Olhando em Redor

Glutões

Depois dos “Panama Papers”, eis que aparecem os “Bahamas Leaks” com a merecida pompa e circunstância que demostra o quanto monstruoso e corrompido anda o mundo, por estar a saque dos poderosos e detentores do poder, invariavelmente associados ou reféns das teias oligárquicas e do “establishment”.

Já nada me surpreende, nem mesmo o quanto perniciosa tem sido a Imprensa de uma forma geral, por dar voz a criminosos de colarinho branco, que a salvo do seu estatuto social, e poder, clamam inocência aos olhos da sociedade, sendo algo tão repugnante como todas as guerras que ceifam milhares de vidas em todo o mundo.

Outros há que apenas por pura ganância pretendem engordar um pouco mais as suas fortunas, socorrendo-se de paraísos fiscais que nada mais são do que máquinas que contribuem para o empobrecimento de muitas economias mundiais.

O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação que anda a vasculhar os ficheiros do chamado “Panama Papers” tem o mérito de denunciar flagrantes situações de vergonha praticadas por influentes personalidades mundiais, mas esquece muitas vezes que muito do grande mal que sucede à escala global nesta matéria até parte do país que contribui sobremaneira para a propagação deste tipo de práticas desprovidas de ética: os Estados Unidos!

Trata-se de um país com leis obsoletas que potencia a evasão fiscal, por parte de muitas empresas, enquanto o cidadão comum quase que é “preso por ter e por não ter cão”.

Centrando-me em Macau, foi há poucos dias tornado público que Chui Sai On e o irmão Chui Sai Cheong estão referenciados nos “Bahamas Leaks” por terem sido directores da empresa Yee Shing International Limited, com sede nas Ilhas Virgens Britânicas. Chui Sai On foi director, entre 31 de Julho de 1997 e 30 de Julho de 1999, demitindo-se a doze dias de ser anunciado como futuro secretário para os Assuntos Sociais e Cultura.

Quanto ao irmão, Chui Sai Cheong, foi membro-fundador em 1993, para se demitir no ano seguinte, voltando a integrar a administração da empresa em 1997. O mesmo saiu em Julho de 2012, no ano anterior à obrigatoriedade de ter que entregar a Declaração de Bens Patrimoniais e Interesses na RAEM.

Muito mais do que desfiar todo este intricado novelo, impõe-se encontrar urgentes respostas para a seguinte questão: o que terá realmente levado personalidades como Chui Sai On e Chui Sai Cheong, entre outras, a fazerem parte de empresas “offshore”, tendo em conta que os impostos em Macau para pessoas singulares e pessoas colectivas extra-jogo são quase irrisórios?

 

Cultura

É com grande tristeza que tive conhecimento das dificuldades por que passou a Associação Amigos do Livro em Macau para contar com o devido apoio do Instituto Cultural, com o intuito de levar a cabo o Fórum do Livro de Macau, entre 24 de Outubro e 3 de Novembro em Lisboa. O apoio facultado é de 119 mil patacas, correspondendo sensivelmente a um quatro do que foi pedido ao Instituto Cultural.

E porque o Instituto Cultural está sob a alçada da secretaria para os Assuntos Sociais e Cultura, apraz-me construir este encadeado de palavras: São 400 mil patacas para a realização do Fórum do Livro de Macau. Eu penso que é razoável, uma vez que temos que agradecer à Associação Amigos do Livro em Macau por promover o território fora de portas. Para o Governo, 400 mil patacas, em termos de investimento na cultura, não é um montante elevado, até porque, como já disse o secretário Alexis Tam, construir uma faculdade de medicina custa milhões e milhões de pataca.

 

Impérios

O primeiro debate entre os candidatos republicano e democrata à presidência dos Estados Unidos demonstrou o quanto decadente anda a superpotência mundial.

Num chorrilho de acusações entre Donald Trump e Hillary Clinton, ficou realçada a ideia de que qualquer que seja o próximo líder dos Estados Unidos o mundo não estará a salvo das arbitrariedades comummente praticadas a favor do ideal americano, em detrimento da paz mundial. É mau que assim seja.

Temo, porém, que algo irá mudar com a subida ao poder, seja de Donald Trump ou de Hillary Clinton: os Estados Unidos vão perder a hegemonia mundial, a favor da República Popular da China, fechando-se assim um ciclo. Ficará por saber até que ponto o acentuar de clivagens étnicas e raciais em solo norte-americano irá ou não precipitar o País para uma espécie de guerra civil.

A dualidade de critérios dos americanos fortalecem e dão cada vez mais razão às críticas de Vladimir Putin e de Rodrigo Duterte, que têm demonstrado ser necessário haver cada vez mais coerência, em vez de hipocrisia, para que uma potencia continue a ser predominante à escala global. A grande incógnita é saber se o mundo ficará melhor, mais humano e seguro, com a hegemonia chinesa.

Apenas uma derradeira nota em relação aos Estados Unidos: as lições da História ensinam-me que nenhum império é intemporal. Para comprovar a minha ideia nada melhor do que olhar para o que é feito do Império Romano, do Império Mongol, do Império Espanhol, do Califado Omíada, do Império Qing, do Império Português, do Império Otomano e do Império Persa, entre outros….

PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com

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