O que nos dá cabo da saúde
Macau é apregoada por governantes e empresários locais como sendo uma cidade única no panorama asiático, mas grande parte da retórica e falácia incrustada nos seus discursos dão-me alguma vontade de rir.
Cingindo-me à Saúde, o Hospital Conde de São Januário continua uma vergonha, pois há casos de diagnósticos errados que põem em causa a vida das pessoas, optando várias delas (com algumas posses) por socorrer-se das alternativas existentes em Hong Kong, Tailândia e Portugal, entre outros destinos que lhes inspirem melhor confiança.
O Hospital Kiang Wu é outra vergonha, pois o serviço piorou nas consultas externas e os preços exorbitantes praticados nas especialidades fazem-me pensar o que andará verdadeiramente na cabeça da família Chui e dos deputados que não há muito tempo se insurgiram na Assembleia Legislativa contra a concorrência do São Januário.
A melhor opção ainda é o Hospital Universitário da Universidade de Ciência e Tecnologia, mas embora tenha pessoal bastante competente os preços são um obstáculo para muitas famílias, fazendo com que o serviço de excelência não chegue a todos.
Em Macau também há clínicas privadas com supostos médicos ou profissionais de saúde que nada mais são do que autênticos sapateiros ou vigaristas. Nuns casos, porque parecem não perceber da poda, limitando-se a receitar medicamentos que não curam o paciente, que terá de retornar ao “local do crime” ou, se for inteligente, procurar outra alternativa. Noutros casos, porque também há quem goste de extorquir dinheiro com exames “para isto e para aquilo”, obviamente em conluio com terceiros.
É ainda ponto assente que Macau não está minimamente preparada para ser um centro de referência na Ásia ao nível do “Turismo de Saúde e Bem-Estar”, pois carece de ofertas equivalentes às que, por exemplo, encontramos na Tailândia, onde o conceito está há muitos anos implementado com grande sucesso.
Numa recente ida a Banguecoque, aproveitei para fazer o “body check-up” no Hospital Vibhavadi, em vez de ir ao famosíssimo Bumrungrad. Não precisei de marcar consulta, pois só foi necessário chegar ao balcão, dizer ao que ia, apresentar o meu passaporte e escolher o pacote de exames que pretendia. No meu caso, optei por um que incluía vinte exames que percorriam várias especialidades (cardiologia, urologia, dentária, oftalmologia, etc.), com direito a um cupão para o pequeno-almoço. Tudo pela módica quantia de 7,800 thai baht (1,756 patacas).
O mais surpreendente, para além do preço e do asseio das instalações, foi a eficiência dos profissionais de saúde, tanto médico, como de enfermagem, assim como o curto tempo de espera no atendimento entre especialidades. O certo é que ao fim de três horas ouvi o relatório final da médica, com os resultados na mão.
Aproveito para fazer uma ressalva: os meus reparos não vão para o trabalho do secretário Alexis Tam, que reconheço ser meritório na melhoria geral no sector público da Saúde em Macau, nem para os excelentes profissionais que desenvolvem a sua actividade no São Januário e no Kiang Wu (até porque também os há), sem esquecer as clínicas privadas que primam pela competência, aliada a uma tabela de preços equilibrada.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA