Amargos de boca
Chan Meng Kam, líder da comunidade de Fujian, e Melinda Chan, cabeça de lista da Aliança Pr’a Mudança, foram os grande derrotados das eleições legislativas de 2017.
Não esperava – confesso – tão retumbante insucesso na estratégia da plataforma eleitoral de Chan Meng Kam, embora tivesse a convicção que iria de alguma forma ressentir-se pelo facto de não contar com a sua candidatura. Chan Meng Kam pretendia eleger quatro deputados, mas ficou-se por dois. Que leitura a fazer?
A mensagem aos eleitores que fazem parte da sua comunidade regional não vingou, por vários factores. Uma das causas é Song Pek Kei, que usando de algum extremismo, por vezes a roçar a intolerância, demonstra que não compreende o que foi, nem o que é Macau. Tal facto levou a que mais eleitores não aderissem à plataforma política de Chan Meng Kam, inclusivamente fora da sua comunidade.
Outro factor – talvez o primordial – é que o ambiente político-eleitoral tornou-se consideravelmente diferente daquele em que se vivia há quatro ou há oito anos, razão pela qual Chan Meng Kam não se pôde valer de iguais estratégias, contribuindo para que as suas pretensões ficassem aquém do esperado.
Já o resultado de Melinda Chan não constituiu grande surpresa. Aliás, na edição do passado dia 24 de Março já tinhamos alertado, nesta mesma rubrica, para o facto de ser este o desfecho final. Em suma, como a mensagem que advogava não colou – por um lado, a defesa de interesses corporativos, por outro, as questões sociais – o seu destino ficou decidido nos detalhes, traduzidos em pouco menos de duzentos votos.
Há outra ilação a retirar: numa altura em que terá início o processo para a atribuição das novas licenças de Jogo, como deverá suceder dentro dos próximos quatro anos, sendo a Macau Legend Development parte interessada, David Chow deixa de ter uma voz na Assembleia Legislativa, onde parte desse processo terá inevitavelmente que passar pela revisão da lei do Jogo.
Surpresas
Sulu Sou e Agnes Lam são as grandes surpresas da noite eleitoral do passado Domingo, ao conquistarem pela primeira vez, nas assembleias de voto, o direito a um assento na AL. Sulu Sou representa toda uma nova geração, e parte da mais velha, que está insatisfeita com o “establishment” e com as oligarquias vigentes, tanto na AL, como nos corredores do Governo.
O tufão Hato foi a “gota de água”, dizem alguns. Mas não foi! O tufão Hato foi o prenúncio do que poderá suceder neste território: por um lado, o descontentamento (pacífico) demonstrado pela população em momentos cruciais, por outro, o reforço de mecanismos de controlo – repressão, censura, intimidação, etc. – por parte das autoridades governamentais de Macau, sempre com o intuito de manterem o status quo vigente, por vezes em detrimento dos interesses maiores da sociedade.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA