que as oito bem-aventuranças encontram plena realização – as oito bem-aventuranças ou formas de amor. (José Maria Cabodevilla, “Las formas de felicidad son ocho”).
Pedimos ao bom Deus que nos ajude a perceber o significado radical das bem-aventuranças na vida de cada cristão. São oito formas de felicidade, de uma felicidade limitada, mas verdadeira, que começa nesta vida e será perfeita na vida futura, no Reino de Deus. Jesus cumpriu na perfeição as oito bem-aventuranças: Ele é a Beatitude de Deus: a nossa Beatitude radical. Como seus discípulos, esforçamo-nos por imitá-Lo e segui-Lo; por confiar sempre Nele. Nunca nos arrependeremos!
A fé, a esperança e o amor rezam!
Pe. Fausto Gomez, OP