Sir Anders Ljungstedt

Um sueco interessado na História de Macau

No contexto da visita do Papa Francisco à Suécia, recordamos Sir Anders Ljungstedt (1759 – 1835), comerciante de origem sueca que se estabeleceu em Macau, tendo sido designado pelo seu Governo como cônsul da Suécia na China.

«Sendo um dos mais importantes, se não mesmo o mais importante elemento da comunidade comercial sueca por estas paragens, Ljungstedt não se limitava às suas actividades comerciais, pois mantinha relações de carácter político e de representação do seu país junto, não só das autoridades portuguesas, mas também das influentes comunidades inglesa e americana que exerciam actividades no Delta do Rio das Pérolas», disse a’O CLARIM o jornalista e investigador João Guedes.

«Neste âmbito, e ao que parece a pedido dos comerciantes americanos, iniciou um projecto destinado a estabelecer a legitimidade histórica da presença portuguesa em Macau. Para esse efeito, Ljungstedt contou com o precioso auxílio do bispo de Pequim, D. Joaquim de Sousa Saraiva», prelado que «escalou em Macau, em 1805, com destino à diocese de Pequim».

«As autoridades imperiais da China, no entanto, impediram que tomasse posse do cargo, pelo que teve de ficar a aguardar alguns anos em Macau [até ter] autorização imperial para o efeito. Durante esse período D. Joaquim dedicou-se a recolher e estudar os manuscritas que se encontravam nos arquivos da diocese macaense com o intuito de, tal como Ljungstedt, fazer uma história de Macau», explicou João Guedes.

«Diga-se, entretanto, que ambos estabeleceram relações de interesse mútuo pelo passado local, o que levou a que o bispo português acabasse por facultar, e provavelmente traduzir para Inglês, muita da documentação que tinha coligido e que facultou a Ljungstedt», continuou.

D. Joaquim chegaria a concluir a tarefa em que se empenhara, por «nunca ter publicado a sua almejada história de Macau». Ljungstedt, por seu turno, «publicaria um profundo estudo sobre a cidade, baseado nos manuscritos de D. Joaquim», que «acabaria por se constituir como a primeira história do Território».

«Este estudo viria a ser dado ao prelo em Boston, nos Estados Unidos, em 1836, com o título “An Historical Sketch of the Portuguese Settlements in China and the Roman Catholic Church and Missions in China & Description of the City of Canton”», recordou, acrescentando que «Ljungstedt viria a ser acusado de tentar, com aquela obra, minar a presença portuguesa em Macau, ao concluir pela inexistência de provas documentais sobre a alegada oferta de Macau a Portugal pela China em troca do auxílio na luta contra os piratas».

Ljungstedt morreu em 1835 e encontra-se sepultado no chamado Cemitério Protestante de Macau, perto do Jardim de Camões.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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