Novo Presidente tomou posse no passado dia 20 de Janeiro

A Era de Trump

Donald Trump já tomou posse como Presidente dos Estados Unidos. O seu país e os outros têm agora de se adaptar a esta nova realidade, mas o inverso também terá de acontecer. A situação mundial é demasiado complexa para ser transformada por um só homem, e Trump nem sequer é um ditador.

«A todos os republicanos, democratas e independentes desta nação, digo que chegou a altura de nos juntarmos como um povo unido. […] Prometo a cada cidadão da nossa terra que serei Presidente de todos os americanos».

Com estas palavras no seu discurso de vitória, Donald Trump tentou sarar pelo menos algumas das feridas que a campanha eleitoral mais agressiva das últimas décadas causou nos Estados Unidos.

É uma tarefa difícil, essa. Porque o homem que prometeu que será o Presidente de todos os americanos na hora da vitória foi o mesmo que, durante a campanha eleitoral, se recusou a rejeitar o apoio de um antigo líder da organização racista Ku Klux Klan; que incitou apoiantes para que espancassem manifestantes presentes nos seus comícios; que qualificou a sua oponente, Hillary Clinton, como «a pessoa mais corrupta que alguma vez se candidatou a presidência dos Estados Unidos»; e que descreveu os imigrantes mexicanos como «violadores».

Durante a campanha, Donald Trump prometeu construir um muro de separação entre os Estados Unidos e o México, e assim impedir a imigração ilegal de latino-americanos. Disse também que iria proibir a entrada de todos os muçulmanos nos Estados Unidos, dado que eles representam uma ameaça para o País. No que diz respeito à NATO, a aliança militar que tem garantido a paz na Europa e no Mundo nos últimos 70 anos, acusou parte dos Estados-membros de estarem a «vigarizar» os norte-americanos, e que, por isso, com ele na presidência, deixaria de haver uma garantia total de apoio dos Estados Unidos em caso de ataque contra um desses aliados.

Estas são apenas algumas das medidas extremamente polémicas – para dizer o mínimo! – que Trump prometeu executar se chegasse à presidência. Agora, a questão que todos, sejam apoiantes ou opositores, norte-americanos ou não, querem ver respondida é: Ele vai mesmo cumprir tudo o que prometeu?

No que diz respeito à política interna, é bem provável que a maior parte das suas ideias avance mesmo, até porque o Congresso ficou na mão do Partido Republicano nas eleições de 8 de Novembro. O famoso muro na fronteira com o México deverá ser alargado – sim, alargado, porque na realidade ele já existe, embora sob a forma de vedação. Haverá redução de impostos, mais investimento em infraestruturas e menos benefícios sociais. A reforma do sistema de saúde, conhecida por Obamacare, que tinha possibilitado o acesso a tratamentos médicos por parte de dezenas de milhões de pessoas, será certamente esventrada, muito embora Trump tenha de, forma dúbia, falado na necessidade de manter algumas partes dessa lei.

No que diz respeito à política externa e à NATO, por exemplo, o Presidente Obama garantiu que Trump, na primeira conversa que teve com ele depois da eleição, lhe garantiu que era sua intenção preservar a aliança. A confirmar-se, essa atitude demonstrará que Donald Trump percebe que não é viável, nem desejável, que os Estados Unidos destruam um quadro de relações que demorou pelo menos 75 anos a construir.

Até à entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, em 1941, a política externa do País tendia para o isolacionismo. Isso quer dizer que a intervenção norte-americana nos assuntos do resto do globo se reduzia àquilo que era estritamente necessário aos seus interesses mais imediatos. Foi por isso que, durante os dois primeiros anos da guerra, os Estados Unidos se mantiveram neutrais, e certamente assim continuariam não fosse o caso de o Japão ter tomado a iniciativa de os atacar de surpresa.

Não sabemos se Donald Trump teve em consideração todo este contexto histórico quando formulou a sua política externa, mas ela certamente agradou a muitos americanos que gostariam de fazer o relógio voltar para trás, para os tempos do isolacionismo.

No seu primeiro discurso pós-eleição sobre política internacional e de defesa, Trump parece ir ao encontro dos desejos dessa corrente mais conservadora, mas, se analisarmos o conteúdo com atenção, ele já não parece divergir tanto assim do que tem sido a prática norte-americana nas últimas décadas.

Ele diz que, «a partir de agora, será a América em primeiro» e que «deixaremos de correr para derrubar regimes estrangeiros de que nada sabemos», uma ideia que qualquer isolacionista aplaude, mas que, na verdade, já vinha sendo implementada por Barack Obama, que retirou as tropas norte-americanas do Iraque, reduziu muito o contingente no Afeganistão e recusou a possibilidade de lançar campanhas militares de grande escala na Síria e na Líbia.

Trump disse também que a prioridade da sua política externa e de defesa será «derrotar o terrorismo e destruir o Estado Islâmico», mas não explicou como é que será possível fazer isso sem os tais envolvimentos externos perniciosos, uma vez que esses grupos terroristas estão firmemente implantados em vários países.

Daqui se conclui que as ideias para a condução do País ainda não passam, em muitos casos, de slogans de campanha, cuja aplicação será depois muito duvidosa. Como ele pouco ou nada percebe de governação, muito dependerá da sua equipa, especialmente dos elementos mais experientes e influentes nas diversas áreas. Se eles tiverem a força necessária para “vender” as suas ideias ao Presidente, a inexperiência e impulsividade de Trump poderão não causar tantos danos como muitos cépticos preveem.

Se, pelo contrário, os conselheiros mais radicais e doutrinários, que não tem experiência de Governo, prevalecerem na atenção presidencial, teremos quatro anos (ou mesmo oito) muito complicados pela frente.

Há ainda uma terceira hipótese, que é sempre de considerar, dado o carácter assumidamente narcisista do novo Presidente – é Donald Trump não dar ouvidos a ninguém e transformar os membros da sua equipa em meros executores das suas vontades.

Se isso acontecer, entramos verdadeiramente em território desconhecido.

ROLANDO SANTOS 

Família Cristã

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