O Cristianismo no Egipto

Os Coptas

 

O termo Coptas designa, na sua etimologia, de forma generalizada e sem distinções, os egípcios no seu todo. O seu sentido original é pois étnico, conferido pelos gregos, desde o séc. VII a.C., a partir do nome do templo de Mênfis dedicado ao deus Ptah, ou seja Ha[ou Het]-ka-Ptah, em egípcio antigo a “casa onde mora Ptah”, ou on está o ka (“espírito”) de Ptah. Daí ter surgido, após algumas “deformações”, HaKaPtah, que derivou no Grego Aegypt[i]os, ou Aegupt[i]os, que em Latim era Aegiptus (daí Egipto). Os árabes a partir do século VII, na sequência da conquista islâmica do Egipto, em 641, designavam, em textos coevos, Qbt (lê-se Qubt, ou Qupt) ou Qft (idem). A partir do século XVI surge no Francês o termo Copte(s), com base no termo árabe. Mas nesta altura a designação já não era étnica em geral, relativa a todos os egípcios, mas religiosa, apenas designando os que eram cristãos, numa concepção idêntica à actual. O termo aplica-se também a todo o modo de vida dos cristãos no Egipto, ou na sua diáspora. Liturgia e “arte” são os conceitos aos quais mais se liga o termo, como também o monaquismo ou a literatura, embora hoje assuma também conotações políticas e identitárias. Os Coptas no Egipto constituem-se em dois grupos: a Igreja Copta Ortodoxa, com sede em Alexandria, cujo Patriarca assume o título de “Papa”; e a Igreja Católica Copta, fundada no século XIX e subordinada a Roma. A primeira, no Egipto e na diáspora, contará cerca de dez milhões de fiéis, enquanto coptas católicos não serão mais de 300 mil. A Igreja Monofisita da Etiópia, que muitas vezes é considerada como Copta, não o é na realidade, pois tornou-se independente do Patriarcado de Alexandria em 1959, além de se distinguir teologicamente.

Os Coptas Ortodoxos formam uma Igreja monofisita (do Grego monos, “único, singular”, e physis – “natureza”), ou seja, rejeita as conclusões do Concílio de Calcedónia, em 451, que estabeleceu que Jesus Cristo conservou em si as duas naturezas (diofisismo), natureza e a divina. Os monofisitas defendem que Jesus tem apenas uma, embora sem prevalência da divina nem da humana, nem mesmo da síntese, estando para lá dessas naturezas. Todavia, o ênfase era dado à divina.

A Igreja Copta foi fundada no Egipto, no século I, a partir da evangelização de S. Marcos, evangelista. Os Coptas celebram assim a sua liturgia segundo o rito alexandrino, a antiga liturgia cristã dita “de S. Marcos”. Os Coptas adoptaram um calendário designado de “Calendário dos Mártires”, cuja era começa em 29 de Agosto de 284 d.C., recordando os que morreram pela fé por ordem do imperador romano Diocleciano. O culto dos santos centra-se no pedido da sua intercessão, pelos fiéis, não propriamente numa devoção como noutras Igrejas cristãs, não deixando porém de ter importância. Por exemplo, cada igreja assume o nome de um santo patrono, além de que a produção de ícones de santos ser uma marca importante da arte copta ortodoxa, nomeadamente depois do “Renascimento Copta” nos finais do século XIX. Santa Maria Virgem (Theotokos) ocupa também um lugar especial no coração dos Coptas. As principais festas são a Anunciação, o Natal (7 de Janeiro), a Teofania, o Domingo de Ramos, a Páscoa (segundo Domingo depois da primeira lua cheia da Primavera), a Ascensão e o Pentecostes. Além das festas, os Coptas jejuam cerca de 210 dias durante o ano, proibindo-se qualquer carne (até peixe), ovos, manteiga, etc., ou, em extremo, qualquer alimento ou bebida entre o nascer e o pôr do sol. A Quaresma, por exemplo, é conhecida como o “Grande Jejum”.

A língua copta escreve-se usando o alfabeto copta, idêntico ao Grego. Descende do Egípcio Antigo, mas hoje em dia apenas se usa na liturgia. Tem seis dialectos: o bohaírico (o mais usado), sahídico, fayumico, oxyrhynquita, akhmímico e o lycopolitano.

A Igreja Copta Ortodoxa é a mais importante Igreja cristã no Egipto, um país maioritariamente muçulmano (sunita), no seio do qual a Irmandade Muçulmana assume especial relevo não apenas na vida religiosa mas principalmente social e política. O termo copta, como já se disse, define ao mesmo tempo um povo, uma língua, um culto, uma Igreja, ainda que divididos entre os ortodoxos, maioria esmagadora, e os católicos. Os dez milhões de coptas ortodoxos vivem na sua maioria no Egipto, principalmente no Alto Egipto, além do Sudão, Jerusalém e Médio Oriente, além da diáspora europeia e americana. A hierarquia eclesiástica é formada pelo Patriarca – título oficial: Papa de Alexandria, Patriarca do Trono (Sé) de S. Marcos – residente no Cairo, porém, à frente de cerca de sessenta metropolitas e bispos membros do Santo Sínodo, além de outros bispos com cargos especiais ou residentes na diáspora. Conta esta Igreja com cerca de mi e 600 sacerdotes casados e mais de mil monges, estes celibatários. Os bispos, logo o Patriarca, provêm quase sempre do ramo monacal. O monaquismo cristão, aliás, nasceu no Egipto, no Wadi al Natrun (ou Scitia), onde apareceram as primeiras comunidades cenobíticas e respectivas regras. Os monges coptas retêm especial afecto da parte dos fiéis, sendo os seus mosteiros muito visitados e tidos como espaços de culto primordiais. O actual Papa é Tawadros II (ou Teodoro, nascido em 1952) o 118º desde S. Marcos (o 1º ), com o título de Papa de Alexandria e Patriarca de Apostólico de Toda a África sobre a Santa Sé de São Marcos. Ocupa o cargo desde 2012, sucedendo ao mítico Shenuda III (Papa 1971-2012), um bem-amado Patriarca copta, muito devido à difícil existência dos coptas no Egipto do seu tempo.

A Igreja Copta Católica, subordinada ao Santo Padre, de Roma, tem como referencia o patriarcado católico de Alexandria, criado em 1824, restabelecido em 1895. Conta com seis dioceses e cerca de 300 mil fiéis.

Apesar das perseguições religiosas pontuais, em determinadas regiões, no Egipto (com incêndios de igrejas, confrontos, disputas, conflitos vários), apesar das dificuldades, os Coptas prosperam em termos de efectivos, além de manterem viva a sua fé de forma muito própria. Além de tudo, ocupam cargos políticos (ministros) e detêm poder económico, além de prestígio internacional, como é o caso de Boutros-Boutros Ghali (1922), antigo Secretário Geral da ONU (1992-1996), entre outros.

 Vítor Teixeira

Universidade de São José

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