Não podemos virar a nossa face às dores de outrem
Caríssimos Irmãos e Irmãs,
No mês de Maio, Macau está a caminhar felizmente para a recuperação total. Ao mesmo tempo, temos o claro conhecimento de que o surto epidémico de Covid-19 tem um vasto impacto em todo o mundo. Pelo menos 200,000 famílias têm sentido a morte dos seus entes queridos. Os confinamentos suspenderam as actividades económicas em muitos países. O comércio enfrentou grandes dificuldades. Os trabalhadores não-residentes não puderam regressar ao seu posto ou perderam o seu emprego sem poderem, porém, voltar para os seus países. Os vendedores ambulantes não tiveram negócio nem os mendigos puderam pedir esmolas, e a crise alimentar começa a emergir. De repente, a pandemia tornou pobres muitas pessoas, não apenas financeiramente mas também mentalmente, devido à solidão causada pela distância social, ou discriminação, esquecimento ou isolamento. Mesmo em Macau, muitos residentes e trabalhadores não-residentes passam por dificuldades económicas, como por exemplo, licenças sem vencimento, desemprego e dificuldade de pagar rendas ou empréstimos.
Perante as dores de outros, poderemos simplesmente dizer que a situação deles é lamentável e virarmos as costas? (https://www.vaticannews.va/zht/pope/news/2020-04/pope-francis-plan-rising-vida-nueva-reflection-coronavirus-covid.html). O Papa Francisco advertiu-nos numa sua meditação que “ninguém se salva sozinho”. O Espírito Santo chama-nos a bem discernir e a participar nas suas acções. Temos que usar o anticorpo da união para enfrentar a epidemia (www.vaticannews.va/zht/vatican-city/news/2020-03/pontifical-academy-life-pandemic-challenges-human-fraternity.html). Uma nota intitulada “Pandemia e Fraternidade Universal”, publicada em 30 de Março pela Pontifícia Academia para a Vida, tem repetidamente encorajado as pessoas a realizarem cuidados especiais para com os mais vulneráveis, especialmente os idosos e aqueles com grandes necessidades. Todo o cuidado e amabilidade são vitória de Jesus Ressuscitado.
Portanto, temos que aprender a prestar atenção às pessoas à nossa volta e a ver se existe quem se encontre em falta económica ou espiritual. Podem ser membros da sua família, amigos, colegas ou empregadas domésticas na sua casa, guardas de segurança e trabalhadores de limpeza que encontramos todos os dias, vizinhos solitários, pessoas deficientes ou idosas, trabalhadores não-residentes que perderam o emprego em Macau, desalojados, etc. Lembrai-vos que ensineis os vossos filhos a terem mais cuidado para com os outros, a oferecerem mais generosamente o que tenham em sua posse, tempo e talento, a praticarem a caridade e a compartilharem com os necessitados.
Em Macau, o Governo tomou medidas contra a epidemia, tendo atribuído aos cidadãos residentes 10,000.00 Patacas (6,000.00 Patacas aos residentes não-permanentes) do Plano de Comparticipação Pecuniária, para ajudá-los a ultrapassar as dificuldades económicas, assim como também um cartão de consumo electrónico. Com estas medidas o comércio é beneficiado e muitas famílias são aliviadas do peso da vida, pois podem com o dinheiro que dispõem comprar artigos de uso diário. Devemos ser gratos quando recebemos o cartão, a bem usá-lo e a aproveitá-lo generosamente. Por exemplo, no espírito do dízimo, podemos utilizar parte do dinheiro para comprar artigos diários ou de higiene para os pobres, ou oferecer aos fundos destinados aos países afectados.
Convido todos os fiéis a rezarem pelos pobres de Macau e de todo o mundo, encorajando-vos a ajudar as pessoas necessitadas através de quaisquer meios. Aprendemos o exemplo da viúva pobre no templo que deu tudo o que tinha, do samaritano bondoso, e de outros como a Madre Teresa. Jesus aconselhou-nos: “Em verdade vos digo: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt., 25:40). Todo o nosso acto não é irrelevante em qualquer sentido, seja bom ou mau, pois traz sempre repercussões. Fazemos todos nós parte da história comum, e por isso devemos trabalhar juntos para enfrentar esta calamidade que açoita o mundo inteiro.
A Diocese de Macau, através da Cáritas Macau, proporciona ajuda e apoio em diferentes níveis às sociedades de Macau e do estrangeiro durante esta luta contra a pandemia. A Cáritas Internacional foi um dos primeiros grupos que se juntaram à Comissão para o Surto de Coronavírus, mandada formar pelo Papa Francisco, e também fundou, juntamente com o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, o CRF (COVID-19 Response Fund) para auxiliar os países severamente afectados pela pandemia. Além disso, a Universidade de São José estabeleceu um fundo de auxílio para os estudantes internacionais que perderam assistência devido ao novo coronavírus.
Aqui, apelo particularmente a todos que ponham em prática o espírito do dízimo neste momento difícil, para que os residentes de Macau afectados pela pandemia e os trabalhadores não-residentes que viram perdidos os seus empregos e não puderam voltar para casa possam obter os devidos cuidados. Encorajo a todos para que contribuam com quaisquer artigos de primeira necessidade e donativos para a Cáritas de Macau como sinal de solidariedade e cooperação.
Desejo a todos vós boa saúde e que a Graça de Deus esteja sempre convosco.
Bispo de Macau
D. Stephen Lee
1 de Maio de 2020
Festa de São José Operário
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