Devemos abandonar o consumismo descontrolado
Por ocasião do Dia Mundial do Comprador, O CLARIM publica a intervenção pronunciada pelo arcebispo D. Charles Daniel Balvo, Observador Permanente da Santa Sé junto dos Organismos das Nações Unidas para o Meio Ambiente e os Povoamentos Humanos, durante a primeira “United Nations Environment Assembly”, realizada em Nairobi no passado mês de Junho.
“Em nome da Santa Sé, apraz-me apresentar-lhe as minhas felicitações por ter assumido a responsabilidade de dirigir os trabalhos desta importante Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
No inicio do passado mês de Maio, a Pontifícia Academia das Ciências e a Pontifícia Academia das Ciências Sociais, num ‘workshop’ comum, tiveram a honra de ouvir a contribuição do senhor Achim Steiner, subsecretário-geral das Nações Unidas e Director Executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. O Papa Francisco teve o prazer de ter encontrado o senhor Steiner e garantido o apoio da Santa Sé à nobre causa do meio ambiente.
No dia 25 do passado mês de Maio em Jerusalém, o Patriarca Ortodoxo de Constantinopla Bartolomeu e o Papa Francisco, numa declaração conjunta, disseram: «É nossa profunda convicção que o futuro da família humana depende também do modo como protegermos – de forma simultaneamente prudente e compassiva, com justiça e equidade – o dom da criação que o nosso Criador nos confiou. Por isso, arrependidos, reconhecemos os injustos maus-tratos ao nosso planeta, o que aos olhos de Deus equivale a um pecado. Reafirmamos a nossa responsabilidade e obrigação de fomentar um sentimento de humildade e moderação, para que todos possam sentir a necessidade de respeitar a criação e protegê-la cuidadosamente».
Portanto, é com alegria que saudamos esta Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente que se reúne pela primeira vez a nível mundial em Nairobi. Hoje todas as nações do mundo estão de acordo em querer encontrar as vias e os modos para respeitar a criação, para a salvaguardar e restaurar onde estiver destruída. A criação – o dom de Deus – une-nos num trabalho comum. Eis já um resultado positivo e que deve ser encorajado.
Uma personalidade de destaque do Quénia – país que hospeda esta Assembleia – que dedicou a própria vida à paz e à salvaguarda do meio ambiente, Wangari Maathai, gostava de dizer: «Se Deus tivesse criado o homem e a mulher no primeiro dia da criação, não teriam sobrevivido». Nós somos parte da natureza e precisamos dos seus recursos para viver, dos animais e das plantas, inclusive das espécies em risco de extinção, dos oceanos e das profundidades marinhas, das montanhas e dos glaciares, das florestas e dos desertos, sintetizando, de toda a magnificência da criação. Por conseguinte, o nosso trabalho é importante.
Vós inseristes no programa desta Assembleia alguns objectivos a ser alcançados a fim de que no futuro o desenvolvimento seja sustentável. A Santa Sé segue os vossos trabalhos com atenção. Encoraja-nos especialmente a vossa preocupação de controlar os consumos a fim de diminuir a produção e preservar os recursos disponíveis para as gerações vindouras. Consumir melhor para produzir menos é certamente uma etapa essencial e positiva.
Contudo, encorajamo-vos a ir além. Vivamos numa sociedade que propõem demasiadas vezes como modelo um consumismo descontrolado, uma volúpia desmedida. Este modelo não pode garantir um futuro sustentável para todos; deve ser abandonado.
Conhecemos a profunda preocupação do Papa Francisco para com os pobres e os excluídos. No centro do compromisso das Nações Unidas há a vontade de desenraizar a pobreza. Para conseguir este objectivo, é necessário salvaguardar a natureza e criar um ambiente agradável no qual viver, isto é possível só com a colaboração de todos, sem exclusão. Os recursos naturais são para todos. Infelizmente, o sistema económico mundial actual, manipulado pelas potências do dinheiro, não favorece esta integração de todos ao serviço do bem comum. A nossa sociedade deve ser reformada e deve considerar as exigências da ética na economia.
Incentivar as empresas e os responsáveis financeiros para que respeitem o meio ambiente é muito louvável. Mas nós gostaríamos de dedicar mais atenção ao terceiro pilar do desenvolvimento sustentável: a dimensão social e também espiritual. Cada homem e cada mulher sem exclusão – criança e idoso, pobre e deficiente – deve poder sentir-se dignificado pelas conclusões dos vossos debates.
A Assembleia Geral das Nações Unidas deu-nos o mandato de propor as decisões boas e corajosas que a comunidade internacional deve adoptar. O futuro da humanidade – o futuro que desejamos – está nas mãos dos responsáveis do mundo inteiro aqui reunidos. Que Deus guie os nossos trabalhos!”