Voltamos ao abraço do Pai.
Enquanto estamos a olhar e contemplar o rosto do Menino Jesus, que está deitado na manjedoura – Deus omnipotente e Rei transformado em homem sob a forma de um bebé indefeso – experimentamos e testemunhamos, pessoalmente e colectivamente como humanidade, a Misericórdia de Deus. Não há nada que a humanidade precise mais do que a Misericórdia Divina, o amor benevolente e compassivo, que eleva o homem acima da sua fraqueza para a altura infinita da santidade de Deus.
Vou citar aqui algumas palavras e ideias do Papa Francisco, da sua Carta Apostólica “Misericordia et Misera” (MM). “Celebrámos um Ano Jubilar intenso, durante o qual nos foi concedida, em abundância, a graça da misericórdia…”. Mesmo que o Ano Jubilar já tenha acabado e a Porta Santa tenha sido fechada, a Igreja começa uma nova era de misericórdia, um novo tempo de misericórdia e um novo caminho de misericórdia. Todos nós lembramos que os nossos corações são renovados para que a porta da misericórdia dos nossos corações se mantenha aberta com maior fervor. Este é o resultado de “um encontro de dois corações: o de Deus que vem ao encontro do coração do homem… O nosso coração de pedra fica transformado em coração de carne, capaz de amar, não obstante do nosso pecado. Nisto se nota que somos verdadeiramente uma ‘nova criação’: Sou amado, logo existo; estou perdoado, por conseguinte renasço para uma vida nova; fui ‘misericordiado’ e, consequentemente, feito instrumento da misericórdia” (16 MM).
Gostaria que a nossa Diocese respondesse ao chamamento do Papa Francisco para promover a “cultura de misericórdia” (20 MM) nos próximos meses, pelo menos até ao Natal do próximo ano. De uma maneira muito particular, gostaria de dar ênfase à celebração da misericórdia no Sacramento da Reconciliação. É neste Sacramento que “sentimos o abraço do Pai, que vem ao nosso encontro para nos restituir a graça de voltarmos a ser seus filhos” (8 MM). Continuamos a pecar contra Deus e os nossos vizinhos, mas a graça sempre nos precede e assume o rosto da misericórdia que se torna eficaz na reconciliação e no perdão. É neste Sacramento que, quando admitimos os nossos pecados, vemos, reconhecemos, sentimos e abraçamos o grande amor de Deus.
Concretamente, gostaria que os párocos e todos os sacerdotes envolvidos no cuidado pastoral das almas nesta Diocese preguem e ensinem mais sobre a necessidade e a beleza deste Sacramento da Misericórdia aos fiéis. Devem ser mais disponíveis para ouvir confissões. Para facilitar a todos os fiéis o acesso mais fácil ao Sacramento, gostaria incentivar todas as paróquias a fixar um horário de confissão durante a semana e torná-lo conhecido pelos paroquianos. Também pedi a duas paróquias, nomeadamente à Sé Catedral e a Nossa Senhora de Fátima, para terem maior tempo de confissão, bem como serviços penitenciais organizados em preparação para o Centenário da Aparição de Nossa Senhora de Fátima (10 MM).
Encoraje, por favor, todos os seus paroquianos a trazerem amigos, especialmente aqueles que estiverem longe da Igreja, dos Sacramentos, por quanto tempo que seja, para se encontrarem pessoalmente com Deus neste Sacramento da Misericórdia e obterem d’Ele a graça da redenção. “Deixa-nos a ajudar a iluminar o espaço da consciência pessoal com o amor infinito de Deus” (11 MM).
Da mesma forma, convido todos os catequistas dominicais e dos adultos para ensinarem duma maneira mais profunda a doutrina deste Sacramento, organizarem sessões de revisão sobre o assunto e prepará-los bem para recebê-lo regularmente, especialmente no Advento e na Páscoa.
Ao nível pessoal da reconciliação, o Papa Francisco mencionou também na mesma carta que o perdão de Deus “pode ser obtido antes de tudo pelo começo de viver em caridade… a caridade cobre a multidão dos pecados (I Pedro 4:8). Só Deus perdoa os pecados, mas também nos pede que estejamos prontos a perdoar aos outros, como Ele nos perdoa”. Como é triste se não estivermos dispostos a abrir o nosso coração para perdoar. “Prevalecem o ressentimento, a ira, a vingança, tornando a vida infeliz e frustrando o jubiloso compromisso pela misericórdia” (8 MM). A fim de promover a cultura da misericórdia, convido todos os fiéis nos próximos meses a pedir ao Nosso Senhor Misericordioso a ajudar-nos a superar todos os rancores, ressentimentos pessoais e reforçar a reconcilição com eles, um por um, seja familiares, parentes, colegas ou amigos. Se quiser, pode escrever e enviar-me todas estas histórias pessoais de reconciliação, e espero no final do próximo ano publicá-los sob o título “Encontro com o Senhor Misericordioso – Amor e Reconciliação” como prenda de Natal para todos vós.
Peço, por intermédio da ajuda materna de Nossa Senhora, Mãe da Misericórdia, que a alegria, a paz e a bênção do Seu Filho Misericordioso cheguem a todos vós neste Natal e no Ano Novo de 2017.
+ D. Stephen LEE
Bispo da Diocese de Macau