Olhando em Redor

Os galgos precisam de nós

Não lembro bem ao certo qual a razão, mas na década de 90, cumpria eu serviço militar no CFMTFA, antiga Base da Ota (Portugal), acolhemos na secção cinófila um galgo, ao qual demos o nome de “birote” (com pronúncia do norte).

Nos meses que sucederam até à sua adopção, autorizados pelo nosso “chefe” Luís Mota Correia, cuidámos do “birote” – demos-lhe comida, um canil e cuidados veterinários – como se fosse um dos nossos pastores alemães, com a excepção de não lhe darmos qualquer tipo de treino militar. O “birote” ficou depois em boas mãos, segundo soube, o que me deixou descansado, sem nunca mais pensar nele… até hoje!

O drama relacionado com os galgos do Canídromo tem três intervenientes-chave: enquanto a Sociedade Protectora dos Animais de Macau – ANIMA procura uma solução para garantir que os canídeos possam ser adoptados, o Governo de Macau e a Companhia Yat Yuen nada mais fazem do que lavar as mãos sobre o assunto.

É triste que assim seja, tendo em conta que o Canídromo vai (finalmente) fechar portas e que também está em causa a imagem de Macau além fronteiras, algo a que o Governo e a Yat Yuen parecem não dar a devida atenção.

Milhares e milhares de galgos que ao longo das últimas décadas passaram pelo Canídromo tiveram sortes diferentes do “birote”: muitos deles foram pura e simplesmente descartados do mundo dos vivos, ou seja abatidos, após ultrapassarem o limite competitivo, uns por idade e outros por lesão.

Tamanha “desumanidade”, já para não dizer “atitude criminosa”, é reveladora do quanto Macau está cristalizada no tempo. Os poderosos desta Cidade do Santo Nome de Deus poderiam dar um fim digno a todo este episódio, mas os seus corações empedrados fazem com que apenas pensem nos cifrões.

Urge, pois, também eu mostrar a minha solidariedade com a ANIMA, presidida por Albano Martins, apelando aos cidadãos de Macau para a adopção de galgos, desde que prestem todos os cuidados essenciais ao seu bem-estar físico e psicológico.

O galgo é por natureza um animal pacífico, mas muito independente. Dotado de bastante energia, precisa de fazer exercício, sob pena de se tornar num animal frustrado. Pelo seu carácter, pode fazer as delícias das crianças e ser o companheiro ideal dos adultos, pois apega-se com facilidade aos donos. Contudo, devido ao comportamento algo reservado, precisa de ser instruído ao nível da disciplina, por forma a se tornar mais sociável.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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