Taxistas internacionais
As férias de Verão constituem uma soberana oportunidade para viajar e contactar com outras civilizações e modos de vida diferentes daqueles a que estou habituado, deparando-me invariavelmente com situações perfeitamente resolvidas nos destinos por onde passo, mas que estão ainda por encontrar respostas adequadas em Macau.
Ao aterrar no Aeroporto Internacional de Mactan, em Cebu (Filipinas), dirigi-me para a zona dos táxis, perfeitamente identificada com os dois tipos de veículos à disposição (brancos e amarelos) e respectivo tarifário.
Optando pelos táxis brancos, foi-me dado um pequeno “formulário de queixa” com a indicação da matrícula do veiculo que me prestaria o serviço, assim como o ponto de partida, os contactos telefónicos das autoridades competentes na eventualidade de ser vítima da arrogância do condutor, de pagar mais do que o estipulado, de condução descuidada, de me ser recusado o transporte, etc.
Idêntica medida está instituída em muitos hotéis e centros comerciais, razão suficiente para os turistas e as pessoas em geral se sentirem protegidas da ganância dos garimpeiros do volante.
E quando mandei parar um táxi na rua? Se a deslocação não era para muito longe, correu tudo na normalidade. Contudo, se era algo distante havia sempre a desculpa de me cobrarem uma taxa adicional, seja por causa do congestionamento do tráfego automóvel, seja por o condutor regressar sem passageiros. Também havia a opção de rejeitar tais atitudes e acenar para outro taxista…
Curiosamente, houve um que me tentou enganar à descarada. Assim que entrei no veículo tive o cuidado de olhar para o taxímetro, que corria não tínhamos ainda iniciado a viagem. Quando deparei com o defeito no taxímetro, estava já a meio da jornada, ao ouvir a sugestão forçada do condutor para lhe pagar determinada quantia – obviamente sobrevalorizada – inquiri-o sobre a razão de me querer enganar.
Sentindo-se ofendido, teceu desculpas esfarrapadas que não demoveram o meu propósito de o confrontar, pois expliquei-lhe o seu modo de actuar. O mesmo a que muitos taxistas de outras paragens já se habituaram…
Posto isto, quis ele que a deslocação ficasse por sua conta, porque nada mais lhe abalava a consciência do que ser vítima de acusações infundadas. Sorri contidamente e quando chegámos ao local pretendido, atirei: “Aqui está. Pago-lhe isto, porque é o devido. Quanto à sua honestidade, acreditaria se não quisesse iniciar a corrida com o taxímetro a contar há já algum tempo. E quanto ao defeito do taxímetro: se não quiser que duvidem de si então conserte-o”.
Mascate
A minha reacção extemporânea nada teve de heróica, até porque foi em resultado de um acumular de situações em tão curto espaço de tempo e que me terão levado ao desespero. Uma delas aconteceu assim que aterrei em Mascate, capital do Sultanato de Omã.
Sem conhecer muito estas paragens, fui logo abordado por uma miríade de árabes que ofereciam os seus serviços de táxi. Abatido pelo cansaço e induzido em erro por um balcão de táxis para turistas, acedi aos préstimos de um sorridente taxista, que negociou comigo o preço a pagar pela corrida: nove riais de Omã, que durante a viagem subiram para dez, implorando no final por onze (no regresso paguei apenas seis riais).
Os táxis de Mascate não estão dotados de taxímetros, razão pela qual quem é novo na cidade terá de negociar o preço a pagar pela deslocação. “Sou honesto. Ao contrário do que fazem os outros, nunca subo os tarifários. Se quiser, pergunte no hotel e ficará a saber o quanto sou honesto”, explicou-me num Inglês perfeitamente compreensível.
Depressa percebi o quão desavergonhado era este taxista. E depois de estar informado sobre o “modus operandi” no sector, tive em mente que determinados preços estariam de acordo com certas distâncias, não havendo assim como ser vergonhosamente enganado. E foi desta forma que me deparei com o Ali, que me queria dar a volta, mas acabou por baixar o preço e proporcionar-me momentos de muitas gargalhadas, não só pela conversa em si, mas por neste mesmo dia – na verdade, já era de noite – me ter deparado novamente com ele de forma completamente inadvertida. “Estás a perseguir-me Ali?”, perguntei-lhe em Inglês. Ao que respondeu: “Sim”.
A cereja no topo do bolo foi quando viajei de “Matrah Souk” para a Rua Sultão Qaboos, pois ouvi coisas inacreditáveis de um outro taxista, que me proporcionou mais uma ronda de imensas gargalhadas.
Banguecoque
Quando alguns dias depois aterrei em Banguecoque não fui de modos quanto à minha intransigência em não entrar num táxi e pagar duzentos baht por uma corrida ao cento da cidade, que me custou 70 baht com um taxista honesto, visto ter accionado o taxímetro. A razão para não ser trapaceado? Já estou habitado à forma de proceder dos taxistas da capital tailandesa.
Por outro lado, fiquei bastante agradado com o eficiente sistema de táxis no Aeroporto Internacional de Suvarnabhumi, visto ser difícil qualquer turista mais incauto ser enganado por algum trapaceiro do volante, pois basta dirigir-se ao exterior, premir o botão da máquina dos táxis e ter um bilhete com a matrícula, o nome do condutor, a hora, o número da linha onde está parado, para além dos contactos das autoridades competentes em caso de queixa.
Macau
Infelizmente, os taxistas da RAEM não primam, grosso modo, pelo bom humor, nem pelo hábito de perguntar primeiro e fazer depois. Em jeito de conclusão: não há desculpa para Macau não ter um sistema eficiente de táxis. As medidas de excelência são conhecidas, pois estão em prática noutros pontos do mundo. Se não são adoptadas, será apenas por conservadorismo e por sujeição aos poderes relacionados com a cartelização no sector.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com