Síria, A verdadeira História (4)

Morrer à fome

Rodearam a cidade e estabeleceram um cerco militar. Quero dizer, bloquearam totalmente uma cidade com cinco milhões de habitantes. Mesmo que o exército tivesse tentado recapturar as vias de acesso, só o conseguiriam ao fim de mais de um ano. Com isso, com todos os acessos bloqueados, ninguém entrava ou saía da cidade; nada entrava e nada saía. O combustível existente foi totalmente usado, rapidamente deixaram de se ver veículos nas ruas. Não havia gás e as pessoas, que estavam habituadas a ter tudo, tiveram que sair à rua e cortar ramos de árvores (para usar como lenha) para poderem cozinhar algo para comer.

Tínhamos apenas uma ou duas horas de energia eléctrica por dia, isto é, quando havia electricidade. Nessa altura a cidade de Aleppo já estava sem electricidade há 50 dias. O fornecimento de água acontecia uma vez por semana, ou de dez em dez dias. E por poucas horas.

Durante o tempo do bloqueio a situação foi terrível devido ao problema da escassez de alimentos.

Pense um pouco nisto: viver numa grande cidade, onde todos os produtos são perecíveis – fruta, vegetais, carne. Tudo vinha das explorações agrícolas. E tudo desapareceu… rapidamente.

Sobrevivemos como pudemos. Arroz, “noodles”, enlatados. As pessoas diziam: «Estão a deixar-nos morrer à fome e de sede, enquanto o mundo não se apercebe do que se passa». Aleppo nunca apareceu nas notícias durante aquele ano e meio. E estamos na era das comunicações. Tudo se sabe: uma mensagem de “WhatsApp” daqui (Espanha) chega à China em dois segundos.

O que fizeram para manter este segredo; para evitar que o mundo tomasse conhecimento do bloqueio de uma cidade de cinco milhões, durante mais de um ano?

Coisas destas não acontecem por acaso. Estas coisas são planeadas. O cerco era ampliado pelos ataques constantes, porque era nos subúrbios que os combates entre os grupos fundamentalistas e o exército se desenrolavam. Mas o terrorismo é uma guerra suja. Não é como uma guerra (pelo menos como eu imaginava que fosse uma guerra), onde existe um campo aberto, com um exército de um lado e o exército inimigo do outro, e onde nas cidades e nas aldeias as pessoas escrevem cartas aos seus soldados e rezam por eles. Não, não, não! Esta é uma guerra dentro da própria cidade.

Eles disparam continuamente sobre os civis. Manietaram e castigaram a cidade de Aleppo. Não há um único distrito da cidade que esteja livre da guerra, que seja seguro. Não se pode dizer: “Bem, aqui, eles não disparam contra ti, eles não te atacam. É impossível que venham a atacar este lugar – há um hospital, há uma escola para crianças…” Mas não, eles também atacam hospitais!

De facto, os primeiros a sofrer foram os distritos cristãos de Aleppo. E as igrejas. Mas, no contexto geral, toda a cidade foi atingida pelos terroristas.

A Síria tem cerca de 21 milhões de habitantes, e o número estimado de refugiados é de 12 milhões (mais de metade da população do País, cujas casas se encontram agora neste estado).

Qual a solução para isto?

Irmã Maria da Guadalupe Rodrigo

(Tradução: Pe. José Mario Mandía e António R. Martins)

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