Fórum Macau de vistas grossas
O Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, vulgo Fórum Macau, tem-se revelado uma excelente iniciativa do Poder Central, sendo também uma forma simpática de reconhecer o importante papel da comunidade portuguesa (e macaense) no território.
No entanto, a plataforma entre povos não pode estar continuamente enclausurada nesta vidraça chamada Macau, pois tem que se internacionalizar. Neste âmbito, deve abrir escritórios em Angola, Moçambique, Portugal, Brasil, Cabo Verde, Timor-Leste e Guiné-Bissau, dando-se assim a conhecer nestes países. Essencialmente, aos empresários das PME com vontade de internacionalizar os seus produtos (sendo a RPC um mercado apetecível), numa relação bilateral que fará jus à essência de Macau como plataforma entre a China e os PLP.
Bem sei que a problemática é bastante complexa porque poderá mexer com as atribuições que o “Capítulo VII – Assuntos externos” da Lei Básica confere à RAEM e ao Poder Central. Será que haverá novidades para a 5ª Conferência Ministerial, a realizar no próximo ano em Macau?
Se prestarmos atenção, quase ninguém – empresários, instituições públicas e privadas – conhece o Fórum, a não ser na RAEM. Reforço a minha ideia porque as relações económicas e comerciais efectuadas ao mais alto nível com as poderosas empresas dos PLP realizam-se directamente com a China.
O contrário também é verdade, valendo à China as suas empresas estatais para realizar avultados investimentos nos PLP sem precisar de recorrer ao Fórum Macau, cuja importância é relegada para o sector das PME, numa segunda linha de investimentos também necessários para a sustentabilidade do tecido económico onde as empresas deste sector estão implantadas.
É ponto assente que um número residual de PME sabe que a plataforma existe. Num passado não muito distante, também houve empresários que tentaram, sem sucesso, fazer negócios através do Fórum, mas esbarraram numa rica boneca de porcelana que entretanto caiu no chão e desfez-se em cacos. Terá sido do “feng shui”?
Estratégia
Quer a China que Macau seja a plataforma económica e comercial com os PLP, mesmo usando o Fórum como “soft power”? Se assim for, que conhecimentos e sensibilidades têm o Chefe do Executivo, Chui Sai On, e o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, sobre os seis países lusófonos com assento no Fórum, exceptuando Portugal?
E por que não aceitam os convites que já lhes foram endereçados para visitarem, ao mais alto nível, um ou outro país do grupo dos seis? Lembro que Edmundo Ho, enquanto Chefe do Executivo, fez um périplo pelo Brasil em 2005, não sendo por isso que “caiu o Carmo e a Trindade”…
Para quem achar estranho a minha invocação a Alexis Tam, esclareço que a Cultura também faz parte do Plano de Acção para a Cooperação Económica e Comercial, decorrendo por isso, até depois de amanhã, a “7ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa”, organizada pelo Secretariado Permanente do Fórum Macau, com a colaboração do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais e a Direcção dos Serviços de Turismo.
Se a Cultura não fazia parte das prioridades da China aquando da fundação da plataforma em Outubro de 2003, o gigante asiático, os PLP e o resto do mundo evoluíram consideravelmente desde então, sendo hoje ponto assente que não há sucesso duradouro nos negócios sem haver um conhecimento cultural entre as partes. Por esta razão, que tal um ligeiro ajuste na plataforma, passando a chamar-se “Fórum para a Cooperação Económica, Comercial e Cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau)”?
Além de dar legitimidade ao Fórum como verdadeira ponte entre povos, em que a Cultura é parte integrante, cairia por terra o possível surgimento de uma estrutura “ad hoc” independente, inevitavelmente sob a forma de associação, ou algo do género, com a intenção de chamar a si a promoção cultural entre os PLP e a China, mas correndo o sério risco de gastar dinheiro a rodos. Torna-se imperioso integrar a Cultura na designação oficial do Fórum Macau, por ser uma entidade reconhecida entre Estados há doze anos.
Imprensa
Foi-me dado a conhecer que o Fórum Macau pretende estreitar os laços com a Imprensa local, que por sua vez está em condições de divulgar junto do público em geral as actividades daquele organismo. Mais do que criar uma estrutura profissional de comunicação, e de enviar a tempo e horas os “press releases” com conteúdo e substância à Imprensa local, o Fórum Macau deve ter a mesma preocupação com os jornais, as cadeias de televisão e as rádios nacionais de todos os países membros. Cirurgicamente, deve também abranger os jornais e as rádios regionais desses países. Até porque em Macau, mal ou bem, já todos sabemos o que é o Fórum.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA