Cristãos e budistas: prevenir e combater juntos a corrupção
Queridos amigos budistas!
Da parte do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, apresentamos-vos as nossas mais cordiais saudações e votos orantes por ocasião do Vesakh. Que esta festa proporcione alegria e paz a todos vós, às vossas famílias e comunidades em todo o mundo.
Este ano gostaríamos de reflectir convosco sobre a necessidade urgente de promover uma cultura livre da corrupção. Este fenómeno, que implica o abuso de posições de poder para um lucro pessoal, quer no sector público quer no privado, tornou-se um escândalo tão difundido no mundo de hoje que as Nações Unidas indicaram 9 de Dezembro como o Dia Internacional contra a Corrupção. Por causa da crescente difusão deste crime hediondo, Governos, organizações não governamentais, mass media e cidadãos em todo o mundo unem-se para o combater. Como líderes religiosos, também nós devemos contribuir para promover uma cultura que seja impregnada de legalidade e transparência.
A intenção de oração do Papa Francisco para o mês de Fevereiro de 2018 foi: «Digamos “não” à corrupção». Ao denunciar «o pecado da corrupção», reconhece que ela se encontra no mundo inteiro entre políticos, homens de negócios e ministros eclesiásticos. No fim quem paga o preço da corrupção são os pobres, observa o Papa. Recordando as palavras de Jesus aos seus discípulos «Quem quiser fazer-se grande entre vós, seja vosso servo» (Mt., 20, 26), o Papa frisa que «o único caminho para sair da corrupção […] é o serviço. De facto, a corrupção provém do orgulho, da arrogância, enquanto o serviço humilha e consiste precisamente na caridade humilde de ajudar os outros» (Meditações matutinas na Domus Sanctae Marthae, 16 de Junho de 2014).
Estimados amigos, como budistas, considerais a corrupção um estado mental doentio, que causa sofrimento e contribui para poluir a sociedade. Identificais três toxinas principais – avidez, ódio e desilusão ou ignorância – como fontes deste flagelo social, que se deve eliminar para o bem do indivíduo e da sociedade. O segundo preceito do Budismo: «Comprometo-me a observar o preceito de me abster de tomar o que não for dado» ensina os budistas a discernir se as coisas das quais tomam posse são deveras indicadas para eles. Se elas tiverem sido subtraídas ilicitamente de outrem, é provável que não é correcto possuí-las. Os ensinamentos e a prática budista não só desaprovam a corrupção mas procuram também transformar o aspecto doentio do estado mental, das intenções, dos usos e das acções dos corruptos.
Todavia, apesar das nossas duas tradições religiosas denunciarem firmemente o mal da corrupção, reconhecemos com tristeza que alguns dos nossos seguidores participam em práticas corruptas, e isto leva à prevaricação, à associação para a corrupção e ao saque dos bens da nação. A corrupção põe em risco a vida porque implica um baixo crescimento económico, investimentos débeis, inflacção, desvalorização monetária, evasão fiscal, desigualdades graves, educação escassa, infra-estrutura de nível inferior e degradação ambiental. Ela ameaça até a saúde e a segurança de indivíduos e comunidades. As pessoas estão escandalizadas com políticos incompetentes e corruptos, com uma legislação ineficiente e com a incapacidade de indagar sobre os casos de corrupção mais relevantes. Surgiram movimentos populistas, às vezes motivados e apoiados pelo fundamentalismo religioso, que protestam contra as violações da integridade pública.
Acreditamos que à corrupção não se possa responder com o silêncio, e que as ideias que começam com boas intenções se demonstrarão inadequadas, excepto se forem postas em prática, e consideramos que actuá-las seja necessário para eliminar a corrupção. Nós, budistas e cristãos, radicados nos nossos respectivos ensinamentos éticos, devemos colaborar para prevenir a corrupção desenraizando as suas causas subjacentes e arrancando a corrupção pelas raízes, onde houver. Neste esforço, o nosso contributo principal será encorajar os nossos respectivos seguidores a crescer na integridade moral e no sentido de igualdade e responsabilidade. O nosso compromisso comum em combater a corrupção deve incluir a cooperação com os meios de comunicação e com a sociedade civil para a prevenir e denunciar; criar uma consciência pública sobre a corrupção; tornar responsáveis pelas suas acções os empregados públicos que se apoderam dos bens nacionais sem considerar as suas afiliações étnicas, religiosas, políticas ou de classe; ensinar e inspirar todos, mas especialmente os políticos e os funcionários das administrações públicas, a agir com a máxima integridade fiscal; exigir os devidos processos legais a fim de recuperar os bens roubados por causa da corrupção e entregar à justiça os responsáveis de tais delitos; encorajar mais mulheres a participar na política; negar a atribuição de cargos públicos a quantos estão envolvidos em actividades ilegais; e criar instituições transparentes e inclusivas baseadas na legitimidade para a boa governação, a responsabilidade e a integridade.
Queridos amigos, comprometamo-nos activamente a promover nas nossas famílias e instituições sociais, políticas, civis e religiosas um ambiente isento de corrupção para viver uma existência honesta e íntegra. Com este espírito, desejamos-vos novamente uma pacífica e jubilosa festa de Vesakh!
Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso
Cardeal D. Jean-Louis Tauran
Presidente
Miguel Ángel Ayuso Guixot, MCCJ
Bispo secretário