Silêncio e contemplação há 900 anos
Criados há quase 900 anos, os monges da Cartuxa surgem como uma ordem monástica milenar fundada por São Bruno. Actualmente são cerca de 450 monges e monjas distribuídos por 24 casas em três continentes, vivendo a mesma vocação contemplativa. Em Portugal, o Convento da Cartuxa, em Évora, é o único reduto cartusiano do País.
Entrar num convento da Cartuxa é entrar num mundo de silêncio e de contemplação. Os conventos foram construídos em zonas isoladas, de difícil acesso, mas nem todos conseguiram manter esse isolamento, como é o caso de Évora, onde o Mosteiro Scala Coeli se encontra ao lado de um complexo habitacional e bem perto da cidade de Évora, resultado do desenvolvimento da zona nos últimos séculos. «A nossa vida normal é passar a semana em solidão, cada monge na sua cela, e Domingos e festas é o dia de convívio. Comemos sozinhos e trabalhamos sozinhos durante a semana, e comemos juntos e conversamos aos Domingos, que são os dias comunitários, assim como os dias de festa litúrgica», conta-nos o padre Antão López, superior da casa, espanhol que há mais de 30 anos está no mosteiro em Évora. O dia está dividido em três: oito horas de oração e leitura (depende dos dias e dos desejos de cada um), oito horas de trabalho, oito horas de descanso. No trabalho, cada um faz o que sabe para a comunidade. «Quando chegam os noviços, ensinamos os vários serviços, mas depois cada um especializa-se», diz o sacerdote.
A média de idades da comunidade é de 80 anos. «Há outros monges mais novos, noutros países, mas aqui não», refere.
São cinco os monges que lá habitam, de momento. «Sempre fomos poucos nos mosteiros da Cartuxa, isto não é uma novidade. Aliás, na nossa regra há o regulamento do noviço, singular, nas nossas comunidades havia sempre um noviço, mas não mais», conta-nos o religioso.
A vida diária é passada em isolamento, com excepção dos momentos de oração. «Durante a semana, temos três reuniões diárias na igreja: meia-noite, missa de manhã e vésperas de tarde. Quatro horas em que cantamos juntos, o resto é na cela. Mesmo que um irmão tenha de trabalhar fora da cela, trabalha sozinho», diz o padre Antão.
O isolamento da vida dos cartuxos não significa que vivam isolados do resto do mundo. «Como superior, que atende também o telefone, esse é um assunto para mim comovente. Ao contrário de outros mosteiros da Cartuxa, aqui há muita religiosidade popular e muito pedido de oração, por telefone, carta ou e-mail. Anónimos pedem que reze pelo filho que tem o casamento em crise, ou o marido que está a morrer, nem se identificam, por vezes. Rezamos por todas as intenções que nos são pedidas, nas várias missas que temos. E algumas pessoas ligam-nos mais tarde a falar sobre o que sucedeu e como a graça foi atingida», conta.
Ao entrar no mosteiro, o candidato começa o postulantado, que durará de três meses a um ano. Terminado este, e se a sua vocação se confirmar, tomará o hábito do cartusiano e começará o noviciado, que dura dois anos. A seguir vêm os votos temporários por três anos, os quais serão depois renovados por mais dois anos. No final, tem lugar a profissão solene, pela qual o monge se compromete definitivamente perante Deus e perante a Igreja, segundo as informações que constam no sítio web da Ordem.
RICARDO PERNA
In Família Cristã