Médiuns e Espiritismo nas Filipinas

A fé criadora de sincretismos

É após a chegada de Fernão de Magalhães às Filipinas que os dotes dos curandeiros-da-fé locais se tornam conhecidos no mundo ocidental. Só que as curas, em vez de serem isso mesmo, passam a chamar-se milagres e a estatuária cristã vem substituir as divindades anímicas locais. O conceito de Espírito Santo, no entanto, mantém-se sempre muito próximo das entidades ligadas à natureza, adoradas pela população local. No fundo, a chegada do navegador português vem apenas dar nova terminologia ao sistema de crenças já existentes. A estátua de Jesus criança passa a ser a imagem mais venerada em todo o arquipélago e o último refúgio das pessoas em desespero.

As diversas formas de tratamento desenvolvem-se à medida que o movimento espiritualista vai influenciando as regiões tradicionalmente católicas. Como é o caso da região de Pangasinan, no Norte do País. A Unión Espiritista Cristiana de Filipinas é então fundada, com base nos milagres do Cristianismo.

O primeiro médium espiritista a praticar cirurgia-psíquica é Eleuterio Terte, conhecido curandeiro-magnético que tinha o poder de adivinhação através dos veios de água. A partir de 1948 muitos outros curandeiros surgem na cena filipina. Todos relatam experiências sobrenaturais que os conduzem ao trilho da cura pelo magnetismo. Iluminados pelo Espírito Santo, deixam-se guiar por ele. Todo o seu trabalho está ligado à Igreja e é desprovido de qualquer interesse material. Só na década de 60, com o aparecimento de Tony Agpaoa e, mais tarde, Jun Labo, surgem duras críticas ao aproveitamento comercial do ofício e à vida mundana destes dois últimos curandeiros. A partir daí as opiniões dividem-se. Uns defendem-nos, outros atacam-nos. Muita gente deixa de acreditar nos “milagres”. O poder dos curandeiros, de certa forma, fica desacreditado.

As técnicas de cirurgia psíquica variam consoante as diferentes especializações dos cirurgiões, mas todos eles entregam-se a Deus antes do início das operações através de preces feitas em frente ao altar da capela existente nas clínicas. Segundo os espiritistas, alguns dos cirurgiões são dentistas-psíquicos capazes de extrair dentes sem anestesia ou qualquer dor no paciente. Há quem use as mãos para penetrar o corpo. Outros são capazes de projectar energia através dos dedos, a trinta centímetros de distância, e operar o paciente sem tocar o corpo. Outros ainda introduzem pedaços de algodão através da pele e retiram-nos do outro lado do corpo. Muitos deles, no entanto, tornaram-se conhecidos pela utilização de diferentes instrumentos, tais como facas e abre-cartas. E não só nas Filipinas. É mundialmente conhecido José Arigó, o curandeiro brasileiro mundialmente conhecido como o “cirurgião da faca ferrugenta”.

Joaquim Magalhães de Castro

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