Com os documentos do Noel em ordem, Certificado Sanitário na mão e com o percalço dos vistos de permanência resolvido, estávamos de “malas feitas” para sair de St. Lucia. Até o desembargo da Alfândega já estava marcado para zarparmos no sábado (se bem que era nossa intenção sair na segunda ou terça-feira, por causa do tempo e do estado do mar entre St. Lucia e Martinica), mas quando, na sexta-feira, metemos o motor a funcionar, como fazemos diariamente, foi-se abaixo!
Esqueci-me que tinha fechado a linha de gasóleo nos filtros RACOR – fazem a separação das impurezas e da água do gasóleo, sendo de primordial importância no sistema de combustível de qualquer barco – que deviam ter sido mudados no dia anterior, mas que não o foram por não ter havido tempo para comprar mais gasóleo. Com a linha fechada, o motor ficou sem combustível e… parou!
Perante este contratempo, meti mãos ao trabalho nessa mesma noite e procedi à sangria do sistema – como sempre deve ser feito – por forma a retirar o ar da linha de gasóleo.
Tudo correu bem, até ao momento em que colocámos novamente o motor a funcionar. Nessa altura, o motor de arranque decidiu que já tinha trabalhado muito e recusou-se a cooperar. Perante o facto, fomos todos dormir.
O novo problema obrigou a mais horas de trabalho no dia seguinte, com muitos arranhões e nódoas negras. O espaço é muito apertado, como podem ver na foto. Só para remover o motor de arranque e instalar o de reserva foi preciso mais de cinco horas. E isto com a ajuda de um amigo de um barco vizinho que nos veio dar uma segunda opinião.
Passada a manhã, regada com muitos copos de água e muito óleo nas mãos e no corpo, tudo ficou pronto para ligar o motor. Como não há duas sem três, inexplicavelmente, não arrancou! Perplexos, fomos verificar o sistema e tudo parecia estar em condições de poder funcionar. Acontece que o motor não rodava, nem sequer manualmente, e a bateria parecia não ter carga para “ajudar” o motor de arranque.
Finalmente – exaustos – decidimos procurar ajuda profissional. Veio então um mecânico, que apenas precisou de uma hora a bordo para colocar o motor a funcionar na perfeição. Até porque o trabalho mais complicado (a troca do motor de arranque) já o havíamos realizado.
O mecânico veio, viu o que se passava, e foi direito ao problema. As baterias e os terminais estavam oxidados. A cura passou por um pouco de lixa e muita limpeza.
O sistema de gasóleo é que voltou a perseguir-nos, voltando a entrar ar na linha. Para grandes males, grandes remédios, pelo que aproveitámos para mudar os filtros RACOR e o filtro de gasóleo do motor, antes de proceder à sua sangria. Depois de esperarmos uns minutos, para que as baterias carregassem um pouco mais com a ajuda do painel solar e do gerador eólico, deu-se à chave e… voilá, ali estava outra vez o fiel motor a funcionar na perfeição. Até o mecânico ficou impressionado com a facilidade com que o motor – um Perkins de 1985 – pegou à primeira tentativa, sem sequer necessitar de recorrer a um segundo motor de arranque.
Com mais de 24 horas de atraso, procedemos ao arrumo das ferramentas – espalhadas por tudo quanto era canto, – à limpeza de toda a sujidade e fomos comprar gasóleo e água.
Como o tempo tem estado instável, só tínhamos uma janela de bom tempo e mar com dois metros na terça-feira (o mar tem andado perto dos três metros no canal entre as duas ilhas), aproveitámos a segunda-feira para descansar e verificar se tudo estava em condições para finalmente seguirmos viagem.
Tirando estes pequenos problemas, está tudo bem com a tripulação e com a embarcação. Apenas temos saudades de boa comida chinesa e bons bolos. Quanto à comida, vamos ter que esperar pela China; quanto aos bolos, penso que o problema terá solução em breve…
A próxima crónica virá, certamente, com sabor francês.
João Santos Gomes