Sorte de uns, azar de outros
Diz o adágio português que “a sorte de uns é o azar de outros”. O contrário também é verdade, se pensarmos que o decréscimo das receitas brutas do Jogo em Macau vai beneficiar os casinos de Manila.
Na imprensa local tenho lido notícias sobre o encerramento de várias salas VIP de promotores de jogo, vulgo “junkets”. A empresa “David Group”, uma das cinco maiores de Macau, encerra parcialmente as suas operações nos casinos L’Arc Macau, MGM e Four Seasons. Embora mantendo as salas VIP do Wynn e do Galaxy, opta também por outros mercados, tais como Manila, Vietname, Coreia do Sul e Austrália, que poderão sofrer grande desenvolvimento com a carteira de “high rollers” que aquele “junket” estará em condições de levar para estas jurisdições.
O “Gold Moon” encerra as salas de jogo que gere no Sands Cotai Central e vai manter os espaços VIP no Wynn, no Altira, no Galaxy e no Landmark. Já o “Neptune Group”, por diversas vez alvo de acusações na imprensa a relacioná-lo com o crime organizado, decidiu fechar uma sala VIP no L’Arc.
Macau, sem ter culpa nenhuma, foi acometida do pecado original de ser um território demasiado pequeno para albergar um sector sedento de expansionismo, como é o caso da indústria do Jogo, se tivermos em conta todas as componentes que lhe estão associadas, tais como a abundância de casinos, o mercado imobiliário de luxo, os centros comerciais topo de gama, o entretenimento de classe mundial, as prostitutas de luxo, as drogas dos ricos, as vias rodoviárias e ferroviárias que permitem a rápida deslocação de pessoas, e por aí fora.
Virar de página?
Tudo estaria bem para alguns oligarcas se continuasse o monopólio da STDM, se os americanos não pusessem aqui o bedelho e se o Presidente Xi Jinping não quisesse limpar “os tigres e as moscas” que infestam a China e põem em causa a harmonia social e a integridade territorial do País.
Havendo ou não relação, é facto inquestionável que o passado recente esteja a ter repercussões na sociedade local, pois 2014 foi marcado pelo combate à corrupção no continente chinês e as receitas brutas do Jogo na RAEM tiveram uma queda anual de 2,6%, face a 2013 (aconteceu pela primeira vez desde a liberalização do sector).
Quando há muito se sabia do antro de prostituição que havia no Hotel Lisboa, eis que pouco tempo depois de recebermos a visita do Presidente Xi Jinping a Polícia Judiciária deteve Alan Ho – para todos os efeitos, é inocente até prova em contrário – numa operação policial que levanta mais dúvidas do que respostas. Duas delas: o que andou a PJ a fazer durante todos estes anos? Fechava os olhos, estava condicionada na sua actuação, ou tinha dificuldades em reunir provas?
Muitos “junkets” não são propriamente “meninos de coro”, porque alguns deles, cumulativamente ou não, estão conotados com as redes de prostituição e são intermediários no branqueamento de capitais de divisas provenientes do continente chinês. Estando a indústria do Jogo em queda devido ao “dedo” de Pequim – embora o Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, venha dizer que se trata de um reajustamento normal da economia – é clara a mensagem de que também algo tem de mudar na forma como os “junkets” operam em Macau.
Diversificação
Na minha recente deslocação à capital das Filipinas tive oportunidade de ir a Manila Bay e passar pela “Entertainment City”, onde o City of Dreams Manila, da Melco Crown de James Packer e Laurence Ho, tem uma licença de exploração do Jogo.
O potencial da zona é enorme visto haver aquilo que falta em Macau: uma vasta área territorial para ser conquistada ao mar (a RAEM precisa sempre de autorização do Poder Central), um centro comercial topo de gama (“SM Mall of Asia”) e a diversificação de ofertas turísticas, porque além de partirem “ferries” de Manila Bay, para as praias de Batangas e de Cavite, há uma clara aposta no chamado turismo familiar.
Também o mercado imobiliário é real, em vez de estar sobrevalorizado, porque se encontram apartamentos de boa qualidade a preços acessíveis não muito longe de Manila Bay.
Os “shuttles bus” das operadoras do Jogo vão ao encontro das necessidades dos trabalhadores dos casinos, dos apostadores que chegam do estrangeiro e dos próprios investidores. E se o City of Dreams Macau precisar no futuro de suprimir algumas lacunas na mão-de-obra poderá sempre ficar tentada a organizar acções de formação nos seus casinos em Macau com recursos humanos afectos ao empreendimento de Manila (é reconhecida a qualidade e o baixo custo da mão-de-obra filipina).
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com