O mau, o bom e o assim, assim

Com a aproximação do Fórum Económico Internacional, que vai juntar em Davos (Suíça), nos fins de Janeiro, os principais líderes políticos e empresariais do mundo, foi publicado um relatório internacional de uma organização não-governamental, a Oxfam, que nos dá conta dos profundos desequilíbrios sociais no mundo.

Mais de 80 por cento da riqueza criada no mundo em 2017 foi “engordar” os mais ricos, que representam apenas 1 por cento da população mundial. A riqueza obtida em 2017, por esse grupo restrito de multimilionários, dava para acabar, mais de sete vezes, com a pobreza extrema que grassa no nosso planeta.

Tenho sérias dúvidas que esta constatação revoltante possa sensibilizar os “donos do mundo” a tomarem uma atitude adequada, capaz de alterar este estado de coisas ou, pelo menos, a diminuírem este fosso social que tanta tragédia tem causado e que tantas vezes tem sido ilustrada pelas sucessivas vagas de refugiados à procura de sustento. Para não falar dos baixos salários praticados que, em média e desde 2010, aumentaram dois por cento, enquanto a riqueza dos multimilionários, em média e no mesmo período, aumentou seis vezes mais.

No final do Fórum a resposta dos líderes políticos e económicos a esta crise da sociedade humana mundial deverá seguir os mesmos passos das anteriores convenções. Alguns paliativos para descansar a consciência e a responsabilidade individual de cada Estado e as promessas de um futuro melhor rubricadas “numa pedra de gelo”!

A economia social vai ser, se já não é, um dos maiores problemas do nosso século, ao qual se juntam as alterações climáticas já evidentes e os conflitos não resolvidos em larga escala, enquanto fase preparatória para um conflito muito maior. Uma deplorável situação social, política e climática, para a qual muito tem contribuído o comportamento do actual líder americano, desfazendo a imagem de alguma referência moral ganha no século passado pelos americanos, pela sua contribuição no desfecho e conclusão das duas guerras mundiais, tornando-se hoje não uma parte da solução, mas uma parte dos problemas que afectam o mundo.

Como Portugal anda quase sempre em contraciclo com o resto do mundo, a nossa economia, em geral, e a social, em particular, continuam a dar passos positivos para o crescimento económico do País e para a satisfação dos nossos concidadãos residentes.

O desemprego em Dezembro passado atingiu o nível mais baixo desde Outubro de 2008 e a nossa projecção internacional, com o nosso ministro das Finanças do Governo de António Costa, Mário Centeno, a presidir ao Eurogrupo, recebendo elogios pelo desempenho de Portugal; Vítor Constâncio, vice-presidente do Banco Central Europeu; o nosso antigo primeiro-ministro António Guterres como secretário-geral da ONU, um Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a gozar de uma enorme popularidade sem contestação e tantos outros portugueses em ilustres lugares internacionais, levou os “nuestros hermanos” galegos a considerarem Portugal com “os melhores registos económicos da década” e que “está a conseguir ser um íman para o investimento”.

Mas nem tudo são “rosas”!

Um diferendo, que opõe a justiça portuguesa ao Governo angolano, tem vindo a azedar as relações entre os dois países, perspectivando um conjunto de acções, por parte de Angola, que podem colocar em causa uma multiplicidade de problemas políticos, económicos e sociais entre os dois Estados, com prejuízos para ambas as partes.

O caso refere-se a um julgamento, iniciado na última segunda-feira em Portugal, que opõe o Ministério Público (MP) português ao antigo vice-Presidente de Angola, Manuel Vicente, e a um ex-procurador português, Orlando Figueira. Este último acusado de ter, em troca de uma verba substancial e um emprego, mandado arquivar um processo que decorria contra o primeiro, desde 2017, por crimes de corrupção activa, branqueamento de capitais e falsificação de documentos, aquando da compra de um apartamento de luxo no Estoril por parte de Manuel Vicente. O processo em julgamento envolve ainda, como arguidos, o advogado Paulo Blanco e Armindo Pires, para além de outros eventuais.

O actual Presidente angolano exige que o processo de Manuel Vicente, amigo pessoal dele, seja entregue à justiça angolana e o Ministério Público angolano evoca que ele não pode ser julgado porque está abrangido por uma amnistia. Por outro lado, o MP português considera que a amnistia foi posterior à abertura do processo a Manuel Vicente e que o MP angolano não dá garantias de proceder ao seu julgamento.

Conclusão provisória: Manuel Vicente não se deslocou a Portugal para o julgamento e o juiz dividiu o processo judicial em duas partes, deixando o de Manuel Vicente para data posterior; o primeiro-ministro António Costa, respeitando a separação dos poderes político e judicial, diz nada poder fazer e o novo Presidente de Angola, João Lourenço, ameaça Portugal com represálias.

Ninguém sabe como esta novela vai acabar, mas todos querem acreditar que o seu final não será bom, nem mau. Talvez, assim, assim….

LUIS BARREIRA

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