Atraindo a atenção de Deus
Quando o cardeal D. Joseph Ratzinger (futuro Papa Bento XVI) era o perfeito da Sagrada Congregação para a Doutrina e a Fé, vivia mesmo do outro lado da Praça de São Pedro. Como o seu escritório se situava no lado oposto, ele atravessava a Praça a pé, diariamente, para ir trabalhar, vestido com a simples batina preta. Aconteceu que, numa das vez, alguns turistas abordaram-no. Não porque o tivessem reconhecido, simplesmente queriam pedir-lhe para lhes tirar uma fotografia. E foi o que fez, de bom grado, sem se preocupar que os turistas não tivessem reconhecido o chefe de um dos departamentos mais importantes do Vaticano. Quando da sua eleição, Bento XVI disse que se considerava «um humilde trabalhador da vinha do Senhor».
Os Evangelhos dão-nos muitos exemplos de humildade. Temos um exemplo em São Lucas, quando conta a história de Zaqueu. O rico cobrador de impostos desejava ver Jesus, e quando a oportunidade se concretizou fez algo que apenas uma criança faria: trepou a uma árvore para poder ver melhor. E com isso atraiu a atenção de Jesus.
«Zaqueu, despacha-te e desce daí; porque Eu tenho que ficar em tua casa hoje (Lucas 19:5)». Eu tenho! Em outras ocasiões Jesus disse que Ele tinha que sofrer, Ele tinha que morrer, Ele tinha que renascer. Agora Ele tinha que ver Zaqueu. E imediatamente!
Homem feliz! Ao subir para o sicômoro, Zaqueu sabia que estava a fazer de palhaço – era humilhante e ridículo para um cobrador superior de impostos efectuar uma acção tão infantil. Mas foi assim que fez com que Jesus virasse a cabeça para o ver, e desse modo criou uma situação em que Jesus tinha que fazer algo por ele. Ao trepar a árvore, rebaixou-se aos olhos dos homens, humilhou-se, expôs-se à humilhação. E a sua humildade atraiu o olhar de Jesus.
O que significa ser humilde? Ser-se humilde significa ser-se realista. Saber-se quem e o que somos, e sabermos quem e o que é Deus. Santo Agostinho rezava assim: “Noverim me, noverim Te” (Deixem conhecer-me, deixem-me conhecê-Lo). Significa deixar o Espírito Santo pesquisar o meu coração com a Luz da Verdade e o Fogo do Amor.
Humildade é realismo. Para algumas pessoas ser-se realista significa olhar apenas para os problemas. Mas o que eles não conseguem ver é que há Alguém muito maior que os problemas. Humildade é realismo. Faz-nos descobrir o bom que Deus fez por mim e confessar o mal que fiz.
A humildade de Zaqueu era sincera. Isso levou a que Ele se dispusesse a fazer duas coisas: partilhar os bens recebidos e a arrepender-se e a compensar o que tinha feito de mal. «Vê, Senhor, darei metade dos meus bens aos pobres; e se tiver defraudado alguém em alguma coisa, eu retribuirei em quadruplicado».
A humildade leva-nos a dar com generosidade porque os presentes que Deus nos deu foram concedidos para uma missão explícita, uma missão única a cada um de nós. Há responsabilidades agregadas a cada presente concedido por Deus. «A cada um a quem muito foi concedido, a mais lhe será exigido; e àqueles a quem os homens cometeram muito, a mais lhes será pedido (Lucas 12:48)».
A humildade leva-me a lamentar as ofensas que fiz a Deus e aos outros. Isso requere que eu restaure a honra, ou o respeito, ou a paz, ou a alegria, ou as posses materiais que eu injustamente lhes tenha retirado. Esse facto leva-me a reparar os danos que causei, por intermédio de actos de amor e serviço.
O orgulho faz-nos desejar chamar a atenção dos homens. A humildade torna-nos capazes de chamar a atenção de Deus.
Pe. José Mario Mandía