Tensão no Mar do Sul da China
O almirante Harry Harris, chefe das forças militares dos Estados Unidos no Pacífico, disse esta semana em Pequim: «O nosso exército vai continuar a voar, navegar e operar sempre e onde quer que o Direito Internacional o permita», acrescentando que «o Mar do Sul da China não é – e não será – uma excepção».
A declaração proferida no Stanford Center, na Universidade de Pequim, surgiu após o contratorpedeiro lança-mísseis USS Lassen, da Marinha norte-americana, ter na semana passada navegado a menos de 12 milhas náuticas (22,2 quilómetros) de pelo menos uma das ilhas Spratly, cujo arquipélago é disputado pela República Popular da China, Malásia, Filipinas, Vietname e Taiwan.
A iniciativa americana foi uma resposta à política da China em transformar recifes submersos daquele arquipélago em ilhas artificiais, por temer que no futuro sejam militarizadas.
Face ao melindre da situação, considero que os Estados Unidos deviam ter mais contenção nas suas acções, pois não podem ser os polícias do mundo, nem decidir unilateralmente o que deve ou não ser feito nesta parte do globo. A questão das ilhas Spratly só pode ser resolvida pelos países intervenientes, por sinal, todos eles asiáticos.
A posição de força dos Estados Unidos não será mais do que uma estratégia de intimidação com o intuito de expressar a sua influência e poderio militar, após o grande revés que sofreu ao ver a Rússia ultrapassar-lhe no combate ao Estado Islâmico com intervenções aéreas na Síria. Isto apesar de não ser para mim uma surpresa se os americanos estiverem a operar há já bastante tempo no terreno com alguma força especial ultra-secreta.
Voltando ao Mar do Sul da China, não causará surpresa se a tensão chegar ao ponto de inadvertidamente haver escaramuças pontuais entre americanos e chineses (ou entre estes e algum dos restantes países que disputam as ilhas Spratly), sem nunca se chegar à declaração de guerra.
A haver uma declaração do género entre Washington e Pequim, o primeiro teria mais a perder do que o segundo, porque basta lembrar que a China é uma das principais detentoras dos títulos de dívida soberana dos Estados Unidos e que um confronto militar entre ambos os países iria trazer consequências devastadoras para a economia “yankee”, com a abrupta desvalorização do dólar norte-americano (moeda mais influente do que o yuan).
Também a indústria do Jogo iria sofrer uma grande reviravolta em Macau, não sendo de espantar se as operadoras Sands China, MGM China e Wynn Resorts (Macau), todas com interesses americanos, fossem forçadas a terminar as suas operações na RAEM.
Corrupção
A 5ª Sessão Plenária do 18º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, realizada entre 26 e 29 de Outubro, traçou as directrizes que vão nortear o 13º Plano Quinquenal, em vigor entre 2016 e 2020.
A tarefa principal deste plano será o desenvolvimento económico, sem esquecer os cidadãos, pois há preocupações ao nível do desenvolvimento da democracia do povo (não confundir com a reforma do sistema político vigente), das garantias de equidade social e justiça através do Estado de Direito, assim como do encorajamento da inovação. Os acordos resultantes desta reunião também incluíram um regulamento de governação transparente e sanções para aqueles que quebrarem as regras do partido.
Para que estas linhas mestras sejam concretizadas é necessário um acérrimo combate à corrupção em todos os sectores da sociedade chinesa, sob o perigo de haver uma capitulação das políticas preconizadas pelo Poder Central.
O combate à corrupção preconizado pelo Presidente Xi Jinping, tanto da arraia miúda (as moscas para os chineses), como dos tubarões (os tigres), destoa da maior parte dos países ocidentais, onde salta à vista a impunidade dos poderosos e as condenações dos pouco influentes. Quanto a Macau, local com grande fluxo de capitais e não só, parece ser um território onde há muita corrupção entre as moscas (basta estar atento ao que sai na Imprensa, que noticia o que é tornado público), enquanto os tigres são todos muito bem-comportados. É caso para acreditar?
Altos voos
A China apresentou há poucos dias o seu primeiro avião de passageiros de longa distância, denominado C919, que deverá competir na próxima década com o Airbus A320 e o Boeing 737. A China já garantiu que as primeiras provas no ar serão efectuadas no próximo ano e que o avião de fabrico e desenho nacional poderá entrar ao serviço comercial entre 2019 e 2020.
A qualidade e a fiabilidade tecnológica do C919 é determinante para a posição da China no mundo, porque a comercialização deste produto para os mercados não domésticos irá reforçar a aceitação do gigante asiático como um parceiro credível, além de diminuir aquela desconfiança tão característica nas populações ocidentais.
A China, embora com alguma quota parte de culpa, está a mudar este paradigma, porém, ainda tem um longo caminho a percorrer, essencialmente porque tem que deixar de ser vista como o paraíso das falsificações ou dos produtos baratos, para se tornar numa nação com tecnologia de ponta e soluções arrojadas em termos de qualidade e design. Por outro lado, terá que “investir” muito na Imprensa do mundo ocidental para que não haja um constante branqueamento da informação.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA