Olhando em Redor

Nódoas na camisa branca

A compra de votos para favorecer qualquer lista concorrente às legislativas de Macau é sempre um assunto delicado de abordar, face ao poder de influência que determinadas personalidades exercem junto de vários sectores da sociedade.

Desconheço se, à data dos factos presentes no julgamento, Chan Meng Kam teve, ou não, conhecimento sobre o que ficou depois provado pelo Tribunal Judicial de Base, que condenou dois idosos por corrupção eleitoral nas legislativas de 2013.

Chan Meng Kam foi sempre eleito para a Assembleia Legislativa através da Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, desde a sua primeira candidatura, em 2005. Curiosamente, também por causa destas eleições já foram doze pessoas condenadas por pagarem, ou receberem, 500 patacas por um voto na sua lista.

A corrupção eleitoral tem sido prática corrente, tanto no período anterior, como posterior ao estabelecimento da RAEM, com a diferença de ser agora cada vez mais recriminada pela sociedade, o que em parte se deve ao esforço (ainda aquém do desejado) do CCAC.

Embora os dois idosos que exerciam funções na Aliança do Povo de Instituição de Macau – a plataforma de apoio de Chan Meng Kam – sejam inocentes até trânsito em julgado, penso que a partir de agora nada irá ser igual no combate à corrupção eleitoral, ou demais situações dúbias, também porque a actual equipa governativa pouco, ou nada, se compara com a anterior.

Em termos visíveis e imediatos há que punir quem circule com autocolantes colados nos táxis (a prática tem acontecido no dia do sufrágio directo) e quem efectue chamadas telefónicas e envie SMS de apelo ao voto em determinadas listas.

No primeiro caso poderia aplicar-se a inibição de exercer a profissão de taxista por um determinado período de tempo. No segundo caso será necessário um trabalho mais aprofundado de investigação de modo a chegar à parte transmissora, seja individual ou colectiva.

Começando por atacar as pequenas coisas as legislativas ganham mais credibilidade e as entidades fiscalizadoras não passam por situações de inércia ou de incompetência, pelos menos aos olhos da opinião pública.

Macau ainda tem muito para caminhar no sentido de haver eleições mais “limpas”, porém, a julgar pelo que se passou nos últimos actos eleitorais, também se percebe de que estripe são feitos alguns deputados, ou os seus colaboradores. Neste caso até nem me refiro a Chan Meng Kam, nem aos seus pares…

 

Caricato

Há alguns dias, depois de jantar num restaurante do NAPE, decidi fazer uma caminhada até ao centro da cidade. Ao passar diante de um hotel que já teve nome português, mas agora é inglês, deparei-me com várias “meninas” bem apresentadas, com solicitas palavras dirigidas a quem passava pela zona. Falavam Mandarim, língua que não domino, mas pelo aspecto e forma de abordagem percebi que eram prostitutas.

Estranhei a liberdade com que se pavoneavam em frente à porta principal, assim como no corredor do exterior, sem que algum funcionário da unidade hoteleira alertasse as autoridades competentes para fazer a “limpeza” do local.

Acto contínuo, questionei para com os meus botões: estariam elas a exercer de livre vontade a sua actividade? Ou estariam sob a alçada de algum sindicato do crime?

Segundos depois, ao passar por uma lateral do edifício, fiquei estupefacto por ver de plantão, em frente a uma outra porta, um agente da Polícia de Segurança Pública, impávido e sereno, como se nada se passasse ao virar da esquina.

É certo que o polícia nem sempre tinha contacto visual com as “meninas”, mas o grande à vontade com que elas andavam a poucos metros de distância levou-me a concluir que aquilo não era nada do seu pelouro.

A julgar pelo que vi, tudo leva a crer que o combate à prostituição é um assunto secundário para a PSP, apesar dos comunicados à Imprensa a referir que a corporação presta sempre atenção à segurança das pessoas, à prática de crimes e por aí fora.

É certo que a solicitação de serviços sexuais na via pública constitui apenas uma infracção administrativa, porém, aliada a esta prática poderão estar casos de tráfico de seres humanos, de extorsão, de lenocínio e de ofensas à integridade física.

A PSP até pode não ser a entidade competente para investigar todos estes crimes, mas será aceitável para a sua imagem fechar os olhos a práticas suspeitas que potenciam a ocorrência de outras ilicitudes?

Posto isto, não devia adoptar uma atitude mais pró-activa ao nível da prevenção? E quem aplica as multas às “meninas” pela solicitação dos respectivos serviços sexuais? E quem faz a identificação para averiguar se estão em situação de permanência ilegal na RAEM?

Quem vive há tempo suficiente no território certamente já se apercebeu como funcionam as coisas neste lugar onde a indústria do Jogo, e várias actividades conexas de cariz ilegal, ainda teimam em ditar algumas regras.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

 

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