Martírios e massacres vistos à lupa
Um novo livro, publicado pelo Instituto Politécnico de Macau com o apoio do Fundo para o Ensino Superior da RAEM, aborda de forma exaustiva a fenomenologia do martírio desde a Antiguidade Clássica até ao Século XX. Coordenado por Cristina Osswald e por José Eduardo Franco, “Martírios e Massacres – Fazer da Morte uma Vitória” reúne contributos de académicos de Macau, Portugal, Alemanha, Brasil e de França.
Uma obra multidisciplinar que reúne abordagens variadas e perspectivas muito distintas sobre o martírio. É assim que Cristina Osswald, docente e investigadora do Instituto Politécnico de Macau, caracteriza o livro “Martírios e Massacres – Fazer da Morte uma Vitória”, um documento que se propõe abordar a importância do martírio à luz de várias tradições religiosas, em espaços geográficos tão distintos como a Irlanda, a Hungria, o Peru ou o Japão.
Coordenada pela docente e pelo historiador José Eduardo Franco, a obra conta com prefácio de D. Carlos Moreira de Azevedo, bispo que é actualmente responsável pelo Departamento dos Bens Culturais da Santa Sé e agrupa dezoito artigos escritos por académicos de instituições universitárias de Macau, Portugal, Brasil, Alemanha e de França. O posfácio é assinado por Pierre-Antoine Fabre, da École des Hautes Études en Sciences Sociales. «A obra analisa a questão do martírio levando à morte, desde a Antiguidade Clássica – mais precisamente desde o Século IV – até ao Século XX», explica Cristina Osswald, em declarações a’O CLARIM. «Esta colectânea cobre, de igual modo, um vasto arco geográfico, estendendo-se da Europa (Portugal, França, Itália, Irlanda, Hungria, Grã-Bretanha) à América (Brasil, México, Peru) e à Ásia, onde são abordados os exemplos da Índia e do Japão», acrescenta a também investigadora associada do Instituto Ricci.
A obra não se distingue apenas pela amplitude do período histórico coberto ou pela extensa geografia que se propôs analisar. O livro, sublinha Cristina Osswald, é multidisciplinar por natureza e mergulha na problemática do martírio à luz de diferentes abordagens e tendo em conta tradições religiosas distintas: «A abordagem é multidisciplinar. Os vários autores apresentam abordagens, que podem ser teológicas, literárias, artísticas, litúrgicas, poéticas e artísticas. Do ponto de vista religioso, cruzam-se as perspectivas católicas, protestante, muçulmana e ainda judaica, ou seja, o Holocausto».
Com um doutoramento em história e civilização pelo Instituto Universitário Europeu, de Florença, Cristina Osswald sustenta que o martírio está longe de se prefigurar como um fenómeno do passado. «O Papa Francisco definiu o Século XXI como o século dos mártires. Pelas suas contas, hoje há dez vezes mais mártires que nos tempos páleo-cristãos. Os mártires são omnipresentes. Não são santos, mas homens e mulheres de pele e osso, desde a mulher que se sacrifica pela sua família ou que para não abortar, sacrifica a sua vida», refere a académica, especialista na história da Companhia de Jesus.
“Martírios e Massacres – Fazer da Morte uma Vitória” deverá ser formalmente apresentado em data a determinar nas instalações da Casa de Portugal em Macau.
Marco Carvalho