De Erdogan a Marcelo, no intervalo do futebol
Erdogan, o Presidente da Turquia, foi reeleito, assumindo o poder executivo do País. O partido “Aliança do Povo”, que o apoia, ganhou a maioria no Parlamento. A partir de agora podem decidir sozinhos o orçamento, legislar como querem e até nomear todos os juízes. Está aberta a porta a mais uma futura ditadura tratada com pinças, não fora a Turquia um dos membros da NATO (mas que anda a comprar muito armamento à Rússia…).
Tratado com pinças está igualmente o novo Governo conservador da Itália, que juntamente com Malta recusa receber mais emigrantes oriundos do Norte de África, abandonando todos aqueles infelizes à deriva no Mediterrâneo e fugindo às decisões que, sobre essa matéria, foram aprovadas na União Europeia. Há muita gente a questionar-se sobre se cada um faz o que quer, uma vez que há quem não obedeça aos princípios comuns aceites na União Europeia e não é penalizado nas ajudas financeiras que dela recebe.
A propósito de cada um fazer aquilo que quer, aumenta de ritmo a “guerra comercial” iniciada por Trump que, indisposto com a reacção de Pequim em aumentar as taxas aduaneiras para produtos americanos, decidiu aumentar ainda mais os impostos sobre produtos chineses. Esta história vai acabar mal e com prejuízos para todos, tal como a saída dos Estados Unidos do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, seguida da sua política de “tolerância zero” para com os emigrantes ilegais que chegam ao País e a resultante separação entre pais e filhos, colocando estes últimos encarcerados em bases militares. A continuar-se esta política de desumanização, em sociedades que parecem adormecidas por episódicas fabulações económicas, não estranho que as progressivas cedências aos “mais fortes”, em troca de pequenos “rebuçados”, transformem o mundo num pantanal de pervertidos.
Se as cedências fazem parte de qualquer negociação, não me parece que tudo se negoceie facilmente entre a União Europeia e o Reino Unido, o qual, a avaliar pelas enormes e recentes manifestações em solo inglês, parece cada vez mais desunido em relação ao Brexit. Ao princípio tudo parecia fácil para os britânicos: Saíam da União Europeia mas continuavam nos mercados desses países. Como tal lhes foi negado o Governo britânico tentou (e tenta) escoar os seus produtos pela República da Irlanda, o que também lhe está a ser dificultado. Que fazer? Voltar atrás na decisão do referendo? O Governo diz que não, mas a população interroga-se crescentemente sobre o rigor e o resultado de todo aquele discurso populista que a conduziu à saída da União Europeia.
Populismos há muitos e não apenas na política. Também há no desporto, mais concretamente no futebol português. Assunto que encheu os jornais e ecrãs televisivos portugueses durante toda a semana, e que “parece” ter chegado ao fim, foi a saga do Sporting Clube de Portugal. E digo parece porque o agora ex-presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, que muda de opinião como quem muda de camisa, decidiu finalmente aceitar a conclusão da Assembleia Geral do clube, realizada no último fim-de-semana, que por uma maioria de cerca de 71 por cento, contra 28 por cento, o destituiu das funções que exercia. Mais recentemente, a Comissão de Gestão criada para este período transitório impediu-o de entrar no Estádio de Alvalade. Despedido de presidente do Sporting e da SAD, Bruno de Carvalho prometeu no entanto voltar “à carga” nas próximas eleições previstas para Setembro. Isto se, como vem sendo habitual, não voltar a recuar nas suas declarações.
Por esclarecer ficam algumas dúvidas sobre se os jogadores que rescindiram por justa causa estarão dispostos a negociar a sua partida com algum benefício para o clube; quanto ao futuro da contratação do novo treinador (que ainda não treinou) e de novos jogadores; acerca do resultado de um inquérito a Bruno de Carvalho e à sua gestão financeira do clube; e como é que o Sporting vai agora entrar nas competições desportivas, a poucas semanas do seu início.
No resto da actualidade portuguesa e nos intervalos do futebol da “Segunda Circular de Lisboa” e do honroso apuramento para os oitavos de final do Campeonato do Mundo conseguido pela nossa selecção nacional (apesar do sofrimento…), o sindicato dos professores decidiu fazer uma greve à avaliação final dos alunos, exigindo que todo o tempo de serviço que lhes foi suspenso, para efeitos das suas promoções automáticas, durante a permanência da Troika em Portugal, seja pago pelo Governo. Este não cedeu em toda a linha, evocando não haver dinheiro suficiente para pagar tudo e porque (suponho) todas as outras categorias profissionais anteriormente prejudicadas iriam exigir o mesmo. Como consequência directa, os alunos foram para exames sem saberem se os poderiam ter dispensado, e o Governo baixou nas intenções de voto.
Além disso, excluindo algumas quezílias internas do PSD e do CDS e um súbito desmaio do Presidente da República, originado por uma intoxicação alimentar na sua viagem à Rússia, pouco mais há a assinalar. O “homem” já se encontra bem-disposto e preparado para mais uma maratona de “selfies”, beijinhos, “recados políticos” e uma próxima visita às terras do Tio Sam (só espero que não o confundam com um Mariachi!).
LUIS BARREIRA