A minha “viagem dominicana” continua sempre – 4
Há alguns anos, quando fui colocado na UST (1265-2009) depois de dois anos no Convento de Santo Domingo, em Quezon City, ministrei um curso de Bioética no Seminário Maior de Vigan (no Noroeste, em Luzon). Tinha 24 alunos de Teologia. Houve uma tarde em que os estudantes organizaram um jogo de basquetebol (os filipinos adoram basquetebol e Manny Pacquiao, o grande pugilista). Os membros de uma equipa tinham uma bonita t-shirt com esta inscrição nas costas: “Fui chamado, em breve serei escolhido”. Deus chamou-me e eu fui escolhido graças à sua graça e ao seu amor. Escolhido para ser missionário dominicano. Este chamamento para seguir Jesus pelo caminho de São Domingos é, de facto, o maior presente do Bom Deus para mim.
No dia 8 de Maio de 2022, a diocese de Macau celebrou o Domingo de Acção de Graças, que era o Domingo do Bom Pastor, com os sacerdotes, religiosos e religiosas que completavam (em 2022) 25 (Jubileu de Prata), 50 (de Ouro) e 60 (de Diamante) anos de Sacerdócio ou profissão religiosa. Cerca de trinta sacerdotes concelebraram com o nosso bispo D. Stephen Lee. A igreja de São Lázaro estava repleta de fiéis leigos, irmãos e irmãs. Eu – um jubilar de Diamante – fui convidado pelo nosso querido Bispo a pregar a homilia em Inglês. Aceitei com gratidão e respeito, e preguei sobre o Bom Pastor. Foi uma experiência maravilhosa: eucarística, fraterna e alegre! Obrigado, Senhor! Tive outra celebração do aniversário dos meus sessenta anos de sacerdócio dominicano, na minha cidade: foi incrivelmente familiar e alegre. Desta vez, a celebração do Jubileu de Diamante com a nossa comunidade de Macau foi interna, orante e – como eu queria – “low key”.
A propósito, celebrei o meu Jubileu de Ouro em 2012, também na diocese de Macau, e também magnificamente com a minha comunidade dominicana. Esta preparou um programa amoroso e elegante, que incluiu jantar: Senti-me em casa! Mais tarde, a 29 de Junho de 2012, a minha cidade em Espanha foi igualmente gloriosa. Já as minhas Bodas de Prata celebrei em Taipé, com o meu co-noviço e amigo Amado Diago, OP, missionário em Taiwan desde há muito tempo, um homem que amava a vida, Jesus e as pessoas. A celebração teve lugar na Domitian School, das Irmãs Dominicanas Missionárias (misioneras) de São Domingos, a quem eu estava a orientar um retiro espiritual. Como de costume, foi uma festa grandiosa, colorida e alegre, centrada na Sagrada Eucaristia.
Olhando para trás, para o percurso da minha vida, devo dizer que o passado está na misericórdia de Deus e que nunca é demasiado tarde para ser melhor e mais santo. No entanto, o amanhã será melhor se eu começar hoje, a única coisa que está nas minhas mãos: Oxalá hoje escutásseis a sua voz! Não endureçais os vossos corações! (cf. Sl., 95, 7-8). O futuro está na Providência de Deus e o presente nas suas mãos amorosas. Assim, a minha vida assenta no passado agradecido, olho para o futuro esperançoso e caminho no presente amoroso, com passos de amor. Com o amor de Deus e a graça do Espírito Santo, caminhamos pelo Caminho (Jesus) em direcção ao abraço de Deus.
Há cerca de dois anos tive uma longa conversa, um encontro maravilhoso com um jovem e uma jovem, na sala de reuniões da nossa comunidade. Ambos, chineses e cristãos (da equipa do Semanário Católico de Macau, O CLARIM). Depois de uma troca de impressões frutuosa e alegre de uma hora, perguntaram-me: Se tivesse a oportunidade de recomeçar a sua vida, o que seria? Sem qualquer hesitação, respondi: “Um padre dominicano! É o que mais amo na minha vida: ser um sacerdote de Cristo da Ordem dos Pregadores”. Mas mudaria uma coisa: esforçar-me-ia mais para ser bom, para ser mais fiel à minha vocação dominicana, para cooperar melhor com a graça de Deus, para ser, em particular, mais centrado em Cristo e, portanto, mais orante e mais compassivo, e alegre. Lembro-me das palavras do nosso irmão dominicano, o Beato Reginald de Orleans (Século XIII): “Não tenho nenhum mérito em viver nesta Ordem, porque sempre encontrei demasiada alegria nela”.
Graças a Deus, a viagem continua! De Macau, para onde? Continuar em Macau, voltar para as Filipinas ou para Espanha? Mais uma vez: só Deus sabe. Como o meu pai disse à minha mãe, que chorava, quando fui enviado para Washington DC: “Não te preocupes! Deus está em todo o lado”.
E para terminar, e como vosso irmão, deixem-me sugerir-vos, a todos vós chamados por Jesus:
Sejam amorosos! Todos nós fomos chamados. Vós fostes chamados. Deus nunca nos falha. Apenas nos pede que cooperemos com a sua graça e com o seu amor inesgotáveis. O mais importante é o amor. Todos os dias procura fazer o que tens a fazer com amor. O amor como caridade é a virtude da vida, o valor que dá vida às outras virtudes, às nossas acções… e nos conduz ao céu. A única coisa que nos acompanhará à outra vida é o amor que acumulamos ao longo da vida. Nós somos o que amamos. “Na noite da vida, seremos examinados sobre o amor”.
Rezem! Por que continuo a ser um dominicano, um dominicano feliz? Pela graça de Deus e pelas orações de Maria Nossa Senhora, da minha mãe, dos meus amigos e dos outros irmãos e irmãs. O meu conselho fraterno: sê fiel à oração. Há sempre um remédio para aqueles que rezam.
Sejam compassivos, ou seja, partilhem algo com os pobres, e perdoem sempre! Procurai ver Cristo nos rostos dos pobres (“procuradores de Cristo”): Tive fome e deste-me de comer… A nível pessoal, há paz – paz interior – no perdão, que inclui esquecer as ofensas dos outros como ofensas, ou recordá-las como feridas curadas.
Sejam alegres e tenham esperança! O cristão é uma pessoa feliz: está apaixonado e por isso é alegre: a alegria é uma caraterística do amor como caridade. Apesar de momentos ou dias concretos de certa tristeza e, talvez, de lágrimas, sê alegre. Confiamos em Deus: Ele está a mudar. A esperança – a minha virtude preferida – é a virtude do caminho. Esperança agraciada: uma esperança amorosa, orante, paciente e corajosa, alegre. Sem dúvida, o amanhã será melhor.
Obrigado, Senhor, pela minha vocação. Perdão, Senhor, pelas minhas infidelidades. Ajuda-me, Senhor, na corrida da vida que me resta. Amo-te, Senhor!
Pe. Fausto Gomez, OP