Caça ao dinheiro voador
Caiu que nem uma bomba a detenção de 18 funcionários da australiana Crown Resorts, por crimes relacionados com o jogo que terão sido praticados no continente chinês.
O incidente foi de certa forma desvalorizado por Paulo Martins Chan. «Até ao momento não vemos qualquer impacto em Macau.
Pelo contrário, este caso é um “lembrete” de que quando as operadoras do jogo aqui [em Macau] realizam as suas operações de “marketing” no interior da China têm de ter um claro entendimento das leis e cumpri-las», disse o director da Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), citado pelo portal GGRAsia.
Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, já havia dito que as detenções não teriam relação directa com as operadoras de jogo da RAEM. Por seu lado, a imprensa australiana noticiou que mais dez indivíduos foram detidos posteriormente na China continental, dando-os como “organizadores chineses de junkets” com ligações a Macau.
Sem beliscar as reacções de Paulo Martins Chan e de Lionel Leong, num raio mais alargado a envolver os “junkets”, é necessário entender o seguinte: nos dias que correm, cobrar dívidas de jogo no continente chinês põe em causa a estabilidade social e, porventura, a segurança nacional, sendo a prática necessariamente investigada e fiscalizada pelas autoridades chinesas.
É preciso lembrar que uma das recentes ambições políticas é precisamente o combate à fuga de capitais, seja da China continental para o exterior ou tendo Macau como ponte de passagem.
Xi Jinping
O Presidente da República Popular da China viu, na semana-passada, o seu poder reforçado no Partido Comunista Chinês, ao ser anunciado como líder “central”, o que na prática torna o também secretário-geral do PCC na pessoa mais poderosa do País.
Xi Jinping tem sido uma figura incontornável desde que ascendeu ao poder em 2012, ao apostar em políticas reformistas assentes no combate à corrupção a todos os níveis e no desenvolvimento das províncias mais pobres, no salto tecnológico, entre outras políticas.
O reforço de autoridade é visto com preocupação pelos analistas ocidentais, suspeitando-se que Xi Jinping possa ficar no poder para além do período previsto de dez anos. Não me surpreende que tal venha a suceder, como secretário-geral – o cargo mais importante – visto que para os mesmos analistas a China precisa de um líder carismático que, em coordenação com o Primeiro-Ministro, dê resposta aos desafios (e ameaças) que o País enfrenta.
Olhando em retrospectiva para a História da China, percebe-se que Xi Jinping está longe das actuações atrozes cometidas por líderes do regime de tempos não muito recuados. Quanto a este aspecto, o corte com o passado é evidente.
Por outro lado, não se pode exigir à China a adopção de padrões ou modelos democráticos conforme estão instituídos no Ocidente (há vários). A RPC irá encontrar o seu caminho. Duvido é que seja à moda americana ou escolhendo alguma das várias alternativas vigentes na Europa, porque – note-se bem – o primeiro grande passo da reforma política chinesa já está em execução: o combate à corrupção.
Apesar de Xi Jinping reforçar o poder, também não significa que o gigante asiático se isole do mundo. E ao contrário do que a maioria pensa, a China até nem está tão afastada dos princípios que o Ocidente considera basilares, dado que o combate à corrupção e a melhoria das condições de vida das populações já fazem parte do pensamento político chinês, no que às relações externas dizem respeito.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com